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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Reiginaldo, o Rossi. Ou a pedra que canta?




Por Carlos Sena (*)

O que dizer do Rossi? Deem-me uma dose de uísque que eu tento. Deem-me um bom cigarro que eu tento. Pela dúvida, deem-me uma radiola de ficha que, aí sim, eu não tento, eu digo quem é ele. Poderei dizer que é nosso rei. Mas isso é pouco. Poderei dizer que é nosso ícone do brega. Do brega? Sim, do brega, porque sem briga o Rossi foi a maior tradução quer gostem as raposas, quer gostem as uvas. E que não me deixem mentir os garçons que nas ondas dos rádios se imortalizaram pela canção. E que não me deixem mentir os cabarés que hoje fecham as portas, descerram-na, porque o Rossi se foi. E que não me deixem mentir as noites frias, despudoradas, porque os botecos todos hoje fecharam mais cedo por conta do luto, do degredo abrupto do ídolo legitimo que do povo se evadiu; que rumo às estrelas do firmamento se foi para se confundir com elas.

O que dizer do Rei? O que dizer da tosse alveolar que lhe calou a voz? Voz que outrora nos invadia os sentidos com sentidos obtusos contrários à falsa moral burguesa e fedorenta. O rei catou e foi cantado. Foi também catado. Nunca recatado, porque fazia do deboche seu mote; do chifre um “disse-me-disse”; da cachaça uma paixão; do cigarro, pitada de ilusão que se espalhava no ar contaminando a emoção dos pudicos e levando os impuros aos sentimentos de ocasião e de fossa.

O que dizer do Rossi? Que Pernambuco chora? Disso ele já sabia em vida. Porque ele tinha certeza que “Recife era seu lugar”; que Itamaracá continua lá; que os Garçons continuam a cantar na mesa de bar; que era Leviana a imaginação de que Reginaldo não era da nossa elite musical... Assim, o que dizer da elite musical? Quem, neste país, como cantor ou músico, chegaria aonde ele chegou? O Rei do brega era do naipe do Roberto, do Caetano, do Cayme, do... O diferencial dele é que ele era raiz. Nunca deixou de ser “batata, macaxeira”, ou o que melhor lhe servisse de ponte para ficar perto da raiz do povo, especialmente de Pernambuco. Cantou a dor de corno. Cantou o amor desclassificado, mas amor. Era assumidamente ele. Falava línguas. Entendia de escala musical, compunha, fazia primorosas versões, era amigo do Rei Roberto de quem, diante da “Raposa e as Uvas” teria ouvido ser a música que ele gostaria de ter feito...
Assim, pra que dizer nada dele nesta hora que ele se vai para outro plano? Melhor deixar tocar suas canções. Melhor entender que Recife é o seu lugar. Que Itamaracá continuará sendo a pedra que canta...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 20/12/2013

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