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sábado, 17 de agosto de 2013

CHAPINHA




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Grande menina, dizia Nilo quando a via chegando ao Savoy na sexta à noite e na manhã do sábado. Vinha sorridente. Contente com a vida. Vestida ora com saia florida e blusa branca, ora com uma calça azul no corpo modelando o corpo moreno. Cabelos escorridos sustentava uma flor rosa, prendida por bilirios. Olhos castanhos inebriavam todos com o seu olhar provocante. Colar de pedras multicores no pescoço descendo até os seios, blindados por um sutiã preto. No braço uma pulseira colada do seu time de coração o SPORT, o que muitas vezes ouvia gracinha dos torcedores dos outros clubes.  De mesa em mesa, recebia proposta indecorosas, pelos mais ousados, dizia ela, sorrindo. Não dou bola para nenhum de vocês, pois tenho namoro fixo e ele pretende se casar comigo.

A sua visita era esperada pelo que ela oferecia – bolinhos de bacalhau – uma delicia. Dizia Chapinha que era a sua mãe que fazia, para completar a renda da família, pois, o pai era zelador e ganhava apenas um salário mínimo. Morava na Imbiribeira junto com dois irmãos pequeno, o Gabriel e Miguel, dois anjos, dizia. Os garçons do Savoy e de outros bares no centro do Recife, não gostavam quando ela chegava, tentava enxota-la das mesas, o que ela fazia com muita graça, soltando beijos para o Careca, Egidio, Luiz e Índio, ficava em pé e nós íamos até ela e trazia para a mesa os deliciosos bolinhos de bacalhau.


Encontro Chapinha já de idade no Shopping Boa Vista. Bem vestida e como sempre bem enfeitada, de colar, pulseira, brincos, anéis e um bonito relógio no pulso.  Reconhece-me ao passar por ela em uma das alas do Shopping.  Você não é Taveira que frequentava o Savoy? Claro que sou Eu, respondi. Não me esta reconhecendo? É claro estou velha! Se fosse naquele tempo você me reconheceria logo, não é? Vamos tomar um chope com “bolinhos de bacalhau”? Comecei a rir. Era a Chapinha que ali estava garbosamente vestida. Como o tempo passa rápido. Ela sorrindo lembrava de vez em quando nas horas de descanso a sua vida percorrendo os bares do centro do Recife - como era bom aquele tempo! Muitas das vezes em casa sinto saudades das “cantadas” que ouvia e dispensava eu levava na brincadeira aquela ousadia. Não levava a mal estes gracejos, caso contrario perdia a freguesia, e o meu ganha pão. Mas tudo passa na vida! Cada um com o tempo foi tomando rumo na vida. Eu por exemplo casei-me e me dei bem. Pude ajudar a minha família naquela época. O meu marido que faleceu há dois anos foi um bom marido. Encontrei em uma das minhas andanças vendendo o “Bolinho” e ele enamorou-se de mim. Era um belo rapagão português, o Joaquim. De inicio não dei muita bola. O meu namorado acabou o namoro. Sofri um pouco, mas não desanimei e o trabalho me dava o esquecimento. Num dia de sexta à noite, passando pelo Bar da Portuguesa, na Rua Diário de Pernambuco, conheci o Joaquim sentado em uma mesa no fundo do bar. Comprou alguns bolinhos que coloquei em pratinho em cima da mesa e, engracei-me dele. Pagou e disse – gostei de você, quer namorar comigo? Não sei por que dei o meu endereço, nunca tinha dado a mínguem. Num domingo a tarde ele chegou a minha porta. Bateu e minha mãe foi lhe atender. Viu aquele rapaz bem afeiçoado e perguntou – o que deseja seu moço? – Boa tarde! Saudando a senhora que lhe atendia e perguntou por uma moça chamada Chapinha. A minha mãe não sabia deste apelido que tinha adquirido na rua e disse – não tem nenhuma Chapinha aqui, seu moço! O senhor está enganado. Eu tenho uma filha que se chama Sandra, e nos a tratamos como Sandrinha. Nesta ocasião eu vinha chegando a casa.  E o reconheci de logo na chegada. Ele me reconheceu e disse para mamãe – é Ela! Minha mãe olhou para mim e disse – onde tu arranjaste este nome? Foi vendendo bolinhos que me chamaram de Chapinha e o apelido pegou e todo mundo onde vendo o “bolinho de bacalhau” me conhece por este nome. Não é que o desgraçado do português, disse – quero falar sério com você. Minha mãe coçou o queixo e passou a mão no cabelo, já pensando em alguma presepada que tinha acontecido na rua. Ficou olhando e disse – entre seu moço, o sol esta muito quente! Ele entrou e foi logo ao assunto – Quero namorar com você para em pouco tempo nos casarmos – Eu fiquei eletrizada com aquela declaração. Não sabia se ria ou se chorava em uma tarde de domingo. Fiquei paralisada ali em pé, tomando consciência do que estava acontecendo. Um cara que nunca vi, vem com esta “lorota” de casamento. Pensei - onde já se viu mulher que percorre bares ter esta proposta. Na certa queria se aproveitar de mim. Disse – vou pensar no assunto e depois darei a resposta. Ele saiu, beijando a minha mão. Fiquei vermelha porque nunca ninguém fez este gesto. Na semana seguinte continuei a vender os meus bolinhos de bacalhau, e não mais vi o Joaquim, português da cidade do Porto. No domingo seguinte, lá estava ele na minha porta. Sorridente veio ver a minha princesa. Eu pensei – este português esta doido varrido ou eu não sei o que fazer. Para diminuir nossa conversa aceitei o namoro e dentro de três meses nos casamos e fomos morar em Portugal, em uma bela casa na cidade de Porto. Ele era um comerciante que tinha vindo passar alguns dias aqui em Recife. Ai meu querido, me dei bem! Pude ajudar os meus familiares e dei uma vida mais tranquila. E aqui estou, devo voltar nos próximos dias. Quinho venha aqui, chamou o filho que estava escolhendo um sapato na Esposende. Se algum daqueles rapazes estiverem vivo dê lembranças da Chapinha que agora é “portuguesa com certeza”. Riu dando um abraço de despedida.

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