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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A FAZENDA




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


A lua começava a aparecer, vermelha. As encostas das montanhas estavam cobertas de tons negros. O céu clareava lentamente as estrelas desapareciam sob luz da lua. Uma belíssima tarde se ocultava. Em sua rede esticada na varanda da casa grande, lá estava o Coronel Lupercinio, deitado saboreando a brisa da noite que se aproximava. Fumava as cigarrilhas compradas na cidade na Tabacaria do Vicente, todas as sextas feiras quando ia até a feira. Gostava de ir montada no seu belíssimo cavalo manga larga, com arreios de prata. Era um homem de uma só palavra. Trazia tudo ao seu alcance, com mão de ferro. O controle da fazenda, dos boiadeiros, dos moradores e tudo tinha que passar por suas mãos. Era rigoroso. Nada se fazia sem a sua autorização. Alto e forte, nos sessenta anos. Cabeleira grisalha e um bigode cheio que permeava a boca. Vestia-se de linho fino branco, e calçava uma bota luzente preta com adornos de metal. Não tinha amigos e nem gostava. Era reservado. Poucos iam até a sua fazenda para conversar e mesmo na cidade pouco falava, sempre estava fazendo algum trabalho que lhe beneficiasse. Ia ao Banco, pequena agencia, para falar com o gerente e saber o que acontecia no mercado. Muitas das pessoas o julgavam iletrado, mas sabiam controlar o seu dinheiro. Arrogante e mandão e por isso muitas das vezes discutia acaloradamente e com isto não era bem quisto. Os seus trabalhadores não gostavam dele. Muitos lhe queriam ver morto. Dona Beatinha sentada ao seu lado tricotava era o seu hobbie preferido ou sua mania nas tardes quentes do campo, para fazer cachecol coloridos que presenteava aos seus amigos e amigas, quando das reuniões no Salão da Esperança na cidade. De vez em quando para quebrar a monotonia e o silencio da tarde, dizia – o que pensas agora, Lupercinio? Nada. Apenas os meus pensamentos são sem graça. Olho para estas terras, várias léguas que adquiri com muito trabalho e hoje vejo com alegria o fruto deste trabalho, olhando para o pátio e o açude que ficava logo adiante. Os patos passeavam, de vez em quando bicava a agua para matar a sua sede. As flores do campo arrodeava a sua margem dando aquele colorido amarelo e vermelho. As fruteiras ao redor do casarão eram imensas, pés de jaqueiras, mangueiras, goiabeiras, jabuticabeiras apresentavam uma calma pela sombra que muitas das vezes o Coronel tirava uma soneca em uma rede esticada no cajueiro, à tarde. Os cavalos bebiam agua e eram lavados pelos tratadores. Outros limpavam a sela e os arreios e coxim de panos vermelhos, os estribos de metais com areia. Ficava um brilho. Levavam para o estábulo ao lado direito do casarão, ali lhe davam rações e escovava o pelo dos animais. O mugido das reses no estabulo do lado esquerdo era sonolento e prazeroso. Tinha vacas leiteiras que lhe garantia algum dinheiro vendendo na cooperativa. Lembrou-se de um atrito forte com um dos vaqueiros, o Tião, caboclo forte de mania de grandeza. Era um homem bruto e cheio de muitas intrigas no povoado e tinha o Coronel Lupercinio como seu inimigo, por causa da sua dispensa do trabalho na fazenda. Dizia abertamente – olha ainda vou matar este cabra que não presta. Escraviza todos os seus boiadeiros e alcunha todos com apelido com riso sarcástico. Comigo não. É dente por dente olho por olho este é o meu dito tomando doses de aguardente na bodega do Bento. Andava armado. Uma peixeira de oito polegadas sempre na cintura. Certo dia foi convidado para uma festa de formatura, o Coronel e Dona Beatinha, no Clube da Sociedade das Mães Bondosas. Saíram de casa antes do anoitecer em seu jeep percorrendo os poucos quilômetros por uma estrada poeirenta entre cerca de aveloz.  Antes de ir para festa passou na Bodega do Bento para cumprimentar Laurinha, sua mulher. Lá estava o Tião embriagado. Encostado no balcão falava alto e gesticulava com a mão para a todos que era um cabra macho que não levava desafora para casa. Ainda eu mato um desgraçado deste. O Coronel não deu importância a aquela zuadeira. Entrou na casa e na saída foi agredido pelo Tião morrendo o Coronel naquele mesmo local esfaqueado. O alvoroço foi grande na cidade. Todos corriam atrás do assassino para pega-lo. O delegado colocou todo o destacamento no encalço do Tião, procurando por todos os lados sem o encontrar. Depois de muita diligencia, encontra o assassino em uma casa abandonada no final da Rua do Lírio. Foi preso e na cadeia falou - não estou arrependido, este cabra merecia morrer e eu o matei seu delegado. 

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