Por Carlos Sena (*)
Nos meus tempos de criança, o
Natal era a festa que mais me deslumbrava. Eu gostava tanto dele que mal
passava dezembro eu já estava perguntando pra minha mãe quando o natal
novamente ia chegar. Ele chegava e novamente minha espera se renovava
sucessivamente por muitos outros anos.
Hoje, distante, sem mais cheiro
de terra molhada, sem mais pipas para empinar, sem mais sonhos a ladrilhar eu
não espero mais por ele. Os natais de hoje vem sem eu querer ou apesar do meu
querer.
Espero hoje pelo sorriso do meu
amor, sem que ele saiba. Meio que juvenil, o sorriso do meu amor me enche a
sala, resvala no coração e dorme no mesmo travesseiro.
Espero hoje por um beijo atrevido
do meu amor. Beijo atrevido é bom porque não cansa, nem perde o gosto de boca
que se quer na outra boca com refluxos de paixão. Por isso espero.
Espero um final de semana sem
alarde, para que eu possa nada fazer só pra fazer uma comidinha caseira para o
meu amor comer e olhar pra mim feliz da vida por nada.
Espero hoje pelos segundos.
Cansei das horas porque as horas de tanto correrem nos atormentam, diferente
dos segundos. Esses me dão a certeza da sombra das horas que não descansam
senão nos seus encostos.
Espero, nesse entardecer da
existência, a clemencia nem sempre explícita no rosto dos homens do meu atempo.
Tempo de modernidade, mas de atraso em cada riso falso que se finge de
verdadeiro; tempo de gente formosa por fora, mas carcomida por dentro pela
falsidade e pelo egoísmo tresloucado.
Espero, igualmente, pela própria
esperança disfarçada em cada afago às avessas; em cada noite sem pressa; em
cada desilusão consentida... E porque eu espero mesmo quando o desespero me
bate a porta, a voz me solta da garganta, os olhos me saltam rumo ao infinito,
então eu vejo quanto é bonito esperar que meu amor se acorde só pra me olhar,
piscar o olho e voltar novamente em busca do sono perdido...
Assim, sem os natais de outrora,
deito e rolo em cada cena que traduz meus desesperos. Meus natais se foram
todos rumo ao destino dos ventos. Por isto eu espero que eles não se vão do meu
imaginário... Porque a espera é difícil, mas eu espero cantando....
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 15/08/2012
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