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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Ovo frito, café e cuscuz.




Por Carlos Sena (*)

Tem gente que não sabe fritar um ovo. Que não sabe passar um café, muito menos fazer um cuscuz. Fazer um bolo? Fazer um rocambole? Certamente que muita gente igualmente não saberá fazer. Mas, não saber um bolo ou um rocambole, certamente que há compreensões para isso, posto que existe muito mais complexidade do que fritar um ovo, passar um café ou fazer um cuscuz. Tudo bem que tudo tem seu ritual e seu mistério, digamos assim. O café tem, o ovo frito tem e o cuscuz, esse é que tem.

Fazer um bom café requer primeiro, um bom pó. Depois não deixar a água borbulhar – só precisa que ao menor sinal do “borbulhamento” se desligue e a despeje no filtro de papel (é mais prático, ou no velho coador de pano). Com uma colher pode-se ir controlando o pó pelas bordas para que ele fique imerso na água que, aos poucos se vai colocando. Depois, é só fechar a garrafa térmica bem fechada e servir. Fritar  um ovo não tem mistério mas, tem ritual também e depende de como se quer degusta-lo: se mole, se duro, se mexido, se com óleo ou margarina, se com uma cebolinha por cima, etc. No geral, coloca-se a frigideira no fogo com a margarina e, tão logo ela vai se derretendo quebra-se o ovo dentro e o conduz rumo ao paladar desejado. Tem-se que ter cuidado para a frigideira não estar molhada ou não cais algum pingo dágua nela, pois pode provocar acidente. Quem gostar de um ovo com a gema soltinha, mas inteira, basta deixar o fogo baixo e cobrir a frigideira. Isso permite que a gema fique soltinha e é só lamber os beiços. Assim, cada tipo de ovo frito vai requerendo  uma certa habilidade. E o cuscuz? Esse é mais ritualístico. Há quem molhe ele na hora, mas não é recomendado.

Primeiro deve-se molhar bem a massa e deixa-la “descansando” (a bichinha) por mais ou menos meia hora. Depois disso, dá uma misturada ligeira com as mãos para retirar alguma concentração endurecida e coloca dentro do cuscuzeiro. Em quinze minutos o bicho tá bom. Mas, pela prática, a gente fica sabendo apenas pelo cheiro – ele invade a cozinha inteira e vai até a sala. É aquele cheirinho bom que todo mundo no nordeste baba. Mas, há sempre um “mas”, no quesito cuscuz. Há quem goste dele mais grudadinho, ou mais sequinho. Há quem goste dele misturado com ervilha e ovo frito misturado – o chamado cuscuz paulista. Mas não é dele que queremos expor, mas o nordestino – simples como seu povo, forte como ele em sua formatação apenas da água e do sal. Pois bem. Há cuscuz que se pode fazer untando as bordas da cuscuzeira com manteiga para ficar mais fácil de lavá-la depois e, também, o gosto ficar mais gostoso. Pode-se inclusive, misturar a massa com um pouquinho de queijo ralado – isso leva a diminuição do sal. Há quem goste também de, ainda na cuscuzeira, colocar um leite quente e deixa-lo ficar mais ensopado – isso é uma delícia que pode ser também feita com leite de coco com açúcar. Tem mais implicâncias no ato de fazer um cuscuz dentro dos vários matizes que o nosso rico paladar nordestino impõe. Mas, fazer um cuscuz é simples. Sei não! Eu até pensei que fosse, mas imaginando que alguém nunca o fez fazê-lo pelas primeiras vezes não será mesmo fácil não. E o café? E o ovo frito? Prefiro confessar: depois desse complexo descritivo eu mesmo me traio e me digo que, de fato, não é tão fácil mesmo não. Mas eu os faço muito bem, da mesma forma que todo o bom nordestino faz.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 19/09/2013

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