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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CONVERSA DE INTERIOR

Rua do Jacaré - Caçote


Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Dona Umbelina e Dona Quitéria, eram duas amigas inseparáveis. Moravam vizinhas há mais de 40 anos na Rua Jacaré. Todos os dias, no final da tarde, colocavam cadeiras na calçada a sombra e se deliciava com a brisa, enquanto o sol se vai desaparecendo entre as torres da igreja matriz.

Ali, naquele recanto sagrado, elas comentam toda noticia que ocorre naquele lugarejo, longe do burburinho da cidade grande. Gostava das novelas e repórteres da televisão. Não tinha preferência por nenhum canal. Vasculhava todos os que mais lhe agradava ficava assistia e depois comentava na mesa do café ou na conversa na sala de visita o ocorrido. Via todas as pessoas passarem para irem ao centro, cumprimentando uma a uma com uma “Boa Tarde”.

Os seus netos as crianças da vizinhança brincavam de roda, as meninas, enquanto os meninos de “pega” De vez em quando uma delas gritava:

Cuidado meninos para não cair e se ferir.

Aí, os meninos sorrindo corria ainda mais.

Caçote era uma pequena cidade que abrigava mais ou menos dez mil pessoas. Todos se conheciam, do mais rico ao mais pobre.  As conversas eram as mais variadas desde, os acontecimentos na igreja, no comércio e na política, ali elas compartilhavam e às vezes com algumas pessoas que passavam e ali permanecia ouvindo e participando da conversa e ao mesmo tempo informando às novidades que Dona Umbelina e Dona Quitéria não sabiam.

Numa destas tardes, estavam sentadas, na calçada quando passou o sapateiro, morador no final da mesma rua, para comercio, para comprar cola de sapato, o Seu Alfredo, reconhecido pelo seu belo trabalho na recuperação dos sapatos de cavalheiros e senhoras da localidade.

- Seu Alfredo venha até aqui, chamou uma das senhoras.
- Seu Alfredo, parou, olhou para as duas que estavam tricotando.
- Boas tarde.
- Viu o que aconteceu?

Não sei não, respondeu o Seu Alfredo

Eu já tinha falado para a comadre aqui, que o mundo é das mulheres e ninguém tira isto.

Seu Alfredo coçou a orelha e tirou um papelote branco colocou fumo tirado de uma latinha de rapé, e enrolou fechando com a língua molhada e acendeu.

Deu um trago. Olhou para o relógio e conferiu o horário e respondeu.

- Parece que sim. As mulheres hoje estão em alta, com certeza.
- É tanto que hoje temos uma mulher na presidência da Republica do Brasil, coisa nunca vista, mas o que fazer, acrescentou o sapateiro.

No meu tempo, disse Dona Umbelina, o homem era por cima, hoje, é a mulher que está por cima, riu.

É uma verdade, acrescentou olhando para o cigarro

 Sentou-se no meio fio, e disse nos dias atuais minhas queridas senhoras, o homem deseja ser mulher e as mulheres desejam serem homens. Não vê Dona Umbelina e Dona Quitéria a safadeza que existe na televisão. A Senhora viu um desfile de homens vestidos de mulheres, com trejeitos femininos desfilando pelas ruas de São Paulo?  Até o Governador e o Prefeito estão no meio destes desavergonhados rindo.  E estes desfiles estão tomando conta de todas as cidades.

É uma pouca vergonha, não é?

Nestes dias aqui também em Caçote.

Deus me livre duma desgraça desta, disse Dona Quitéria. O meu falecido marido, o Joaquim, que Deus o tenha, os seus ossos vão se remexer no Cemitério de Santa Paula.

E se benzeu.

Olhando para a comadre, disse: Eu acredito que teu falecido marido, o João também não aprovaria esta pouca vergonha, não é?

E continuou, falando para o seu Alfredo:

Pois, é o mundo é das mulheres. Elas estão em todos os postos, até na Presidência, viu Seu Alfredo. Todos de cabeça baixa, até os grandalhões do Exercito, da Marinha e da Aeronáutica batem continência para ela, onde já se viu isto?

É muito constrangedor um homem se rebaixar a isto. No nosso tempo isto não acontecia, era o homem que era Prefeito, Governador e Presidente do Brasil. Mas, eu acredito que as coisas vão melhorar, pois, a mulher tem tino melhor do que o homem. Não é me gabando, não, mas muitas vezes aconselhei a Joaquim a tomar certas decisões. E ele tomando o meu conselho acertava em cheio.

Seu Alfredo viu como as filhas do Seu Arnóbio vivem? Vivem por ai bebendo nos barzinhos daqui, como se fossem homens e, os homens é que gostam, pois soltam lorotas a todo instante, uns olhando para o outro e rindo. Os vestidos são muitos curtos. Quando se reclama, elas dizem aos pais, quem quiser que veja, mas ninguém toca até eu deixar. Não é pouca vergonha, onde já se viu, no meu tempo, a mulher andar de andanças pelos recantos onde somente tem homens e se vestindo deste jeito?

Pois é, Dona Umbelina e Dona Quitéria, os tempos mudaram e ninguém segura mais o ímpeto das mulheres, elas estão soltas por ai. Quando se dá uma desgraça na cidade, todos falam isso e aquilo, os pais não dão educação, não freia o impulso destas jovens e assim por diante.

Seu Alfredo se despediu e se dirigiu para o comércio com o anoitecer, com a lua cheia no céu estrelado, enquanto das duas vizinhas entravam para casa carregando as cadeiras a fim de rezar o terço e após o café ir para igreja para a novena que estava acontecendo em louvor ao padroeiro São Benedito.

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