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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OS CORONÉIS ELETRÔNICOS



Por Carlos Sena (*)

Houve um tempo em que alguém mandava na política. Por conseqüência, as pessoas sempre eram mandadas, "paus mandados", como ainda se dizem no popular. No Brasil isto talvez tenha representado a instituição do voto de cabresto, expressado pelos coronéis de plantão sob as mais diversas denominações. Especificamente no nordeste, os coronéis deitavam e rolavam. O voto era uma arma por eles utilizada para seus intentos pessoais em detrimento do interesse coletivo. Em Pernambuco, dois coronéis foram os últimos dessa era: José Abílio Ávila, na cidade de Bom Conselho; Chico Heráclito, na cidade de Limoeiro. Em Bom Conselho, até Lampião lhe pedira autorização para passar por lá, segundo se comenta. Mas o comando da cidade era duro: de um lado, José Abílio, do outro, Padre Alfredo Dâmaso. O mais intrigante em tudo isto era o respeito que tinham um pelo outro. Os engalfinhamentos entre eles dificilmente chegavam ao conhecimento das pessoas. Contudo, os limites de comando eram bem claros: na igreja, Pe. Alfredo casava e batizava, literalmente. Na política, só o Coronel. Por outro lado, há quem assegure que o coronel, quando queria alguma coisa da igreja, "comia pelas beiradas feito papa" até conseguir e vice versa. Era como se ambos se entendessem em surdina. O grande diferencial de Padre Alfredo é que, diferente de hoje, não saia da sua igreja para subir em palanque de políticos, como o fazem hoje alguns padres e pastores.

Mas como "não há bem que nunca se acabe nem mal que sempre dure", as coisas mudaram nos currais eleitorais. Talvez camaleonicamente, mas mudaram. Talvez sem o codinome de coronel, mas mudaram. Com certeza mudaram no quesito dominação do voto: o cidadão demorou, mas entendeu que sua arma de mudança é o voto. Não deve ser exagero se dissermos que os coronéis atuais são modernos, mas sem controle remoto. A voz deles é via internet, TV, rádio, jornal, etc., mas sem o "cabresto" na mão, como antigamente. Ao vivo e ainda com alguma inserção nas comunidades, especialmente as mais pobres, os cabos eleitorais  fazem um pouco do papel dos coronéis de outrora. Como se observa, a hierarquia da politiquice é ditatorial, militar, daí CORONEL, CABO, etc.

Não podemos ignorar que o mundo moderno nos trouxe as bases que nos permitiram acabar, quase completamente, com o voto de cabresto e com os coronéis. A industrialização, a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a globalização, a rapidez e eficiência das comunicações, acima de tudo o acesso a educação, são principais responsáveis por este novo momento que o mundo passa, positivamente. Neste cenário fica difícil, de fato, exercer antigos poderes de controle do voto e das pessoas. Os coronéis de hoje mudaram de nome: grupos políticos! Eles são os fazedores de projetos políticos, mas o povo sabe distinguir se esses projetos são eleitoreiros ou não. Vigilante desses grupos está o povo no seu livre direito de votar, mesmo no interior do Brasil, nos conhecidos grotões. Com o voto eletrônico, o "cabresto" foi morto e enterrado. Afinal, como saber quem votou em quem como nos tempos da cédula de papel?  – Era comuníssimo os políticos comprarem votos em duas prestações: metade antes do voto e metade depois da eleição apurada. Por quê?  – Como o voto era em papel, os "coronéis ou assemelhados"  tinham formas próprias de saber quem votou em quem.

Os tempos, de fato, mudaram pra melhor neste sentido. Hoje, os grupos políticos têm poderes limitados pela sabedoria popular. O povo deixou de ser besta: a escola, a internet, os veículos e meios de comunicação sociais estão aí a serviço de todos. Isto, grosso modo, tem levado o povo a descobrir quem mente e quem fala a verdade, mesmo nos grotões; o que é fato e o que é factóide; o que é verdade e o que é mentira. Ilustrando isto, atribui-se a Agamenon Magalhães a frase "EM POLÍTICA, FEIO É PERDER"... Esse maquiavelismo está superado. Senão em sua totalidade, mas no tamanho que pode nos regozijar com o nosso voto. Ele é a arma do nosso veto. A lei da ficha limpa é a nossa mais perfeita tradução: ela saiu do povo para o congresso nacional. O presidente LULA sancionou e priu!
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(*) Publicado no Recanto das Letras em 22/10/2010

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