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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O depoimento do "assessor de propinas", a moral e as urnas




Por Zezinho de Caetés

Hoje se apresentará à CPMI o Paulo Roberto Costa, que só foi convocado no intuito dele repetir, como está dizendo na Delação Premiada, quem esteve com ele em sua jornada sórdida ao produzir o Petrolão, ou Mensalão 2. Alguns já apareceram no vazamento conseguido pela revista Veja e outros, não vazados, ainda podem aparecer. Mas, se for pelo que se conclui das pesquisa e também do texto do jornalista Ruy Fabiano que abaixo transcrevo (Blog do Noblat – “A moral e as urnas” – 13/09/2014), tudo não passará de mais um enrolação, e desta vez, a culpa será da Lei.

Li, ainda ontem, que se o assessor para assuntos de propina da Petrobrás, abrir a boca, ele perderá todos os benefícios da delação premiada, e voltaria à estaca zero, no que concerne a sua possibilidade de ser solto e tudo mais. Estranha lei, mas, como se diz: Dura Lex sed Lex. O que fazer então, para que toda esta nojeira que ele sabe seja colocada num ventilador mais forte do que aquele em que já foi jogado pela imprensa independente antes da eleição, e que possa acordar o eleitor do marasmo em que vive ao acreditar que ele só corre risco se acabar o monte de bolsas que o PT distribui?

Para mim só com o uso adequado do jornalismo investigativo como fez a Veja, da qual o PT tem tanto medo, que ninguém no partido dorme mais da sexta-feira para o sábado, esperando o que vai vir na próxima edição. Eu não sei se o vazamento de algum depoimento é tão ilegal quanto deixar o povo na ignorância. Eu só sei que o vazamento é mais moral, do ponto de vista político.

No limite das boas expectativas para uma eleição estaria a noção de que o eleitor teria o máximo de informação para tomar uma decisão consciente. E o silêncio de um propineiro já é um grande obstáculo para que este limite seja atingido. Informação, então, é o melhor remédio. Se pudesse ser sem vazamento melhor. Já que não pode....

Mas, vamos esperar o depoimento e ver como se comportarão os parlamentares da CPMI, para fazer com que na eleição não se suponha que algum deles esteja envolvido. Neste caso, qualquer corpo mole é denunciante.

Fiquem com o texto do Fabiano, vejam o resultado do depoimento e veja, mesmo que o assessor para propinas, o Paulinho, como o chamava Lula, diz mais alguma coisa para que o país não pereça mais 4 anos nas mãos do PT.

“Mais chocante que as revelações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras na Era PT, é ausência de efeitos concretos sobre a campanha eleitoral. Ao que parece, não houve tempo para que o eleitor avaliasse a extensão e gravidade do que foi dito.

Há ainda a esperança de que na quarta-feira próxima, na CPMI da Petrobras, ele acrescente mais revelações. Mas o procurador da República, Rodrigo Janot, não só já avisou que não revelará o depoimento de Costa, como é contrário à sua ida à CPMI. Um procurador, enfim, que não procura nada.

Costa, funcionário de carreira da Petrobras, ascendeu, no período Lula, à cúpula da estatal. Ocupou a diretoria de Refinaria e Abastecimento, cujos cofres passou a violar, seguindo as orientações da cúpula política do PT, providenciando propinas de negociatas bilionárias, que abasteciam os cofres dos aliados.

Foi o Marcos Valério do Petrolão. O dinheiro comprava lideranças políticas dos partidos aliados, para garantir a maioria governista no Congresso. Mensalão 2, como disse Aécio Neves.

Em seu depoimento, Costa garantiu que Lula sabia de tudo e despachava frequentemente com ele. Dilma foi, nesse período – que durou de 2003 até 2012 – ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho da Petrobras e presidente da República. Não sabia de nada, como seu antecessor. Mensalão 2, mais uma vez.

O que até aqui se sabe é pouco. Presume-se que o que vazou corresponda ao que se pode provar, já que delação premiada só funciona na medida em que o delator forneça indícios concretos do que diz. Caso contrário, não recebe os benefícios. Há, portanto, muito mais, ainda por se conhecer.

Porém, o que já se sabe seria suficiente, num país normal, para causar um abalo sísmico na campanha. Não causou. Dilma, ao contrário, recuperou alguns votos e persiste na liderança. Seus antagonistas não têm sido brilhantes em dimensionar o delito em pauta, já que o público não demonstra o espanto que se esperava.

Abstenho-me de me aprofundar nos crimes revelados, que já consumiram páginas e páginas de jornais e revistas, que poucos leem. Intriga-me a indiferença do público. Se a Justiça Eleitoral não tivesse impugnado a candidatura de José Roberto Arruda, ele provavelmente seria o próximo governador de Brasília.

As denúncias sobre seu passado recente – inclusive o de ter sido apeado do governo que agora queria reocupar – estão na memória de todos. Não obstante, era o favorito. “Rouba, mas faz”, dizem seus eleitores. Os de Dilma dirão o quê?

Quando Lula foi reeleito, em pleno vendaval do Mensalão, a economia ia bem, o crédito bombava e as bolsas sociais exerciam seu efeito anestésico sobre a população mais carente. Essa circunstância sobrepôs-se ao ambiente de degradação moral exposto pelo Mensalão. Prevaleceu o bolso.

Agora, porém, a economia vai mal, a inflação voltou, o crédito está inacessível e, mesmo assim, as denúncias não colam. O que parece ocorrer é o descrédito geral em relação ao que vem do meio político. Os escândalos banalizaram-se.

Fazem parte do roteiro. Há aí uma tese sociológica a aprofundar – e que, por óbvio, não cabe num artigo, nem cabe a um jornalista. O povo não toma mais conhecimento de escândalos e prefere votar em quem lhes concede benefícios, ainda que parcos, como o Bolsa-Família. Não quer trocar o “certo” pelo duvidoso – e duvidoso tornou-se tudo aquilo que os políticos lhe prometem e não tem curso consagrado na vida real.

Marina e Aécio são promessas – e o povo, ao que parece, já não acredita em promessas de políticos. Dilma é ruim, mas já é conhecida. Esse o ponto de vista que se capta em conversas com motoristas de táxi, ambulantes e pessoas que descreem do futuro e preferem raciocinar tendo em vista o dia a dia.

Não há sentimento moral – pelo menos não se aplica às eleições. Como mudar isso? Insistindo, apesar de todos os pesares, na educação política do povo. Mas quem quer isso? O apelo a temas de natureza religiosa, comum nesses momentos, não é gratuito: parece ser o ponto vulnerável dos petistas.

E há aí um paradoxo: o mesmo povo, insensível aos desmandos dos políticos, comove-se com temas religiosos, cuja essência é de ordem essencialmente moral.

Aborto, casamento gay, legalização das drogas, nada disso depende diretamente do presidente da República. São causas que se resolvem no Congresso – e, portanto, deveriam estar sendo dirigidas aos candidatos ao Legislativo. Mas ninguém se preocupa com eles, nem eles têm tempo (ou qualificação) para explicar o que quer que seja. Dispõem de segundos no horário eleitoral.


O voto acaba sendo decidido por questões de profunda subjetividade, decorrentes da empatia que cada candidato transmite ao eleitor. Programas, projetos, compromissos passam ao largo. Essa, por enquanto, é a democracia que temos, sólida e perfumada como um flactus.”

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