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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Meritocracia, cotas e o futuro reprovado





Por Zezinho de Caetés

Eu li num blog que, durante a cerimônia para sanção das Lei de Cotas para as universidades públicas, a certa altura nossa presidenta saiu-se com esta frase:

“Nada adianta manter uma universidade fechada e manter a população afastada em nome da meritocracia. De nada adianta abrir a universidade e não preservar a meritocracia”.

Eu li e reli a frase, procurando um sentido, um rumo, algo compreensível e não consegui nada. Aliás, todos já sabem que, se fosse pela sua capacidade de falar, nossa presidenta não teria mérito nenhum. Mas, ela está se virando como pode nesta atmosfera de crise, para mostrar que seu antecessor e mestre estava com a razão quando batizou a crise de “marolinha”. No entanto, de meritocracia ela parece não entender nada, ou, então deixou apenas se levar mais uma vez por seu ministro da educação, o mercador de ideias.

Soube que ela sancionou a lei, que já comentamos aqui, e vetou o artigo que propunha ser a avaliação dos nossos pobres, índios e pardos, candidatos à universidade pública, pelo seu desempenho na própria escola; agora é pelo ENEM. Quando ouço este nome, os problemas que dele surgiram anteriormente, quando da avaliação dos vestibulando, chega me arrepiar. Trocou-se 6 por meia dúzia. E neste caso, a emenda foi pior do que o soneto.

Agora vai ter o ENEM dos pobres, índios e pardos e o ENEM dos outros. Enquanto, provavelmente, estes terão notas altas, aqueles terão notas baixas. E ambos entrarão na universidade em condição de desigualdade extrema, como na sua vida. Ao invés de privilegiar o aperfeiçoamento da educação básica para todos, eliminando a dicotomia entre estes dois segmentos, agora dar-se ênfase a eles e se espera diluí-los na própria universidade.

Vocês já pensaram o que será dos nossos pobres, dentro de uma sala de aula, tentando fazer a mesma coisa que os ricos, que partiram de realidades tão diferentes? Todos verão, inclusive os pobres, que esta solução “ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”. Uma universidade onde a meritocracia não seja o padrão de avaliação, não pode funcionar a contento porque o objetivo principal dela é usar eficientemente as diferenças. Não há força humana que possa nivelar as pessoas igualmente, a não ser perante a lei, que já deve trazer em seu bojo a noção de desigualdade se quiser que ela seja justa e exequível. O mito socialista do homem igual é apenas um mito, e vimos o que sucedeu com todas as nações em que se tentou aplicá-lo.

Para não ir muito longe, podemos imaginar a desigualdade que reina em Cuba e que existiu noutros países, que tentaram o socialismo, onde existem 90% comendo uma vez por dia enquanto uma burocracia partidária mostra suas panças cheias em suas dachas. Pode-se dizer que eles tiveram mérito para estar lá enquanto subjugaram os outros, e hoje se jactam de que o povo é todo igualzinho, todos comem a lavagem dos seus porcos.

Entretanto, basta de ser genérico e enfrentemos, com o senador Cristovam Buarque, o que poderá ser o futuro do Brasil e de seu sistema educacional, transcrevendo um texto seu chamado propriamente de “Futuro reprovado”, publicado em 25.08.2012 no Blog do Noblat, e que trata do que deveria ser prioritário, a educação de base, e não tentar resolver a situação através do artifício de cotas, que neste caso, tenho certeza, vai apenas viciar nossos cidadãos pobres, se antes não lhe matar de vergonha. Fiquem com o senador.

“O Brasil foi reprovado no vestibular para o futuro. Porque o futuro tem a cara de sua escola no presente.

Nas últimas séries do nosso Ensino Fundamental, as escolas públicas, onde estuda a maior parte de nossos alunos, a média do IDEB –Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - foi de 3,9. As escolas particulares foram aprovadas, mas com a sofrível nota 6. A média ponderada pelo número de alunos é de 4,1, envolvendo 1,8 milhões de alunos nas particulares, com a média 6,0, e 12,4 milhões de alunos, nas públicas, com média 3,9.

No Ensino Médio, a média ponderada, incluindo as particulares é de 3,7.

Além da reprovação geral, o IDEB mostra que o Brasil é dividido pela desigualdade na educação dos filhos dos pobres e dos filhos das classes médias e altas.

Na mesma semana, o Jornal Nacional da Rede Globo mostrou a situação de nossas escolas, passando a sensação de que assistíamos a notícias de um terremoto, que está a devastar nosso futuro.

Outro programa, o “CQC”, da Rede Band, mostrou escolas em uma cidade do Piauí, certamente piores do que as piores do Mundo. Foi possível ver o futuro. E não pareceu bonito.

Apesar disso, o MEC comemorou os resultados e ainda divulgou nota à imprensa, no dia 14 de agosto, dizendo que “O Brasil tem motivos a comemorar”.

O Ministro está no cargo há apenas oito meses e não tem culpa por este desempenho, mas deveria reconhecer a tragédia, a vergonha e convencer a presidenta da República a fazer pela educação o esforço que vem fazendo na economia.

A presidenta precisa entender a gravidade da falta de infraestrutura educacional, ainda maior do que foi a falta de infraestrutura física, e convocar todo o País a se empenhar por uma urgente Revolução na Educação de Base.

Enquanto o Brasil traça meta para o IDEB alcançar a nota 6,0, em 2021, a China está programando voo tripulado à Lua, antes de 2020.

Análise mais cuidadosa mostra que, na média, as escolas públicas federais se saem melhor do que as particulares. A melhor nota, 8,6, foi obtida por duas escolas particulares: Escola Santa Rita de Cássia e Escola Carmélia Dramis Malaguti conseguiram o primeiro lugar com nota 8,6. Logo em seguida uma pública federal; o Colégio de Aplicação da UFPE teve nota 8,1; e a média das públicas federais do Ensino Fundamental (6,3) foi superior a das escolas particulares (6,0).

Isso mostra que o caminho para fazer a revolução educacional que o Brasil precisa passa pela ampliação da presença federal na Educação Básica. A Federalização exige um Ministério para cuidar apenas da Educação Básica; a implantação de uma Carreira Federal para os professores; e a responsabilidade da União sobre a qualidade de cada escola, todas em horário integral. Isso pode ser feito por cidade, chegando a todo o Brasil no prazo de 20 anos.

Isto pode ser feito. Até porque o futuro tem a cara de sua escola no presente. E a cara de nossas escolas mostra um futuro reprovado.”

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