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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

BODEGA DE SEU CHICO


Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Seu Chico era um homem bem de vida e com a vida. Conhecido no povoado como um benfeitor ajudava os pobres no que eles precisavam fiando algumas compras em cadernetas que era acertado pelos moradores no final de cada mês quando recebiam seus salários na Prefeitura ou quando mesmo apurava algum dinheiro na feira livre aos sábados. Tinha um armazém, que as pessoas chamavam de bodega de seu Chico. Vendia-se de tudo um pouco. Era conhecido como benfeitor no povoado Ligeirinho. Todo final de tarde ali naquele recinto se reunia os homens da cidade e aqueles que vinham dos roçados, para tomar alguns aperitivos e jogar conversas fora, como dizia Napoleão, “falar um pouco da vida alheia, que não era pecado e sim um desabafo”. Ali, enquanto bebericavam, as senhoras iam fazer às pequenas compras, o pão, a manteiga, o arroz, o açúcar, o feijão, a carne de charque e, elas olhavam aqueles homens ali sentados em tamboretes ou vezes em cima de saco de farinha, de feijão, que se encontravam encostados na parede a contar anedotas e causos conhecidos nas redondezas.

Seu Chico entretido em despachar os fregueses no balcão da madeira corrediça, com uma balança antiga, com alguns pesos ao lado, ouvia alguns comentários dos seus fregueses de fim de tarde.

O seu Olavo era um dos que falava mais alto e dizia:

- Cícero tu viste a sacanagem que fizeram com a gente?
- Não!  respondeu 
- Pois, é meu velho, os homens de Brasília, aumentaram os seus pequenos salários em mais de 60%, o que é uma vergonha, não é? Olhando para os demais que ouvia.

Porfírio, que acabava de tomar um trago da aguardente Galo Preto, cuspiu e disse:

- Brasília é o lugar que se encontra mais ladrão e ladrão de gravata. Se a policia gritar pega o ladrão, não fica um.
- Todos riram.

Josué sentado no tamborete alto, com o copo na mão assegurou: mais isto é culpa nossa que votamos nestes canalhas, que se beneficia sempre, alterando a voz para que todos pudessem ouvir.

- Cícero disse: é mais tu vota toda vez, não é?
- A eu voto porque sou obrigado. Sempre disse e repito nas próximas eleições eu não vou votar mais em ninguém, certo? E disse, olhando para o pedreiro.
- Olavo você ouviu o que foi que o nosso prefeito prometeu? Prometeu melhorar a nossa escola, dar um posto de saúde, calçar o centro deste bendito povoado e de algumas ruas, colocarem água nas casas e aumentar a luz elétrica pra bandas do Alto do Cuscuz, e o que aconteceu?

Nada! Então tu tiras por aqui respondeu: Cadê o dinheiro que chegou à Prefeitura? Ninguém sabe e ninguém viu. Tudo esta do mesmo jeito ou pior ainda.

- Porfírio que acabava de chegar e acendendo um cigarro e baforando para o alto.

Todos calçam o mesmo sapato, é farinha do mesmo saco. Eu votei em branco e vou continuar assim, pois não me fio a nenhum destes camaradas, que somente se aproxima do povo na época da votação. Vem abraçando a todos, pega crianças no colo, abraço e beija, senta-se em tamborete, entra em casas de taipas, toma café requentado, come rapadura e farinha, tudo isto para ganhar votos dos bestas, eu não fio neste pessoal eles prá lá e eu prá cá.

Todos concordaram.

Pedindo mais uma rodada ao Seu Chico que despachava no balcão e de vez em quando interferia pedindo que eles falassem mais baixo.

Chegou seu Biu da Cocada, que atravessava o povoado vendendo as suas cocadas pretas e branquinhas pelas ruas de porta a porta. Sabiam de tudo. Era o mais informado das coisas que aconteciam em Ligeirinho. Muitos não acreditavam no que ele contava, mas muitas dos fatos eram verdades. Gostava de engrandecer e fazer gestos enquanto dava a noticias.

Vocês sabem da maior?

Todos ficaram esperando a noticia.

A filha de Seu João da Bica que mora no final da Rua do Cajueiro, fugiu com o namorado da Cidade.

Todos dizem que ela já estava embuchada. Perdeu a virgindade tão logo começou a namorar com tal sujeitinho Álvaro filho de um comerciante. Neste dias ele a deixa. Pobre se ajuntando com rico dá em que?

Já pensaram.

O vozerio começou a tomar conta da bodega Seu Chico.

Todos comentavam o assunto.

Cada um fazia a sua avaliação. Uns falavam que aquela “agarração” no terraço escuro não sairia bem. Outros já tinham alertado a Seu João sobre chumbrega, mais o que ele fez?

Nada.

Tai o resultado, um embuchamento.

 Seu Biu lá no seu canto somente ouvia os comentários, tomando a sua dose de aguardente e cuspindo no chão.

Seu Chico olhou para o relógio da parede. Conferiu com o horário com o seu de algibeira preso ao cinto por uma corrente de ouro, e disse:

Meus amigos por hoje só. Vou fechar a minha bodega. Está na hora. Apontando para o relógio que marcava sete meia da noite.

As luzes do povoado já tinham acendido e a noite clara pela lua cheia lá no alto, no céu azulado com estrelas piscando.

Todos se levantaram, pagaram a conta e seguiram cada um para suas casas, se preparando para o outro dia.

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