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sábado, 7 de março de 2015

O Dia Internacional da Mulher




Por Lucinha Peixoto (*)

Estava eu ajeitando minha bolsa e apetrechos na CIT, para ir curtir mais uma noite no meu sacrossanto lar, quando veem em minha direção o Diretor Presidente e o Oliveira.

- Lucinha, amanhã é o Dia Internacional da Mulher

Disse o Diretor, secundado por Oliveira que falou:

- Você não gostaria de escrever alguma coisa para nosso Blog?

Eu, na lata:

- E por que vocês não escrevem? Por acaso, só mulher pode escrever sobre o seu dia? Quem deveria escrever, sobre ele, eram os homens. Por falar nisso, existe um Dia Internacional do Homem? Não. Por que? Eu mesma respondo. Durante toda a história vocês nos exploraram, nos humilharam, nos submeteram a uma vida de subserviência, ao mesmo tempo que foram responsáveis por todas as mazelas de nossa sociedade. Agora descobriram que sem nós, mulheres, como pessoas inteligentes, criativas, sensíveis e trabalhadoras que sempre fomos, vocês não darão mais conta do recado, querem nos agradecer e pedir perdão criando um dia prá nós, e ainda querem que escrevamos sobre ele? Simplesmente, os homens nos tiraram todos os dias, todos os dias eram deles. Então pra que Dia de Homem? Eles sempre tiveram todos.

Agora nos querem dar um só, e para que ninguém note a burla, dizem que é Internacional. Será? E as mulheres castradas na África? E os pés aleijados das Gueixas no Japão? E aquelas mortas na China e na Índia, pelo simples fato de serem mulheres? E as mulheres de Pernambuco que estão sendo dizimadas pelo machismo doentio e reinante durante anos?

Eu não sou uma feminista. Com a minha idade (não pensem besteira) e nascida em Bom Conselho, seria muito difícil sê-lo. O que fui foi muito mulher. Mulher no sentido de ser gente de um sexo, e que sempre exigiu respeito do outro. Isto não implica sair por aí queimando sutiãs, só porque os homens não queimam cuecas. Implica sim, batalhar pela sobrevivência e lutar por uma vida digna da mesma forma que devem fazer todos os gêneros, e junto com todos eles, mesmo que admitamos a existência de mais de dois.

Estou lembrada de uma nota que escrevi no Mural do site de Bom Conselho (agora o Mural cabe poucas letras, cruzes!) logo após a vitória de nossa atual prefeita, Judith Alapenha, criticando o fato de alguns artigos louvarem seu feito, não pelo o feito em si, mas por ela ser uma mulher. Quando ser mulher, era apenas um detalhe. E assim ainda penso hoje. Ser mulher é apenas um detalhe, em nossa época moderna e, talvez, mais civilizada. Isto não ocorre ainda com todos os povos e citamos alguns lugares acima, como exemplo, muito atuais. Voltemos à Índia (o que a novela da Globo mostra, é só uma caricatura da mulher indiana, na realidade é muito pior. Desculpem, todos sabem, adoro novelas e meu marido também) onde as mulheres ainda sofrem uma terrível discriminação, este detalhe se torna chocante e mesmo revoltante. Basta ir na internet para encontrar citações como a seguinte:

“Não são poucas as mazelas sofridas pelo sexo feminino aqui na Índia. Supondo que a menina escapou do aborto seletivo, ela corre o risco de receber um “nome frase”, ou um nome pejorativo, ridículo ou humilhante, que indique o descontentamento do pai em ter tido uma filha ao invés de um filho; algum destes nomes próprios são: ‘espero que seja a última’, ‘nossa que castigo’, ‘o que fiz pra merecer isso?’, 'meu karma é muito mau', 'devo ter sido mau na encarnação passada' e coisas do gênero.
Na casa de uma pessoa aqui na Índia vi a empregada limpando bem, o que é raridade, então perguntei o nome dela e a pessoa respondeu “empregada”. Pensei não ter entendido bem e tornei a perguntar e a resposta foi a mesma. Para esclarecer eu perguntei ‘o nome da moça é “empregada”?’ e a pessoa respondeu SIM, o nome dela é Empregada!!!!” (aqui)

Alguém pediria à mulher indiana, vivendo nesta situação, para escrever sobre o seu dia, só porque ela é mulher? Claro que não, mesmo porque ela não saberia escrever, nem ler. Lá, ser mulher, não é, ainda, apenas uma detalhe como aqui. Será no futuro, mas não por causa do nosso dia. E sim porque, com o avanço das comunicações, as mulheres indianas descobrirão que para serem mulheres, devem antes ser gente, como algumas de nós ocidentais aprendemos, a duras penas.

E vocês vem ainda pedir para escrever sobre o meu dia? Escrevam vocês homens, como Marlos Urquiza fez, num belo texto, abaixo publicado, apesar de algumas pequenas discordâncias. Mas, pelo amor de Deus, não me venham com aquela estória de rainha do lar (me desculpem as majestades), aqui em casa temos o rei do lar, também.

P.S. - Para sua reflexão: Se você descobrisse que sua filha ou neta, de 9 anos de idade, foi estuprada e está esperando filhos gêmeos, de quem você aceitaria um conselho, do bispo ou do médico?

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(*) Aproveitei este texto da Lucinha Peixoto, publicado no Blog da CIT (aqui), ao lembrar que amanhã é o Dia Internacional da Mulher. É uma homenagem às mulheres em geral, mas, em particular a ela, Lucinha, que nos brindou com textos como estes durante um bom tempo. Não sei  se e quando ela voltará do seu exílio voluntário, mas, torço para que seja breve.  Estaria curioso de saber o que ela acharia do "feminicídio".(ZC)

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