Visitando Bom Conselho - O futuro e a Rua dos Prefeitos

Estátua de Pedro de Lara - Bom Conselho - PE

Por Zé Carlos

Falamos do passado, do presente e agora tentarei falar do futuro de Bom Conselho. E tudo isto ainda é fruto de minha visita na Semana da Criança, na qual todos voltamos, um pouco, a ser uma delas. E foi com o espírito de menino que percorri a cidade.

Primeiro, deu-me vontade de subir a Serra de Santa Terezinha. Vi a Ermida lá de baixo do hotel onde estava, e primeiro me perguntei: O que aconteceu com a vegetação daquele monte? A Ermida se apresentava lá, bela e majestosa, no pico de uma serra pelada.

Até pensei que seria importante o desmatamento feito lá, talvez devido aos aspectos turísticos da Serra, ou mesmo porque, com o corte das árvores, não apareceriam mais os “lacerdinhas” que mijavam nos olhos dos meninos da minha época, sendo isto tomado como um milagre das árvores que choravam. Que boa lembrança!

Certa vez, eu e o resto da turma de minha inesquecível professora, Dona Lourdes Cardoso, subimos àquele monte para vermos as árvores chorando. Um pouco descrente, fui no embalo, e lá chegando, constatei que tudo era verdade. Estávamos ali, em pose de oração, debaixo da árvore, enquanto caiam gotículas d’água. Uns diziam que a árvore estava chorando por causa do Coronel, e outros diziam que era por causa do Padre.

Hoje já não tenho esta dúvida pois sei que não era água e sim o mijo dos “lacerdinhas” o que levou um prefeito, não me lembro qual, a cortar todos os pés de figo da cidade. Ou seja, era uma ação do tipo de jogar a criança no rio junto com a água do banho. No caso, era jogar os “lacerdinhas” no lixo, junto com as árvores.

Quando eu pensava que poderia dizer que hoje, os prefeitos agem de forma diferente e tiram as crianças da bacia e salvam as árvores antes de jogar fora o mal, ao subir lá na Serra, vi que tudo continua no mesmo. Para se ver a Ermida, jogam-se as árvores no lixo. E para mim, foi um choque, porque senti falta delas, mesmo tendo uma visão melhorada de nossa cidade, que como já disse, está crescendo, embora aleijada por falta de um Plano Diretor.

E o pior de tudo, muito além da falta dos belos eucaliptos que rodeavam a Igreja de Santa Terezinha, onde casei, foi constatar que não poderia nem renovar os votos de casado. Por que? Descobrimos que Santa Terezinha não se encontrava no local.

Pois vejam que coisa. Fui à Matriz e não vi o Zé Basílio, fui à A GAZETA e não vi o Luis Clério, e fui à Ermida e não vi Santa Terezinha. Não posso dizer que foi a melhor viagem que fiz à minha terra natal, mas, serve para nos estimular a ir lá mais vezes e ver todo mundo, inclusive a Santa.

Relevei a ausência de Santa Terezinha, porque agora, li na A GAZETA que ela já voltou à sua casa de sempre, de onde tinha se ausentado para mais uma missão de socorrer os fiéis, agora, sob a batuta do Padre Marcelo. E desci a Serra, sem antes deixar de notar uma construção bem perto da Ermida, que eu pensei fosse uma residência de verão do bispo de Garanhuns, pela seu tamanho e beleza. Fiquei chocado quando soube que era apenas uma residência particular, porque pensei no futuro da cidade. Se ali se criar mais um loteamento, dos tantos que vi por lá corre o risco até de Santa Terezinha não poder mais descer. Será que ainda conseguirei ver a casa da Santa lá de baixo?

E, falando em loteamento, fui visitar um deles porque meu cicerone disse que lá haviam feito uma homenagem a Pedro de Lara, a pessoa mais famosa de Bom Conselho. Minha curiosidade aumentou porque o nome do loteamento é Arabari. E por que não Pedro de Lara? Pelo tamanho da estátua que vi, penso, no futuro, ele vai ser o bairro do Pedro de Lara.

A homenagem é merecida por ele nunca ter deixado para trás suas memórias de Papacaça. E para mim pessoalmente porque lembro sempre do meu pai, quando falava no Pedro, que, para ele, era sempre o Pedro Rabo Branco que trabalhou na padaria do meu avô.

Foram boas recordações diante daquele monumento, para enfrentar mais ainda o Bom Conselho do futuro. Próxima parada, Rua José do Amaral, antiga Rua da Cadeia, onde cresci, e agora a vi serpentear pelo mundo afora chegando quase ao Papacacinha, onde um dia habitei. Penso que, pela forma como se constrói na cidade, brevemente, para chegar lá vindo de Recife, já a podemos entrar por esta rua lá em Terezinha. É o futuro.

Mesma coisa para a Avenida XV de Novembro, antiga Rua de Maneléu, onde aprendi a jogar futebol na areia, aprendi a nadar no Açude de seu Lírio e fiz outras peripécias infantis. Agora o rural se transformou em urbano, e Bom Conselho continua a serpentear, e, desconfio, que não sabe para onde vai.

Minha última parada foi um bairro que já conhecia, que é o de N. S. de Fátima. Só o nome da santa já me traz algumas memórias. Não me lembro o ano, mas, eu era bem pequeno, quando houve uma peregrinação da Santa, e por isso, neste ano, quase todas as meninas nascidas nele foram chamadas Maria de Fátima. Eu conheço umas dez.

E foi neste bairro que passamos em uma rua onde me disseram que lá moravam, na mesma rua, dois ex-prefeitos e o prefeito atual. Não perguntei como era no nome da rua, porque deve ser o óbvio: Rua dos Prefeitos. Eu não entendo nada de política em Bom Conselho, a não ser da política do tempo do Coronel. Fiquei pensando se isto seria possível naquela época: três prefeitos morarem juntos sem haver brigas de vizinho.

E, como estou falando do futuro, me contaram que pode haver uma disputa entre eles nas próximas eleições municipais. Que N. S. de Fátima proteja o seu bairro, porque se a política da terra continuar a mesma vai haver invasão de quintais e brigas por cima do muro.

No entanto, não saindo do tema da política, o que vi mesmo por lá, e ouvi dos meus informantes, o que não faltam são pessoas querendo ir morar na Rua dos Prefeitos. Não vi se ainda há terreno vazio, mas é um bom local para investir.