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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

PAU DE ARARA ASSOMBRADO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Nos anos quarenta e cinquenta, os paus de arara era comum nas cidades do interior. Eram caminhões que na carroceria colocava tabuas inseridas nas grades, onde os romeiros sentavam-se ali para começar a sua peregrinação para pagar as suas promessas aos santos de sua devoção. Muitos paus de araras eram cobertos por uma lona para abrigar os romeiros do sol abrasador do sertão e da poeira que subia da estrada de chão. Sempre saiam de madrugada para pegar a brisa da manhã. As cantigas desafinadas e chorosas entoadas pelas mulheres devotas soavam pela estrada quando passava em frente de alguma casinha nos sítios era ouvidas. Os moradores davam adeus com os seus panos brancos nas mãos. Muitos iam pagar suas promessas ao Padre Cicero, em Juazeiro do Norte santo de sua devoção e de muitas curas obtidas pelos pecadores. Ninguém ousava duvidar desta fé. Outros iam para Canindé, pagar suas promessas com São Francisco de Canindé, no Ceará. Os mais ousados seguiam viagem para São Paulo, o eldorado da metade do século passado. A travessia era longa, cansativa durando mais de vinte dias. Muitos chagavam arrasados, estropiados com pés inchados, dores de cabeça e tontos mais com fé em Deus, chegavam com alegria na terra prometida por uma vida melhor, ignorando a musica do Rei do Baião – Só deixo meu cariri no último pau de arara. Com o tempo muitos se arrependiam e pegavam novo pau da arara de volta para o nordeste.  Levavam de tudo, farinha, galinha assada, carne de charque, rapadura, pão, beiju e tapioca e uma maleta da madeira cheia de roupas para trocarem quando chegasse à cidade grande. De vez em quando o caminhão pau de arara parava para as pessoas fazerem suas necessidades. Descansavam sempre embaixo de uma arvores, ali acendia o fogo esquentava e comia para seguir viagem. Os homens, mais afoitos, tomavam goles de cachaça Galo Preto com um pedaço de carne de galinha ou de charque como tira gosto. Às vezes algum tocava uma toada de Luiz Gonzaga, que andava pela região fazendo os seus shows com a sua sanfona e com o seu trajes de cangaceiro. Quando entravam na cidade de Juazeiro as mulheres se alegravam e cantavam alto – Minha santa beata mocinha / eu vim aqui vim ver meu padim / Meu padim fez uma viagem / deixou Juazeiro sozinho. Na volta das suas peregrinações um dos paus de arara trazia um caixão de defunto, coberto com uma lona para ninguém desconfiar daquele embrulho. O caminhão era descoberto, não tinha lona, todos tinham que aguentar o sol e chuva e a poeira. Os homens, com os seus chapéus de palha ou de couro e a mulheres com lenços coloridos na cabeça e cobrindo parte do rosto por causa da poeira.  Um peregrino pegou o bigu atrelado a uma sanfona que foi alegria dos passageiros anônimos. Outro com uma zabumba e um triangulo alegrava as cidades que passavam ganhando alguns trocados. A alegria do pessoal foi aplaudida. Xote baião, toadas tudo era tocado pelo sanfoneiro desconhecido. De vez em quando e quando a sanfona parava lá vinha à reza do rosário pelas mulheres. Em cada mistério, cantava-se – Neste dia ó Maria nós te damos nosso amor/ Céus e terra estão cantando celebrando seu louvor, O tempo pela manhã começou ensolarado. A tarde começou a se tornar escuro, com nuvens que carregadas. Alguns relâmpagos apareceram acompanhado de trovão angustiado.  Todos olhavam para o céu, já se preparando para a chuva que se aproximava. Muitos diziam – graças da Deus.  Deus permita que São Padro abra as torneiras do céu para amenizar o calor e seca do nosso sertão. O caminhão rodava sem parar. De vez em quando o chofer buzinava assustando os bois que estavam na estrada. Os solavancos e as curvas faziam que romeiros se segurassem e amenizassem o sofrimento do esqueleto. As mulheres eram que mais reclamavam do chofer para fossem mais devagar se não chegava à casa inteira. Os pingos de chuva comeram a aparecer, foi engrossando e de repente muitas mulheres prevenidas abriram as suas sobrinhas, que aparava o sol, agora a chuva. Todos preocupados não notaram que o homem que tocava triangulo entrou num caixão de defunto que vinha na frente da carroceira. Abriu e deitou-se, deixando uma brecha para respirar, enquanto estava chovendo estava abrigado. Em pouco mais de uma hora a chuva passou e as pessoas começaram a se enxugar com toalhas desbotadas e fechando as sobrinhas, pois o calor que sentia diminuíra. O chofer parou em baixo de uma gameleira para o asseio e o lanche. O seu Vavá notou dentro do caixão que chuva havia parado, levantou a tampa e disse – A chuva já passou! Homens e mulheres correram para todos os lados deixando seus pertences até que foi esclarecido o fato, pelo causador da assombração, - disse – Olhei para um lado para outro e não via nenhum abrigo e somente este caixão entrei e não me molhei.  

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