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terça-feira, 25 de março de 2014

A Cama de Dormir. (Ou de ficar acordado?)




Por Carlos Sena (*)

Adoro a cama. Dos móveis de uma casa, uma boa cama dever ser comprada sem pirangagem. Porque ela, no fundo, é quem nos redime de nós; é quem nós suprime de nós; é quem de nós mais se aproxima, inclusive sendo palco dos nossos sonhos e pesadelos. Fazer sexo na cama talvez seja o que menos seja a função da cama. Porque na hora da paixão, do rala e rola ou do rola mas não rala, tudo acontece igual ao gatinho tico: ticomia no sofá, ticomia no tapete, ticomia na cozinha, no banheiro, etc., e também, ticomia na cama. Não necessariamente é na cama que se inicia um romance. Mas, não raro, é nela ou por conta dela, que se acabam as relações.

A cama, como se não bastasse ser o local que a gente guarda nosso cheirinho particular, também nos serve como abrigo para as dores da alma. Afinal, nada que uma noite bem dormida não ajude, pois o travesseiro ainda continua sendo um bom conselheiro. Podemos até dizer que o travesseiro é um componente da cama que teria tudo para ser “metido, atravessado”, mas não é. Ele guarda o nosso cheiro mais legítimo, aquele cheirinho que nos faz querer voltar pra casa quando, por exemplo, a gente faz uma viagem longa.

No seu papel de divã – eis o grande dilema. A gente conhece uma pessoa e engata com ela uma relação, ou uma ralação. Na hora dos amassos a cama tá lá, como mais uma opção. Quando a crise se instala, então a cama começa a ser mais definitiva desse papel psicanalítico subliminar. “Presencia” as crises de afeto e de sexo; caladinha, serve de suporte a solidão a dois que, gradativamente se instala. Noites sem dormir, choros, decepções, desesperos dos casais, também no amor, a cama está ali, sem saber que cumpre esse papel. Tudo de um casal ou mesmo de um solteiro, a cama presencia pela sua capacidade de ser “abrigo” do nosso sono; de ser o canto da casa em que somos mais íntimos de nós mesmos com ou sem alguém do nosso lado. Se eu fosse cama, o que mais me deixaria triste talvez fosse ver as pessoas que nela dormem (principalmente casais) se digladiando, dizendo sim em vez de não e não quando nem fosse mais preciso diante de uma convivência cheia de “talvez”. Se eu fosse cama eu talvez gostasse mais das pessoas dormindo, entregues ao sono libertador da mente!

O clichê de “ir pra cama com alguém” é mesmo um clichê. Um script para nos elevar nas conversas auto afirmativas, principalmente entre os homens é mesmo para essa serventia. Porque a rigor, a gente só deve levar pra cama quem a gente ama. Pena que isso tem perdurado tão pouco nas relações moderna, mas é o caminho. Quem sabe não chegaremos lá?

Pra concluir: não comprem uma cama barata. Ela precisa ser boa para aguentar o rojão da vida que bole toda hora e se revisita a cada minuto.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 31/01/2014

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