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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A "Vitória de Dilma"


Pirro, Rei de Épiro e da Macedônia.


Por Zezinho de Caetés

Eu nunca vi se falar tanto em “Vitória de Pirro” como neste momento, desde que a gerenta presidenta entregou o governo ao PMDB. Embora já saiba o que significa a frase, eu fui ao pai dos burros, que hoje é o Google, para verificar o que havia de tão semelhante com a vitória da Dilma.

O Rei Pirro, que viveu lá pelos anos 300 a.c., foi rei de Épiro e da Macedônia e ficou conhecido por ser um dos principais opositores a Roma. Em uma batalha, ao felicitar os generais pela vitória, depois de verificar as enormes baixas sofridas pelo seu exército, disse a eles: “Com mais uma vitória destas, eu estarei acabado!”. Daí vem a expressão “Vitória de Pirro” para indicar alguma conquista feita com um esforço exagerado e penoso.

Se não houvesse esta expressão milenar, a partir desta semana, teríamos os termos para serem usados com o mesmo significado: “Vitória de Dilma”. Como se sabe, ela praticamente entregou o governo ao PMDB, sob o conselho do meu conterrâneo Lula que já foi useiro e vezeiro deste tipo de atitude. Segundo dizem, ele explicou a sua pupila que deveria dar os anéis para ficar com os dedos. Os anéis eram alguns ministérios, para satisfazer a sanha por cargos do PMDB, e os dedos era seu cargo, ou seja, evitar o impeachment a qualquer custo.

O que se viu, foi uma Vitória de Dilma. Só quem ganhou foi o partido do vice que agora não reina, mas, governa de fato o país, pelo menos de maneira formal, já que é a dupla Renan/Cunha que dá as cartas. E a prova disto veio na propaganda obrigatória do partido, onde se repete e se repete o chavão de que “os governos passam e o Brasil fica”. Deveria ser substituída pela frase, “os governos passam e o PMDB fica”.

Em suma, o que tivemos foi um “impeachment branco”, ou seja, a Dilma sabe que já foi, mas, esqueceu de avisar. Neste quadro partidário brasileiro estava faltando um partido novo. Agora já tem: O Partido Novo. Venha para ele você também.

Para o final de semana, escolhemos mais uma vez um texto do imortal Merval Pereira, cujo título é quase igual ao meu: “Vitória desgastante” (O Globo – 24/09/2015), e que trata do mesmo assunto, e mostra quanto esta vitória pode ter sido inútil. Fiquem com ele que eu vou fazer meu retiro espiritual no final de semana, esperando que não seja um retiro nem de Pirro nem de Dilma.

“Se era para segurar o dólar, não deu certo. E por que não deu? Por que, na verdade, a vitória do governo no Congresso na noite de terça-feira não foi definitiva, e é possível detectar-se por trás da manutenção dos vetos presidenciais interesses diversos, e não apenas o compromisso de apoiar o governo.

Poderia até mesmo ser chamada de "vitória de Pirro", em que o governo se desgastou tanto para vencer que acabou se desmoralizando mais ainda. Muitos deputados e senadores estavam realmente preocupados com os gastos que desequilibrariam de vez as contas públicas, inclusive na oposição, mais especialmente entre senadores oposicionistas. Mas muitos peemedebistas estavam mesmo preocupados em não deteriorar de vez as contas públicas que herdarão em caso de impeachment da presidente Dilma.

Daí a tirar-se a conclusão de que o governo já tem uma maioria suficiente para impedir que o processo de impeachment seja instalado no Congresso, vai uma distância grande. Foi uma vitória importante para o governo, sem dúvida, especialmente pela coragem de enfrentar o monstro, coisa que o governo Dilma vinha evitando há muito tempo, demonstrando uma fragilidade que se auto-alimentava com os erros políticos que são cometidos em sequência.
 
A presidente pagou para ver e ganhou um fôlego, até que vetos importantes politicamente e com efeitos econômicos desastrosos, como o aumento para os servidores do Judiciário, forem à votação. Aí sim veremos se a maioria governista é sólida a ponto de se desgastar com uma categoria importante, especialmente para os petistas. O teste de fogo se dará com a CPMF, que continua sendo rejeitada pela maioria do Congresso.

 Mesmo tendo superado esse obstáculo importante, o governo Dilma continua errando estrategicamente em relação ao PMDB, repetindo o mesmo erro de tentar passar por cima da cúpula partidária para negociar diretamente com as bases.

A troca vergonhosa de votos por ministérios como o da Saúde – com uma relação de candidatos à vaga que assusta – é por si só a repetição de uma ação que corrói por dentro a base aliada, que não dedica lealdade a quem se ofereceu no balcão das negociações fisiológicas mais rasteiras, e provavelmente não pagará a dívida quando enfrentar votações políticas fundamentais como o impeachment.

Ainda está na memória de muita gente a votação do impeachment do então presidente Fernando Collor, em que deputados que até a véspera juravam fidelidade ao presidente votaram a favor de afastá-lo. O mais notório deles foi o deputado Onaireves Moura, dirigente de futebol eleito deputado federal em 1989 na leva de Collor, fazendo parte da "tropa de choque", que defendia o mandato presidencial a todo custo.

Na véspera da votação do impeachment Onaireves chegou a oferecer um jantar para Collor, mas na hora de votar, não resistiu à tentação populista e gritou ao microfone o “sim” que apoiava o fim do governo de seu amigo. Acabou preso por outras falcatruas.

Na votação de terça-feira, houve um momento em que a verdadeira força da base governista foi colocada à prova pela oposição, que passou a obstruir a sessão para ver até onde o governo conseguia encher o plenário com os seus aliados.

A sessão teve que ser suspensa por falta de quorum, apenas 127 parlamentares da base marcaram presença. Essa pode ser uma boa medida da lealdade dessa base renovada a força de negociações nada republicanas, com atores políticos de segunda categoria na hierarquia partidária.

Parece mais a rapa do tacho por parte desse grupo do que uma reviravolta na posição do PMDB. Até 15 de novembro, esses novos protagonistas poderão sugar até as últimas gotas o governo Dilma, mas nada indica que a lealdade permanecerá até a decisão do partido, em sua convenção nacional, de abandonar o barco governista.

 Eduardo Cunha prepara seu discurso de rompimento do PMDB com o governo Dilma para esse dia, querendo dar-lhe a mesma dimensão que Tancredo, também num 15 de novembro, fundou a Nova República num discurso épico.


Os momentos são outros, principalmente os autores são distintos em suas histórias políticas e pessoais, mas a convenção nacional do PMDB pode marcar o fim da era petista.”

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