Por Zezinho de Caetés
Eu li num blog que, durante a cerimônia para sanção das Lei
de Cotas para as universidades públicas, a certa altura nossa presidenta
saiu-se com esta frase:
“Nada adianta manter
uma universidade fechada e manter a população afastada em nome da meritocracia.
De nada adianta abrir a universidade e não preservar a meritocracia”.
Eu li e reli a frase, procurando um sentido, um rumo, algo
compreensível e não consegui nada. Aliás, todos já sabem que, se fosse pela sua
capacidade de falar, nossa presidenta não teria mérito nenhum. Mas, ela está se
virando como pode nesta atmosfera de crise, para mostrar que seu antecessor e
mestre estava com a razão quando batizou a crise de “marolinha”. No entanto, de meritocracia ela parece não entender
nada, ou, então deixou apenas se levar mais uma vez por seu ministro da
educação, o mercador de ideias.
Soube que ela sancionou a lei, que já comentamos aqui,
e vetou o artigo que propunha ser a avaliação dos nossos pobres, índios e
pardos, candidatos à universidade pública, pelo seu desempenho na própria
escola; agora é pelo ENEM. Quando ouço este nome, os problemas que dele
surgiram anteriormente, quando da avaliação dos vestibulando, chega me
arrepiar. Trocou-se 6 por meia dúzia. E neste caso, a emenda foi pior do que o
soneto.
Agora vai ter o ENEM dos pobres, índios e pardos e o ENEM
dos outros. Enquanto, provavelmente, estes terão notas altas, aqueles terão
notas baixas. E ambos entrarão na universidade em condição de desigualdade
extrema, como na sua vida. Ao invés de privilegiar o aperfeiçoamento da
educação básica para todos, eliminando a dicotomia entre estes dois segmentos,
agora dar-se ênfase a eles e se espera diluí-los na própria universidade.
Vocês já pensaram o que será dos nossos pobres, dentro de
uma sala de aula, tentando fazer a mesma coisa que os ricos, que partiram de
realidades tão diferentes? Todos verão, inclusive os pobres, que esta solução “ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão”.
Uma universidade onde a meritocracia não seja o padrão de avaliação, não pode
funcionar a contento porque o objetivo principal dela é usar eficientemente as
diferenças. Não há força humana que possa nivelar as pessoas igualmente, a não
ser perante a lei, que já deve trazer em seu bojo a noção de desigualdade se
quiser que ela seja justa e exequível. O mito socialista do homem igual é
apenas um mito, e vimos o que sucedeu com todas as nações em que se tentou
aplicá-lo.
Para não ir muito longe, podemos imaginar a desigualdade que
reina em Cuba e que existiu noutros países, que tentaram o socialismo, onde
existem 90% comendo uma vez por dia enquanto uma burocracia partidária mostra
suas panças cheias em suas dachas. Pode-se dizer que eles tiveram mérito para
estar lá enquanto subjugaram os outros, e hoje se jactam de que o povo é todo
igualzinho, todos comem a lavagem dos seus porcos.
Entretanto, basta de ser genérico e enfrentemos, com o
senador Cristovam Buarque, o que poderá ser o futuro do Brasil e de seu sistema
educacional, transcrevendo um texto seu chamado propriamente de “Futuro reprovado”, publicado em
25.08.2012 no Blog do Noblat, e que trata do que deveria ser prioritário, a
educação de base, e não tentar resolver a situação através do artifício de
cotas, que neste caso, tenho certeza, vai apenas viciar nossos cidadãos pobres,
se antes não lhe matar de vergonha. Fiquem com o senador.
“O Brasil foi reprovado no vestibular para o futuro. Porque o futuro
tem a cara de sua escola no presente.
Nas últimas séries do nosso Ensino Fundamental, as escolas públicas,
onde estuda a maior parte de nossos alunos, a média do IDEB –Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica - foi de 3,9. As escolas particulares foram
aprovadas, mas com a sofrível nota 6. A média ponderada pelo número de alunos é
de 4,1, envolvendo 1,8 milhões de alunos nas particulares, com a média 6,0, e
12,4 milhões de alunos, nas públicas, com média 3,9.
No Ensino Médio, a média ponderada, incluindo as particulares é de 3,7.
Além da reprovação geral, o IDEB mostra que o Brasil é dividido pela
desigualdade na educação dos filhos dos pobres e dos filhos das classes médias
e altas.
Na mesma semana, o Jornal Nacional da Rede Globo mostrou a situação de
nossas escolas, passando a sensação de que assistíamos a notícias de um
terremoto, que está a devastar nosso futuro.
Outro programa, o “CQC”, da Rede Band, mostrou escolas em uma cidade do
Piauí, certamente piores do que as piores do Mundo. Foi possível ver o futuro.
E não pareceu bonito.
Apesar disso, o MEC comemorou os resultados e ainda divulgou nota à
imprensa, no dia 14 de agosto, dizendo que “O Brasil tem motivos a comemorar”.
O Ministro está no cargo há apenas oito meses e não tem culpa por este desempenho,
mas deveria reconhecer a tragédia, a vergonha e convencer a presidenta da
República a fazer pela educação o esforço que vem fazendo na economia.
A presidenta precisa entender a gravidade da falta de infraestrutura
educacional, ainda maior do que foi a falta de infraestrutura física, e
convocar todo o País a se empenhar por uma urgente Revolução na Educação de
Base.
Enquanto o Brasil traça meta para o IDEB alcançar a nota 6,0, em 2021,
a China está programando voo tripulado à Lua, antes de 2020.
Análise mais cuidadosa mostra que, na média, as escolas públicas
federais se saem melhor do que as particulares. A melhor nota, 8,6, foi obtida
por duas escolas particulares: Escola Santa Rita de Cássia e Escola Carmélia
Dramis Malaguti conseguiram o primeiro lugar com nota 8,6. Logo em seguida uma
pública federal; o Colégio de Aplicação da UFPE teve nota 8,1; e a média das
públicas federais do Ensino Fundamental (6,3) foi superior a das escolas
particulares (6,0).
Isso mostra que o caminho para fazer a revolução educacional que o
Brasil precisa passa pela ampliação da presença federal na Educação Básica. A
Federalização exige um Ministério para cuidar apenas da Educação Básica; a
implantação de uma Carreira Federal para os professores; e a responsabilidade
da União sobre a qualidade de cada escola, todas em horário integral. Isso pode
ser feito por cidade, chegando a todo o Brasil no prazo de 20 anos.
Isto pode ser feito. Até porque o futuro tem a cara de sua escola no
presente. E a cara de nossas escolas mostra um futuro reprovado.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário