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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Fim de ano em Bom Conselho - A missa das nove


Igreja Matriz de Bom Conselho - PE



Por Zé Carlos

Depois de um ano de ausência física de minha terrinha, embora de permanente presença virtual e espiritual, resolvi bordejar por Bom Conselho neste final de ano. Foram apenas dois dias, mas, de intensas atividades sociais. Numa delas resolvi, além de visitar os patrocinadores desta AGD em sua morada secular, aproveitei um horário que antigamente era  nobre nesta morada: A Igreja Matriz de Bom Conselho em sua missa das 9 horas.

Como as coisas estão muito mudadas, tanto nas noites de São João como em outras épocas, perguntei antes, se ainda havia a santa missa no referido horário. Com a resposta afirmativa, partir para assisti-la, tendo que passar antes pela nossa Praça Pedro II, cuja ornamentação natalina já teve melhores tempos. Tendo visto os anjos barrigudos subi as escadarias da Igreja, que foi o templo visto por mim pela primeira vez em minha vida.

Eu nasci em frente de um dos seus oitões, na Praça Lívio Machado, onde jazia inerte aquele busto preto que eu chamava de “a peste preta”. Já pesquisei qual destino foi dado àquele busto e não me lembro se tive sucesso na pesquisa ou se a memória já me falha qual foi o seu resultado. Para mim “a peste preta” continua desaparecida.

Chegando lá, até me emocionei com a presença de tanta gente, mas ao mesmo tempo senti muito por conhecer tão poucas pessoas entre eles. Caí em mim ao lembrar que não sou mais aquele menino que ia, naquela mesma hora e local, quase todos os domingos, embora quase sempre obrigado pelas diretrizes familiares. A missa das nove era um compromisso de toda a sociedade bom-conselhense, tanto em seu aspecto puramente religioso quanto em outros aspectos como o social e o político. No aspecto social porque era ali onde as mulheres de nossa sociedade mostravam a moda da temporada e que se mostravam como responsáveis donas de casa ou como moças casadoiras. No aspecto político porque sem a frequência entre o povo de Deus, na missa das nove, os votos escasseavam nas eleições.

Fora as mudanças normais da liturgia e da linguagem do padre celebrante (um exemplo que reproduzo aqui de sua fala: “Ah! Tem gente que não acredita em Deus, mas, quando vem “o pega prá capar”, num instante acredita. Não sei se foi bem assim a frase toda, mas “o pega prá capar” eu ouvi claramente, e cheguei a pensar: se alguém dissesse isto no tempo do Padre Alfredo ele botava prá fora pela orelha), eu presenciei a mudança de hábitos na imposição dos sacramentos, no local onde eu recebi os meus. Eu fui batizado, fiz primeira comunhão, fui crismado e casei em uma de suas filiais (a Igreja de Santa Terezinha).

Eu sabia que no domingo, e depois da misssa, era o dia onde aconteciam batizados, casamentos e primeiras comunhões (em datas festivas) e crismas (quando bispo dava o ar de sua graça), então vi chegar muitos carros, vindo neles rapazinhos e mocinhas. Os rapazes de terno branco e as moças de vestido de noivas. De quase todas as idades. Fiquei confuso sobre o que eles iriam fazer com aquelas vestes, em relação ao sacramento que ali receberiam. Foi uma surpresa para mim, que estava pensando serem pessoas que iriam fazer primeira comunhão, embora tenha estranhado a ausência da vela, que aqueles pessoas iriam ser batizadas.

Para mim o batismo ainda era apenas para criancinhas com timão branco. Agora não, são pequenos noivos que (não esperei para ver) receberão água gelada na cabeça, como Jesus recebeu um dia do João Batista. Fiquei pensando no motivo que levaria ao aumento da idade para o batismo e apenas posso conjecturar. Naquela época, com a mortalidade infantil muito maior do que a de hoje e com a crença de que se um menino morresse pagão (sem ser batizado) não iria para o céu, deveria levar a que os batismos fossem realizados em tenra idade. Hoje, com o avanço dos serviços de saúde e cuidados estamos morrendo cada dia mais tarde. Se a tendência for mantida, brevemente, só nos batizaremos na terceira idade.

Entretanto, o fato que mais marcou minha passagem pela nossa Igreja Matriz foi a entrada em sua sacristia, onde vivi momentos de intensa atividade religiosa, em minha tentativa frustrada de um dia ser coroinha. Penso, que pelo menos 50 anos se passaram depois de minha última visita àquele santo chão.

Ao chegar lá, vi o Padre Nelson tirando suas vestes de celebrante. Não o conheço mas poderia me apresentar como sendo uma das ovelhas desgarrada do povo de Deus voltando ao seu aprisco. E iria fazê-lo até que avistei outra pessoa, para mim muito mais importante: o Zé Basílio. Eu até parecia estar vendo alguém que teve o corpo preservado em formol mas que se mexia como qualquer pessoa viva, como num milagre de Deus. Mas, não era. Era apenas o próprio Zé a quem conheci um dia ainda trabalhando com o meu pai de quem era amigo.

O Zé Basílio, para mim é um instituição viva da religião em Bom Conselho. Não se pode contar a história da cidade, nos seus aspectos religiosos católicos, sem escrever sobre Zé Basílio, Gabriel, Dona Lourdes Cardoso, que estariam no mesmo patamar do Padre Alfredo. Eu não sei, e nem perguntei a idade do Zé, que me recebeu com um certo ceticismo até quando eu disse quem era e de quem era filho e neto, mas, se tivesse feito, e ele me dissesse que tinha 50 anos eu só não acreditaria porque eu já tenho mais do que isto e quando o conheci parece até que ela já tinha os 50. Agora, que parece, parece.

Da mesma forma que Bom Conselho é uma cidade com uma grande vocação turística e que pessoas e eventos teimam em fazer com que ela não exerça esta vocação, o Zé Basília é a maior vocação religiosa que já vi e que nunca conseguiu ser um padre. Mas, quem sou eu para julgar o que é melhor para nossa cidade ou para o Zé Basílio. Talvez seja melhor esquecer a vocação de ambos, para o bem deles próprios.

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