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terça-feira, 11 de junho de 2013

E se não houver Céu?




Por Carlos Sena (*)

Tem dias que a gente fica pensando sobre o óbvio como a salvação da alma, ou não. Todos temos medo do desconhecido e a morte, a despeito de ser a coisa mais certa da vida, permanece em nós em forma de acontecimento que a gente se engana pra poder viver mais feliz ou menos angustiado. Esse é um terreno fértil para o mercado da fé: pastores e padres mal intencionados entram feito a faca no queijo nesse filão financeiro à custa da insegurança das pessoas incautas; pessoas geralmente fragilizadas pela vida em suas estruturas comportamentais maiores. Esse é o terreno fértil para as igrejas, religiões e seitas, deitarem e rolarem prometendo o céu. Quem mais se utilizou da fragilidade humana de forma dominadora foi a igreja católica. Ela sempre fez questão de dizer aos fiéis em suas homilias, que o céu é o prêmio, ou seja, induzia muitos fiéis a sofrer com resignação, muitas vezes um sofrimento que não era obra divina, mas das políticas humanas de exploração do homem pelo homem, mesmo dentro das igrejas.

Hoje o céu continua como prêmio. Os evangélicos de há muito pregam que estão salvos, mas não querem morrer. Os pentecostais decretam guerra contra a felicidade no varejo, condenando no grosso os processos sociais que eles julgam em desacordo com “deus”... Atacam os gays, são contra o aborto, a camisinha, etc., mas são incapazes de socorrer a fome dos mais pobres. As ações da maioria dos que se dizem religiosos acontece dentro das igrejas – verdadeiras “igrejinha” em prol da “legião da boa vantagem”... Prometer o céu é fazer terror com o inferno. Prometer o céu é vender Deus com o marketing do diabo, do capiroto, do demo, do cadeirudo. Em nome do céu como prêmio, todo tipo de chantagem emocional se reproduz em nome de “manto sagrado”, “água benta”, “felpa da cruz de Cristo”, “manto sagrado vendido em forma de chaveiro”, “cuspe de cristo dentro de frasco vendido como se fosse”, afora dízimos, trízimos e taxas de casamento, batizado, crisma, encomenda de defuntos, toque de sino, e o diabo a quatro para atormentar o resto da vida.

Vende-se o céu como prêmio. Em nome do prêmio conduzem pessoas a não fazer o que tem vontade, o que o corpo pede em forma de prazer, por conta do pecado. Simples: se Deus fosse se incomodar com nossos pecados ele, certamente, não teria o que fazer em outros mundos mais evoluídos. Resta-nos indagar: e se não houver céu? Se não houver céu, particularmente eu terei tido meu céu na própria terra. Eu fiz tudo que quis e o que não quis mantendo o respeito aos meus semelhantes, mas acreditando que a vida por ser curta, não que de nós visão mesquinha, maniqueísta, dominada por fanáticos que, por serem incompetentes para ser um profissional liberal de sucessos, vão ser pastores, ou padrecos de quinta. Nesse viés de vender o céu como prêmio, a Igreja católica só perde mesmo para os pentecostais, os fundamentalistas que vivem do fanatismo e da exploração da miséria alheia.

Portanto, quem quiser ser feliz seja. Só que a felicidade não se atrela às religiões que vivem metendo medo no povo para que o povo não pratique o sexo que lhe dê prazer e coisas do gênero. Porque é muito bom que se compreenda que a maioria dos pastores leva vida diferente daquela que pregam aos seus seguidores. Algo como “faça o que em mando mas não faça o que eu faço”... Isso se chama falso moralismo deslavado. Pastores e padres que vivem em saunas gays, mas condenam nas suas homilias o que eles durante o dia praticam. Portanto, quando você bater a caçoleta e, se por acaso, não houver céu, o que você irá fazer? Certamente nada, porque você também nem saberá a diferença. Então, melhor fazer o céu aqui mesmo e deixar que os demônios sejam o marketing das igrejas, porque nem eles mesmas viveriam sem satanás que é o seu mascote – aquele que mais os ajuda a pregar o céu como prêmio e o inferno como meta dos fracos aqui na terra.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 25/04/2013

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