Aedes aegypty |
Por Zé Carlos
Ontem pela manhã, como o faço todos os dias, antes de qualquer ação maior, eu leio um jornal que assino. Agora, para tomar mais meu tempo, outro jornal, numa campanha de marketing está me enviando uma “cortesia”. E eu corro também para ler e aproveitar o gesto. Num deles há uma coluna que leio na diagonal, isto é, na maioria das vezes faço leitura dinâmica, esperando que uma palavra me chame à atenção. É a coluna no Diário de Pernambuco da Luce Pereira, chamada de Diário Urbano.
Desta feita, ao cruzar a coluna na diagonal até embaixo, dois subtítulos me chamaram a atenção. Um era: “É de fazer chorar” e o outro: “Ataque mortal”. Vamos primeiro ao primeiro. O que fez a Luce chorar? Sua constatação de que o carnaval de Pernambuco virou uma festa que tinha de tudo, menos carnaval de Pernambuco. Do programa distribuído pela Fundarpe/Empetur consta as seguintes atrações para municípios do interior (o número entre parêntese é o número de municípios onde a “atração” se apresentará:
“Banda Leva (5 shows), Voador Elétrico (2), Banda Pinel (2), Pimenta Nativa (2), Kitara (4), Trio Butuka (2), Big-Big Samba Clube (3), Só na Morosidade (4), Nos 4 (3), Pressão D+(4 ), Bom Gosto (2), Banda Bem ( 3), Gingado Maluko (2), Bichinha Arrumada (2), Beat Beleza (3), Edição Extra (1), Spilicut (2), Raniere e Banda (1), Los Cubanos (1), Voa Voa (1), Badalê (1), Vai de 3 (1), Arreia Lenha (1), Cowboys (1), Banda Vinil (1), Pixote (1), Morena Bronzeada (2), Timbaladoido (1), Nairê (1), Marreta é Massa (1), Nosso Jeito (1), Excesso de Bagagem (1), Trio da Huana (1), Saraievo (1), Terra Elétrico (1), Mano Maryeli (1), Duas Medidas (1), Axé Mania (1), Queco e Banda (1), Perfume do Forró (1), Swing Massa (1), É o Tchan (1), Camilly e Yasmin (1), Kletichi (1) e Fica Aí (1). Entre os famosos de fora: Margareth Menezes, Jorge Aragão, Fundo de Quintal, Art Popular, Leci Brandão, Benito di Paula, Raça Negra e Luiz Ayrão. Pobre do Maracatu Leão Misterioso, que vai se apresentar na terça-feira, em Águas Belas, no Agreste. Será o único representante da cultura popular na programação de carnaval do governo do estado.”
É realmente de fazer chorar, quando o frevo começa e já está perto de acabar. Este ano parece que acabou antes de começar, pelo menos o carnaval genuinamente pernambucano, com cordas, batuques e metais. O pior de tudo para mim é que vendo a programação noutro lugar, não consta nenhuma atração para o carnaval de Bom Conselho. Vi, no Blog do Poeta, que o Almir Rouche, iria para lá, certo dia de carnaval. Mas não sei se isto foi confirmado. E pensar que eu já chorei prá sair no Amigo da Onça. Eu é que não vou lá ver a Garota Safada.
As outras palavras eram referente ao ataque mortal que pode ser uma picadura do mosquito Aedes aegypty portador do vírus que causa a dengue. Segundo a colunista,
“Até o ano passado, o prognóstico mais otimista entre os pesquisadores da área de saúde pública era de que uma vacina tetravalente contra a dengue não apareceria antes dos próximos quatro anos. Os franceses furaram essa estimativa e, em março, a Sanofi Pasteur chega a Brasília para oferecer o liquidozinho milagroso.”
No subtítulo seguinte ela fala do poder que tem o dinheiro, quando descobre que o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, trava uma batalha para chegar à vacina contra a dengue que já dura uma década. Ora, diz ela, se esta instituição é que tem as mais avançadas pesquisas nesta área, deduz-se desta notícia da vacina já em Brasília em março, que isto acontece pelo fôlego financeiro, incomparavelmente menor do que o daqueles das multinacionais americanas e francesas.
Fiquei tão triste. Eu já tive a doença duas vezes. Uma pessoa que conheço, e que entende do assunto me disse que foram o dengue 1 e o dengue 3. Ainda faltam os do tipo 2 e 4 para que eu tenha a coleção completa, se sobreviver, e não aparecer um tipo 5. Com o esperado aumento da inflação tudo é possível (isto a fonte não disse eu que estou dizendo). Aproveitando a expertise da minha fonte secreta, aproveitei para perguntar-lhe porque, no Brasil, com tantos mosquitos e casos, vai se deixar para os franceses, onde não há dengue, a primazia de fazer uma vacina contra este vírus, que pode até matar?
Foi aí que vi o quanto os jornalistas e os pseudos-jornalistas como eu, podem se enganar quando tratamos de assuntos mais especializados. O que ela, a fonte, me disse foi, mais ou menos, o seguinte. Ninguém ainda tem uma vacina pronta, devidamente validada, com eficácia comprovada, e licenciada para uso geral da população. Todas as vacinas em teste são “candidatas” a uma vacina. E realmente, a que se encontra num estágio mais avançado de testes clínicos na população, não se espera sua liberação com menos de 4 anos, daqui prá frente. Ou seja, lá para 2015. E não é por que a Dilma prometeu para o Lula que seria ele a aplicar a primeira dose, nem porque o Zé Serra, num passe de mágica, também queira fazer isto naquele ano, se for eleito. É porque o “liquidozinho precioso” dos franceses, ainda está em fase de testes. Segundo a fonte, e não me sacrifiquem para dizer o que isto significa em detalhes, eles estão na “fase clínica 3” , para o teste em crianças. Pasmem: será preciso vacinar 30.000 crianças para ver se a vacina passa para a fase seguinte! Ou seja, o teste já passou por animais (macacos), na fase pré-clínica e depois vem a fase 1, (teste em um pequeno grupo de pessoas), fase 2 um maior número de pessoas e a fase 3 em crianças (nesse caso). O grande problema dos franceses e americanos é que eles não tem a doença lá e vem testar aqui. Ou seja, o que os franceses estão levando à Brasília é algo que pode até ser benéfico no futuro, mas, ainda é um teste, a que serão submetidas nossas crianças.
Os aspectos éticos deste procedimento são aceitos pela comunidade científica internacional, e cada fase tem sua avaliação rigorosa, dentro dos padrões éticos. O que não se pode dizer é que o “líquido precioso” já esteja pronto em março para uso geral. Ele está pronto para ser testado em crianças, e caso não haja nenhum problema passa-se à fase seguinte, e assim por diante, e dentro de quatro anos este laboratório já está ganhando dinheiro com a vacina. Este é um caso que envolve tantos aspectos éticos quanto a queima de florestas por nós brasileiros, depois que os desenvolvidos queimaram as suas. O que o povo brasileiro vai fazer é prestar um favor aos franceses, permitindo que nossas crianças recebam essa vacina. A vacina sendo boa, não seria o caso do Brasil no futuro não pagar nada para ter a vacina para todos? Isto envolve um caso de quebra de patentes que já é mais complicado do que esta discussão.
Enfim, concluímos que nem temos mais carnaval de Pernambuco e nem vacina da dengue. A jornalista acertou na primeira e errou na segunda. Ou errou nas duas? Será que o carnaval de Pernambuco agora não é só para garotos safados que gostam da Bichinha Arrumada?
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