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quarta-feira, 19 de junho de 2013

DUDU




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Encontro no Shopping Boa Vista, em uma tarde de sexta feira, Dolores, mulher de Stefan um grande boêmio em época passada. Sempre sorridente e elegante lá estava com a neta Lurdinha, menina dos seus quinze anos a compra de uma sandália. Ao cumprimentarmos com aquele “como vai” apertou a minha mão. Perguntei por Stefan, como estava, pois nunca mais o teria visto nestes últimos dez anos, desde que o Savoy fechou, o nosso reduto de amizade.  Começamos a conversar e ela me disse – olha ele deixou toda aquela cachaçada que fazia nos finais de semana, pois, adoeceu de uma cirrose e o médico proibiu de beber, pois, se continuasse o cemitério seria a sua morada.  Tudo sabes quando tu ias lá a casa, que ele era um frouxo. Apavorou-se com esta conversa do medico e parou. Mas, não passou dois anos e voltou à boemia, chegando a casa tarde da noite sentado e no bar do Aristóteles, já velho e cansado com uma sobrinha despachando a mesa. Era uma moca dos seus vinte e oito anos, bonita e bem dotada e enxerida, soltava piadas para todos e o seu Aristóteles, apenas ria das presepadas e piadas da sobrinha. Não é que Stepan se engraçou desta “quenga” e se ajuntou com ela em outro bairro sem eu saber. Pois é meu amigo! Mas, nesta vida tudo se descobre e diz um velho ditado para homens – marido traído é o ultima, a saber – só que desta vez fui eu. Uma vizinha minha viu quando ele pegou um taxi com ela no domingo à tarde, de mãos dadas e se beijando saindo do bar. Apurei o faro e alguém me disse é verdade Dona Dudu, o Stefan esta de caso com a sobrinha do seu Aristóteles, a Daniele. Fiquei na minha esperando uma oportunidade para me certificar. Entrei no meu carro e fiquei na espreita, no domingo seguinte, quando ele disse vou tomar uma cerveja com os amigos e botar conversa em dia. Saiu perfumado e barbeado. Elegante vestido com uma camisa listrada e numa calça branca.  Logo em seguida, comprovei que ele já estava no bar do seu Aristóteles, sentado na primeira mesa com um copo na mão. Esperei até as quatro horas da tarde. Saiu, como havia me dito, Expedito, de mãos dadas. Pegaram o taxi e eu segui. Foram para um motel no bairro de Afogados. Comprovei o que me disseram. Voltei para casa. Sentei-me em frente à televisão e ali fiquei esperando. Lá para meia noite lá vem ele. Entrou, lavou o rosto e enxugou e com a cara mais cínica, disse – Estes meu amigos não tem jeito, não! Queria vir para casa mais cedo e eles vamos tomar a saideira.

 Nojento.

Velho sem vergonha.

Corno velho!

Estais amigados com aquela sirigaita sobrinha do Aristóteles! E não venhas dizer que não, pois eu te segui e entraste com ela no Motel. Negues? Arruma tuas coisas e te vai daqui. Não quero nem saber arruma tuas coisas e vai, repeti. Amuado e sem saber o que dizer, disse – perdi a cabeça, pois tu sabes como homem é! Perdoa-me! Dormimos nesta noite separados. De manhã, já tinha arrumado as suas coisas, vai-te embora, repeti. Calado estava e calado ficou, sentado a mesa, tomando uma xícara de café. O tempo passou e ele não saiu de casa, porem dormíamos em quarto separados.


Certo dia soube que sirigaita, começou a telefonar. Não me contive quando soube deste fato. Arrumei suas coisas e coloquei no terraço. Saiu de casa e não passou seis meses, voltou doente. A cirrose voltou. Amarelo que só você vendo. Apavorado. Não tinha mais jeito, culpa dele, pois foi avisado pelo médico. A sirigaita arranjou outro e deu-lhe “uma banana” você já não me serve. Adoeceu. Ficou em casa tomando remédio, mas não tinha mais jeito. Cada dia piorava. Fraco e emagrecido já não tinha forças para resistir à doença. Já não tinha tanta raiva dele. Ninguém cuidava dele e os cuidados caíram nas minhas costas. Piorou, internou-se no Hospital Português e apenas durou uma semana. Faleceu. O sepultamento no Cemitério Santo Amaro, alguns amigos do bairro compareceram. Isto aconteceu há cinco anos. Um colega vizinho disse – Dona Dudu eu aconselhei muito o Stefan sobre este ajuntamento com Daniele. Onde já se viu um homem já com os seus setenta anos engalfinhar com uma moça de 27 anos. É gala! É muita gaia!! - agente brincava com ele. Mas não atendia e veja o que aconteceu ele morreu a sirigaita continua no bar alegre e fogosa, rindo a toa como se nada tivesse acontecido. Bem já conversamos demais, deixe-me ir embora. A minha neta esta me chamando. Ali eu fiquei a pensar naquele desfecho triste.  “Recordei os dizeres do meu velho e conselheiro pai – Quem não sabe viver sabe morrer”. Voltei para casa pensando no velho amigo.

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