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terça-feira, 4 de abril de 2017

DEPOIS DA QUEDA, O COICE




            Por Thiago Santos Lima

            Vamos ser sinceros, Dilma precisava sair. Os órgãos do Poder Executivo desmoronavam a cada dia que ela governava o País. Seus ministros atuais e de outrora e seus aliados no Congresso Nacional eram levados todo santo dia pela Polícia Federal para depor ou, pior, para ficarem presos temporária ou preventivamente. O cenário econômico era desolador, o Brasil cotidianamente perdia a confiança de seus cidadãos (sem contar a imagem no exterior) a cada pronunciamento desconexo ou nomeação nefasta que ela fazia. A Presidenta – como ela preferia ser chamada – caiu por sua própria incompetência, mais do que pela horda de maus caráteres com quem convivia.

            Seu governo foi responsável pela pior recessão econômica desde 1948, quando esses dados começaram a ser coletados pelo IBGE. A Petrobras foi saqueada até dizer basta, além de ter sido usada por vários anos como instrumento de política econômica contra a inflação; os Correios tiveram prejuízo de 2 bilhões de reais, a Caixa Econômica reduziu seu lucro em 42% e o Orçamento Federal terminou 2016 com um módico rombo de apenas 170 bilhões de reais! E, apesar desse quadro, o discurso da presidenta se mantinha na mesma linha: “tudo foi necessário para preservar as conquistas sociais dos brasileiros”. Em resumo, Dona Dilma Rousseff detonou a economia nacional em prol das “conquistas sociais” ou, numa visão menos idílica, na compra da dependência dos mais pobres.

            Michel Temer assumiu o País. Sob uivos de “golpista” ou de “salvador da pátria”, por disposição constitucional, senta na cadeira do Palácio do Planalto e promete, de pé junto, não querer ser reeleito, para ter a liberdade de fazer as reformas que a nação precisa, naquela típica conversa de político “de raiz”. Propõe reforma previdenciária, trabalhista, tributária, do ensino etc. Tem seus primeiros instantes de glória. Promete, ainda, o que os brasileiros mais queriam ouvir: a não interferência na Lava Jato. Porém, à semelhança de sua antecessora, vê que quase ninguém, nos altos escalões da Capital Federal, está de fato interessado no bem do Brasil, senão no seu próprio umbigo.

            Aos poucos, a conta dos congressistas começa a chegar. Quer dizer, deles e de quem os financia. Afinal, o apoio para galgar a Presidência não sairia de graça, assim tão barato. E a maior marca de que esse preço chegou foi a correria para aprovar a lei da terceirização, a qual, por unanimidade das entidades trabalhistas, é um soco de direita no trabalhador, eivada até de inconstitucionalidade.

            Jogando a real, o fato é que Temer quer sancioná-la, porque, como dizem alguns, pagaria duas faturas num ato só, uma a Paulo Skaf, presidente da FIESP (a dona do patinho amarelo da Avenida Paulista), e outra a Eunício Oliveira, presidente do Senado e dono duma das maiores empresas de terceirização do País. No entanto, como nem tudo são flores, o assunto caiu na boca do povo e, de forma geral, os cidadãos não estão muito simpáticos a essa lei, pois, para além da bem possível precarização do trabalho, tal norma pode servir de pano de fundo para toda sorte de nepotismo e corrupção nas entranhas da República. Temer agora pode até vetá-la, antes de mais um discurso cheio de mesóclise, mas não por sua íntima vontade, e sim pelo “queima político” que ela pode causar.   

            Agora, peço uma atenção especial. Entre Dilma e Temer temos duas faces da mesma moeda. Dilma esfrangalhou a economia por conta das ditas conquistas sociais, ao passo que Temer rasga as conquistas sociais em prol de avanços econômicos. Tanto um quanto o outro incorporam o que a filosofia chama de falácia, que é um raciocínio em que temos apenas uma de duas opções a ser feita, uma anulando a outra. É típico da falácia esconder que existem mais de duas possibilidades, que o mundo não é só preto e branco, algo que Dilma e Temer, por serem escravos de seus submundos, preferem nem conhecer.

            Enquanto embate de ideias, bons argumentos podem sustentar qualquer visão de mundo dessas, tanto a de Temer quanto a de Dilma. O problema é que abaixo dessa abstração conceitual existe um mundo real, pouquíssimo conhecido pelos palacianos da Brasília, no qual se encontram os milhões de Josés e Marias, os cidadãos comuns, que, no governo Dilma, perderam seus empregos e agora, no governo Temer, perdem também seus direitos.

            É assim?! O que resta a um Presidente é tomar decisões desgraçadas de tudo ou nada? Penso sinceramente que não, sobretudo porque o problema principal do Brasil não é econômico nem social, mas político, e esse, ainda que tenha de ser suportado pelos brasileiros – porque somos nós afinal que elegemos essa malandragem toda – não pode ser enfiado de goela abaixo travestido do discurso econômico ou do “mimimi” social.


            Ah, no país da piada pronta, a tragicomédia não poderia passar sem uma última observação: Dilma é economista e quebrou a economia e Temer, que é jurista, está disposto, se preciso for, a picotar a Constituição. Que decepção, doutores! Não foi para isso que Vossas Excelências jogaram os capelos aos ares.

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