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terça-feira, 19 de novembro de 2013

VIVA O CORDÃO ENCARNADO




Por Carlos Sena (*)

Detesto ver um papel em branco. Porque quero logo escrever nele o meu “preto”. Ou o meu encarnado. Adoro  a riqueza do nosso idioma, posto que essa história de “vermelho” eu me dobrei quando aqui cheguei na capital pernambucana. Na minha terra eu dizia ENCARNADO. Por isso, não vou irromper esse “papel” branco que o world me libera nesta manhã escrevendo o meu “preto”, mas o meu ENCARNADO. Porque também eu me remeto às “brigas” do pastoril para que o cordão AZUL vencesse o ENCARNADO. Que saudade. Que sonhos era navegar naquela brincadeira tão simples dos pastoris dos meus tempos de Bom Conselho. A gente se matava por um ou por outro, mas o meu era mesmo o ENCARNADO. Nessa época eu nem entendia de espiritismo e da sua relação com o termo “encarnado”, mas pra mim ficou o principal: o cordão encarnado dos nossos pasto-ris. Ris? Faça não. Ou faça sim. Menos importa o sentimento do que não se tem. Mas, do que se tem lá dentro tudo faz no sentido da vida que se vai ao calor do tempo e no frio desaquecido por desilusões.

Por isso detesto ver um papel virgem, mesmo sendo o do frigidíssimo world, do computador. Companheiro meu, por que não dizer? Mas, daqueles companheiros que ficam no canto da sala sem dar um “pio”... E provoca em nós arrepio e desconfiança, embora não pareçam. Assim, logo começo a meter o pau com os dedos – tentativa nem sempre alcançada de irromper o silencio do papel em branco querendo ter vida através das palavras e frases. Assim, “BRANCO”, meio “náutico” no Capibaribe que leva em cada barco que ainda lhe navega, sonhos partidos em busca de um porto/solidão.

No restauro da memória pastoriense, a DIANA me levava ao delírio. Ela, coitada, funcionava como que um “bissexual” que transita no que é comum aos dois gêneros. Adorava vê-la no meio do azul e do encarnado tentando ser neutra, mas sabendo que por dentro ela deveria ser (eu pensava) do “ENCARNADO” como eu. Última lembrança do pastoril foi no São Geraldo. O auditório lotado e todos vendendo pontos para sua “cor” preferida. Assim mesmo: vendendo pontos. Algo como se fosse hoje um real por cada ponto. No final, quem tivesse mais dinheiro teria tido mais pontos. O total do dinheiro era o total da vitória de um sobre o outro. E o dinheiro, ora direis, para onde ia? Para a casa da caridade é o que diziam. Se, de fato, ia pra lá eu não sei. Mas sei que indo ou não o principal ficou: a ilusão vendida em duas cores – a azul e a encarnada. Por isso, neste tear matinal de texto, preencho minha inquietação com o meu ENCARNADO para irromper, desvirginar este “papel” branco de mentirinha que o world me oferece. Viva o cordão encarnado.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 28/09/2013

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