Por Carlos Sena (*)
Tem coisas que a gente sabe, mas
não devia:
A gente sabe que a maioria dos
políticos se elege pra se dar bem. Gastam milhões para serem eleitos, mas
depois querem de volta com os lucros correspondentes. A gente sabe e vota, mas
não devia.
A gente sabe que eles não gostam
de crianças, mas nas eleições o que eles mais fazem é posar na televisão com
crianças, principalmente pobres, de favelas. Mas a gente não devia permitir que
nossos filhos se prestassem a isto.
A gente sabe que quase todos são
santos do pau oco, mas que quando se elegem não fazem nada por nós, os
pecadores do pau maciço... A gente sabe, mas vota, mas não devia.
A gente sabe que os grupos
empresariais bancam determinados candidatos que, quando eleitos por nós vão pra
lá defender os interesses das empresas que financiaram suas campanhas. A gente
sabe, mas não devia votar neles, nem
consumir os produtos dessas empresas.
A gente sabe que tem candidato do
partido verde que amarela. Mas continuamos votando neles e acreditando que
SEJAM são mesmo vermelhos, mas não devíamos.
A gente sabe que tem candidato
que se diz estrela, mas quando eleitos não passam de cometa: cometem roubo,
cometem mensalão, cometem improbidades mil. A gente sabe mas não devia saber.
A gente sabe que tem candidato
ave: tucano, (mais CANO no povo do que benefício no TU), por exemplo. Mas
quando eleitos, diante de uma calamidade, de uma enchente, de uma tragédia, só
sabem dizer AVE, Ave Maria! E nada mais. A gente sabe, mas não devia.
A gente sabe que tem candidato
que fora da eleição detesta puta, viado, sapatão, negro e pobre. De lambujem
ainda odeiam macumbeiros, xangozeiros, farofeiros, negros, etc., mas pra ganhar
votos viram zen, viram, tiram até as calças pra dar aos pobres (se as calças
não forem deles), mas depois de eleitos, tudo isto vira epidemia que eles
correm pra não se contaminar. A gente sabe, mas não devia.
A gente sabe que tem gente pra
tudo, e tem político que mesmo não sendo gente a isto se presta. A gente sabe,
mas não devia.
A gente sabe que não precisava da
lei da ficha limpa porque essa função poderia ser nossa e, dessa forma, a
faxina moral a gente mesmo fazia. A gente sabe, mas vota nos corrutos, mas não
devia.
A gente sabe tudo, mas não devia.
Não devia, porque deveríamos deixar de bancar o avestruz que, vencido pelo
caçador no seu encalço, enfia a cabeça
dentro da terra e deixa o cu pra cima como que tendo certeza que vai tomar na
tarraqueta, certamente. E toma e gosta.
Gosta? Há quem goste mas muitos não!
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 17/08/2012
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