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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Testemunhos do Vovô Zé - A viagem - II


Davi e Miguel


Por Zé Carlos

E os pais de Davi e Miguel continuaram viajando e nós, eu e a Vovó Marli, só lambendo nossas crias, em segundo grau. Fica difícil saber por onde continuamos a narrativa, porém, se estes escritos são apenas para nossos netos lerem no futuro, não há muito importância de qual seja o próximo tópico. O essencial é que eles relembrem ou conheçam os fatos (como ocorrerá com o mais novo) de alguma forma.

Uma das boas aventuras que tivemos foi levar o Davi para a aula de natação. Agora eu volto à primeira pessoa para narrar o porquê.

Lembrei-me de minha própria história para aprender a nadar, lá em Bom Conselho. Quem já foi criança sabe como a água, o contacto com ela, é prazerosa, que seja numa piscina, num açude ou mesmo no mar. O que eu repelia mesmo, em termos de água, era a hora do banho de chuveiro, quando não tínhamos nem mesmo eletricidade, quando mais chuveiro com água quente. Lembro de minha mãe, com dó da gente, esquentando um pouco d’água para eu não ter que sofrer as consequências do banho frio, em pleno inverno em nossa cidade. Era quase mortal, e justifica a inexistência da cultura do banho diário naquela época. Não éramos sujos, éramos apenas humanos com frio.

Mas, quando se tratava do Açude de Seu Lírio. A coisa mudava de figura, mesmo que a água fosse mais fria do que a do chuveiro. E não foi só neste açude que eu tentei, por uma porção de tempo, aprender a nadar. Não pensem que vou falar em piscina. Isto naquela época seria um palavrão. Eu falo é do Riacho Papacacinha mesmo, em vários trechos que eu e meus colegas descobríamos para aprender a nadar. Normalmente, eram trechos que os mais velhos diziam que “dava pé”. E isto era bastante relativo, porque, com nossas idades diferenciadas, nossas alturas também o eram, e muitas vezes poderiam ocorrer acidentes e ficarmos engolindo aquela água, nem sempre limpa, do riacho. Não sei, se, hoje, como a poluição do riacho, alguém continuaria vivo depois da ingestão do precioso líquido.

Depois de uma longa tentativa, eu, finalmente, um belo dia, comecei a bater com os pés e com as mãos e notei que não estava afundando. Aleluia, aleluia. Estava ali surgindo mais um campeão de natação. O bom da infância, penso eu, é que qualquer sucesso momentâneo nos levar a pensar maior do que o que ocorre na idade adulta. Se pensei em ser Garrincha e jogar na seleção brasileira quando o Brasil foi campeão mundial de futebol em 58, eu devo ter pensado em ser campeão de natação, mesmo que, não soubesse do nome de nenhum campeão naquela época. Mas, lembro bem, foi um momento mágico. Confesso que, depois daquela “boiada”, e depois de boiar, boiar e boiar por muito tempo, nunca progredi muito no esporte. Hoje o que faço é ainda bater os pés e os braços e boiar. Só um pouco mais cansado.

No entanto, volto aos meus netos, e às aulas de natação do Davi, o mais velho. O Miguel ainda não foi apresentado àquela piscina, que surpreendeu o Vovô Zé pela sofisticação.

Primeiro a piscina é aquecida. Já pensaram o Riacho Papacacinha, morninho, morninho? Pois foi o que pensei. E segundo, havia uma professora só para ensinar o Davi a nadar. Então eu apenas constatei o fato de que a vida hoje é muito mais quente, pelo menos para os meus netos. E, falando de água, não é só a piscina que é morna, o chuveiro também. E hoje vejo porque os meninos tomam mais banho do que eu tomava. Graças a Deus.

O bom para nós nestas idas à natação era também a possibilidade de, enquanto a aula transcorria, o Vovô Zé ia ver o entorno, e, quase sempre comparando com aquele de sua própria infância. Era nostalgia pura, mas, um contraste absoluto, no tempo e no espaço.

Hoje, a cidade onde moram meus netos e onde fazem estas atividades, representa o salto na diferença de vida das crianças em relação à minha época. O que não muda mesmo é a nossa criancice, e o gosto pela água, seja ela quente ou fria. Porém, confesso, eu preferiria um açude morninho, se tivesse escolha.


Já agora, tempos depois das aulas de natação durante a viagem, minha filha me contou que o Davi começou a boiar e que já está nadando. Se a emoção que ele teve quando descobriu isto foi igual a do Vovô Zé, com as condições que tem hoje, deverá ser um campeão de natação. Embora, pensando bem, penso que ele breve será convocado pelo Felipão, pois o “muleque” já chuta com os dois pés.

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