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sábado, 8 de junho de 2013

CELULAR PERDIDO




Por Carlos Sena (caso verdade) (*)
  
Entrei num ônibus com destino ao Ministério da Saúde. De repente, por entre uma e outra cadeira, um celular. Não tive dúvidas, apanhei o bicho e fiquei esperando alguém me ligar procurando por ele. Fiz isso porque sei quanto um celular perdido causa de transtornos a quem o perdeu. Passei a manhã todinha e ninguém me ligou. Uma só chamada não houve. Eu já fiquei pensando bobagem, algo tipo: será que essa porra presta? Será que não é um telefone roubado e jogado por aqui? Mas, roubado não poderia ser porque era bonito o bicho - daqueles que você logo sabe que não foi comprado na feira de Caruaru. Se não me engano até androide era. Não poderia ter sido roubado porque quem rouba não joga um celular de fora pra dentro do ônibus. Almocei e fiquei de butuca. Nada, nadica de nada! Nem ligação errada houve.  Já no final da tarde, observei que tinha uma ligação perdida. O nome não me interessava, pois eu sabia que não era pessoa do meu conhecimento. Mesmo assim tentei retornar. Nada. A ligação tocou tanto que deu caixa postal. Deixei quieto, pois além de "dar ter que arreganhar é foda", pensei. Nem que eu não tivesse o que fazer, mas, fazer o quê, então? Como se diz na minha terra, "eu estava procurando sarna pra me coçar"...

Terminado o expediente, já no ônibus de volta pra casa o bendito telefone toca. Alvíssaras, pensei. Alô, respondi. "Ora porra, por que você não me responde" - Disse uma voz do outro lado da linha. Com a zoada do ônibus em movimento não pude dizer o que a pessoa do outro lado merecia. Juro que tive vontade de "avoar" o bicho pela janela do ônibus, mas não o fiz. Fiquei só vivo com os desaforos que ouvi. Mas, barco perdido, bem carregado. Quando desci do ônibus o tal celular toca de novo. Mais impropérios o caba começou a me dizer. Ei, cara, interceptei. Você em vez de me agradecer por ter achado essa porra desse celular, vem me dizendo desaforos? Foi aí que o caba pensou que tinha feito merda. Mais que pensou - teve certeza.

- Quem é que tá falando? (perguntou o cara do outro lado)
- Sou eu!
- Eu quem?
- Não vou lhe dizer, cara, respondi.

Quando o meio de campo dessa conversa tava emboloiado, ele, finalmente, disse que estava ligando para sua esposa e ela não o atendia. Foi então que ele percebera que sua mulher tinha perdido o celular, pois nem ela mesma, àquela altura, tinha sabido disso. Com a conversa já nivelada, ele me disse que não estava entendendo o porquê de sua esposa não ter retornado suas ligações. Dito diferente: a esposa perdeu o celular, mas, até então não se dera por conta. O marido disse que ligou pra ela o dia todo, mas sem retorno. Eu levei as cacetadas em nome da esposa que, meio lesa, não dera por conta da perda do celular. Marcamos um ponto perto de onde moro e, mais tarde, os dois chegaram em um  carro para pegar o celular. Mil desculpas, mil perdões. Mas a esposa do caba tinha cara de lesa, de desligada, tudo fazia crer. Depois de tudo eu pensei: vai Carlos Sena, dar uma de bom samaritano! Mas eu não sei fazer diferente, pois foi assim que mamãe me ensinou.  Se outros eu achar, farei o mesmo para devolver ao dono. Afinal, eu e muitos somos do tempo em que pai e mãe ensinava, não deixava nossa educação ser feita por empregadas, nem por veículos de televisão. A gente chamava papai e mamãe, diferente de hoje que os filhos chamam  de "velho e velha"...

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(*) Publicado no Recanto de Letras  em 23/04/2013

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