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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O CACHORRO DE BOTAS - Um cachorro sem nenhum caráter


O CACHORRO DE BOTAS


Por Zé Carlos

Da última vez que me travesti de Vovô Zé deixei no ar a possibilidade de contar as estórias do Cachorro de Botas. E, não por acaso, encontrei o dito animal, outro dia e falei do Miguel (meu neto mais novo) para ele. Ele fez uma cara estranha, pior do que sua verdadeira cara (vejam foto que ilustra esta postagem, que segundo ele é sua foto oficial) que é mais feia do que a da mula sem cabeça, que corria solta lá em Bom Conselho, eu suponho, porque nunca a vi ao vivo, e perguntou, com aquela voz cavernosa, muito imitada pelo Cid Moreira:

- Eu adoro crianças! Ontem comi duas!

Eu, já comecei a ficar com o pé atrás, talvez pelo hábito de ler as histórias do Gato de Botas, e nunca ouvir que ele comesse criancinhas. Obviamente, eu não contei nada disto para o Miguel. E ele só irá saber quando puder ler o Vovô Zé, e espero, junto com o Davi, o mais velho, que deverá lhe explicar alguma coisa que ele não entenda.

Mas, o encontro com o Cachorro de Botas, cujo nome é Nick e mora no mesmo prédio que eu, apesar da surpresa da afirmação inicial, levou a várias estórias, que resolvi contar, mesmo sabendo que os meus netos, com as idades que têm hoje, mesmo que soubessem ler, não iriam entender muito bem. Mas, no futuro, quem sabe, lhes sejam úteis. Eu farei um relato, resumido pois conversamos por várias horas, e toda vez que nos encontramos ele vem com outra estória. E já peço perdão ao Nick, se não interpretei direito alguns dos seus pensamentos e isto não atrapalhe a compreensão dos meus netos, no futuro, pois neste momento o entendimento do Miguel foi pouco, pelo número de vezes que ele falou sua frase mais usada em caso de dúvida:

- Oi?!!!!!

Começando do começo, o Nick fez sua apresentação:

- Bem, como é evidente, eu sou um cachorro e sou comprovadamente um mau-caráter.

Miguel e Davi começaram a prestar atenção, pois não entenderam o que era mau-caráter. E Miguel já se manifestou:

- Oi?!!!!

Óbvio que eu tinha que explicar alguns termos usados pelo Nick para que os meus netos ficassem atentos, e farei isto sempre que ouvir a onomatopeia (será que é isto mesmo?) do Miguel, porque eles têm pelo menos que entender alguma coisa agora.

Depois de explicar que mau-caráter é tudo de ruim, e que, portanto, o Cachorro de Botas não seria muito confiável, resumi dizendo que ele era um vilão.

- Igual ao Pinguim do Batman?

Perguntou Davi de pronto. Fiquei alegre porque eles entenderam que não seria bom seguir as pegadas do Nick em suas vidas. Só fiquei em dúvida se realmente deveria contar as façanhas daquele cachorro, réu confesso quanto ao mau-caratismo. Continuei minha fala, contando a outra fase dele em nossa primeira conversa:

- Eu sou de uma longa linhagem brasileira de maus-caracteres.

- Oi?!!! Vovô Zé, o que é isto?

Eu explico Miguel, já começando a história do Cachorro de Botas, segundo ele próprio, com possíveis erros meus de interpretação.

O Nick era descendente de um cachorro de Pero Vaz de Caminha, que veio nas primeiras caravelas para o Brasil, junto com Pedro Álvares Cabral. Ele começava sua história, sempre dizendo isto, para mostrar que o mau-caratismo no Brasil vem de muito tempo. Quando o Pero Vaz de Caminha mandou pedir ao rei de Portugal um emprego para um seu parente, o parente do Nick estava por perto e contou a estória para seus descendentes, que, pelas suas naturezas, adoraram.

O Nick sempre enfatizou que nem sempre os cachorros seguiam os valores dos seus donos, mas, diante de certos fatos, é muito difícil tirar a culpa deles no comportamento dos pobres animais. E, também, sempre frisava que, a partir daquela época do descobrimento, o mau-caráter da cachorrada sempre foi aumentando. Se foi mera coincidência ou não, fica para os historiadores humanos decidirem, se isto se aplica também aos donos. E eu continuo contando as estórias e peripécias de um cachorro. Portanto, qualquer semelhança com seus donos, é mera coincidência mesmo. Será?

O Nick disse que era natural de Caruaru, filho de um cadela pertencente a um vereador da cidade, do qual ele não lembra o nome. Veio para o Recife ainda pequeno e não demorou muito para se tornar um revoltado, pois não via em seus novos donos nenhuma de suas características de maldade, que ele presenciou nos anteriores que o abandonaram ainda com os olhos fechados. Era como um estranho fora do ninho, desde pequenininho. Para não ficar tão isolado ele visitava outros cães da cidade que tivessem tão mau caráter quanto ele. Isto agora, que já está em idade avançada, pois antes ele viajou para muitos lugares, sempre a procura de cachorros maus-caracteres para interagir com eles.

- Oi?!!!!

Interagir que dizer brincar, neste caso, Miguel. Apesar dele ter contado estórias de suas andanças com cachorros de outros lugares, por exemplo, quando ele esteve com a cachorro do Lula (que lhe deu, segundo ele, bons maus exemplos de comportamento), lá em Brasília, ele resolveu contar algumas façanhas dele aqui em Recife mesmo, nestas primeiras conversas.

Recentemente, ele encontrou um cachorro vira-lata que, sentindo-se careca, resolveu fazer implante de cabelo. Dizem que foram 10.000 e tantos cabelos, retirados do seu rabo para colocar em sua cabeça. O seu dono aproveitou a vinda do animalzinho pelado e também praticou um implante.

- Oi?!!!!

Já sei Miguel! Você quer dizer que não há nenhum mau-caratismo em implantar cabelos. Eu também acho que não, mas, o amigo do Nick usou avião da FAB, e fez xixi na cabine do comandante, para marcar território. Dizem que um cachorro do Zé Dirceu fez a mesma coisa. Embora digam que ele fez o número 2 no colo do pobre comandante.


Quando olhei para o Miguel, nesta hora, depois do almoço, não houve jeito. Ele estava dormindo. O Davi já estava jogando bola. Mas, eles não perdem por esperar. Continuarei contando depois as façanhas do Cachorro de Botas, o cachorro sem nenhum caráter.

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