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quinta-feira, 18 de abril de 2013

As eleições venezuelanas e a derrota moral





Por Zezinho de Caetés

Quem se opunha à “revolução bolivariana”, está rindo. Alguns mais contidos, dizem, riem por dentro. Outros, como eu, riem às bandeiras despregadas. Quando ouvi ontem o ministro das relações exteriores do Brasil reconhecer o novo governo venezuelano, mesmo que havendo suspeitas fundadas de uma eleição fraudada, eu, além de rir, disse: Ganhamos!

Hoje mostro, abaixo um texto do imortal (não porque é múmia, mas por que escreve bem) Merval Pereira, que tem o título de Derrota Moral, para mostrar o que aconteceu com o chavismo na Venezuela. Melhor impossível.

É muito difícil, para quem é brasileiro e gosta de futebol, esquecer a Copa do Mundo na Argentina em 78, em que o técnico Coutinho disse que tivemos uma vitória moral, pela forma como ele achava que foram manipuladas as outras equipes. Vitória moral, não trouxe um taça, da mesma forma que a derrota moral do chavismo, não trouxe o governo para a oposição, mas, já é um começou de vitória tanto moral quanto real.

Os resultados das eleições mostraram que o povo venezuelano já estava cansado do bolivarianismo tosco do, hoje múmia, Chávez. E levaram a outros países da América Latina a mensagem de que não se pode enganar todo o mundo todo o tempo. E muito menos um homem cuja campanha foi baseada na reencarnação de um morto em um passarinho e que o levava no ombro para os comícios. O meu conterrâneo Lula em sido ridículo muitas vezes, mas, nunca chegou a tanto, embora alguns petistas tentem fazê-lo. O mundo deles caiu.

E eu continuarei aqui rindo do passarinho e da derrota moral pelas consequências que ela pode ter para nosso chavismo infantil, tentado pelo PT, por muitos anos. Basta ver a que o assistencialismo desvairado levou a Venezuela. Naquele país, o trabalho quase virou um pecado, a não ser no serviço público, para seguir o modelo cubano que até o Fidel (ele chorou quando o Chávez morreu e agora vai chorar de novo, por que sabe que não vai ter petróleo de graça por muito mais tempo) já é contra, igual estão tentando fazer aqui no Brasil.

Se depender de mim, não irão além de 2014, pois já vêm tendo vitória moral há muito tempo. Espero que as oposições acordem porque chegou a hora da vitória real. Fiquem com o imortal.

“A vitória por menos de 2% dos votos não apenas dá margem à desconfiança sobre a lisura do resultado na Venezuela como garante ao candidato oficial Nicolás Maduro apenas os primeiros três anos de mandato, e olhe lá. Isso porque no meio do mandato há a possibilidade de convocação de um “referendo revogatório” que pode tirá-lo do poder, caso o governo não esteja agradando à maioria dos venezuelanos.

Sem a presença física de Chávez, não tendo surtido efeito o anúncio de que ele reencarnara em um passarinho, a revolução bolivariana, apesar de controlar os meios de comunicação e as instituições oficiais que organizam a eleição, perdeu, pelos números oficiais, cerca de 700 mil eleitores, enquanto o candidato oposicionista Henrique Capriles recebeu cerca de 600 mil votos a mais do que na última eleição presidencial, quando Chávez venceu o mesmo Capriles com uma vantagem de 12% dos votos.

Maduro venceu em 16 estados, e Capriles em apenas 8, mas, como a diferença entre os dois ficou abaixo dos 2%, isso indica que o oposicionista venceu nos estados mais populosos. Mesmo os chavistas mais ferrenhos admitem que parte de seu eleitorado absteve-se de votar, e outros passaram para a oposição.

O resultado mostra que Chávez já governava na base da retórica revolucionária e que sem o seu carisma não foi possível impedir a explicitação de um descontentamento não apenas com os métodos revolucionários do chavismo, mas com os resultados do governo, vendidos como expressivos por seus áulicos, mas na verdade insuficientes para manter eternamente a população atrelada aos interesses do governo.

Se é verdade que a desigualdade foi reduzida e a pobreza combatida através das missões chavistas, também é verdade que a economia venezuelana sofre as consequências de uma política populista que é incapaz de manter os gastos sociais sem provocar efeitos colaterais terríveis como a altíssima inflação — cerca de 30% ao ano —, desabastecimento, déficit público e uma violência descontrolada nas grandes cidades, especialmente Caracas.

Além de sustentar as políticas assistencialistas, a estatal de petróleo PDVSA também garante uma política de subsídio do preço da gasolina que consome 10% do PIB, isso em uma empresa que sofre com o aparelhamento governista que lhe tira a competitividade e reduz a sua produção, que caiu 25% em relação ao que produzia há 14 anos, quando Chávez assumiu o poder.

A gasolina quase de graça fez com que o consumo tenha aumentado mais de 60% no período, o que obriga a Venezuela a importar o combustível, mesmo tendo uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

A escassez de mercadorias nos supermercados e a falta de energia elétrica e de água ora são atribuídas a um boicote das oligarquias, ora a atentados terroristas, quando não surge uma visão cor de rosa que “culpa” o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres. Na verdade, trata-se de uma economia disfuncional.

Como a base de sua pregação política é não fazer acordos com a oligarquia, seguindo os passos de seu chefe, Nicolás Maduro vai ter dificuldade de montar um governo eficiente, ainda mais que enfrentará dissidências dentro da própria aliança chavista.

Ele queria vencer por uma diferença maior que a que Chávez conseguiu na última eleição para se impor a seus adversários internos, mas obteve nas urnas uma derrota moral que o prejudicará tanto em relação à oposição, que sai fortalecida do confronto, quanto a seu próprio grupo político.

Assim como aconteceu entre a ausência de Chávez e o anúncio oficial de sua morte, Maduro governará sendo tutelado por um conjunto de forças no qual se destacam os militares. E a derrota moral do chavismo terá repercussões em toda a América Latina, onde o socialismo bolivariano estava deitando raízes. Não é à toa que foram esses os primeiros governos a acatar os resultados oficiais da Venezuela, inclusive o brasileiro.”

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