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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

VENDEDOR DE PIRULITO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Esta semana recordei o Seu Benigno, homem que vendia pirulito pelas ruas de Bom Conselho, toda tarde passando pela minha querida Rua do Caborje, onde corria até a minha mãe pedindo alguns trocados para comprar o pirulito enrolado em papel de embrulho em varias corres, rosa, azul e cinza. Com a sua gaita estridente apitava anunciando a sua passagem por volta das quatro horas da tarde, trazendo nos furos os pirulitos na tabuleta escorada no ombro como se fosse uma bandeira, gritando “olhe o pirulito, docinho que só mel” com o chapéu de palha circulando por uma fita azul no queixo. As alpercatas de solado de pneu e a calça dobrada mostrando os tornozelos grossos. A camisa aberta até o peito mostrando um rosário de continhas azuis e brancas e a cruz brilhante.  Sorria mostrando a dentadura falha, quando as crianças corriam para casa e ele estava à espera, muitas vezes sem que os compradores mirins adquirissem alguns daqueles pirulitos. Não se incomodava quando não vendia, vendo amanhã é outro dia, resmungava. Andava por todo Bom Conselho parando na Praça Pedro II, onde descansava da andança, sentado em um dos bancos vendendo alguns pirulitos aos passeantes da tarde. Moças e rapazes gostavam do adocicado. Recolhia-se já ao anoitecer pela Rua da Cadeia com o tabuleiro cheio de buraquinhos vazios. Era o seu sustento. No sábado vendia tudo na feira, percorrendo o “quadro” nas calçadas das lojas. Os meninos vindos dos sítios compravam todos os pirulitos lá se ia contente com o tabuleiro vazio, assoviando Mulher Rendeira, com a mão no bolso e o tabuleiro carregado na mão como se fosse uma vassoura, depois de tomar algum trago no bar de João Presideu.  Às vezes ficava na escada da Matriz, sentado observando os passeantes na praça e ouvindo algumas musicas saindo do alto falante. Olhava para cima e via as palmeiras imperais na Praça Pedro II adornadas pelos canteiros de flores vivas e coloridas. Esta recordação do meu tempo de criança se faz devido o senhor, seu Alípio já de idade, passar na minha Rua em Jardim Atlântico com estes gostosos pirulitos. Disse-me ele, já vendia estes docezinhos na Paraíba, quando morava lá pela cidade de Santa Izabel. Veio ao Recife e trabalhou como pedreiro, vendedor ambulante e se aposentou com uma micharia que não dava nem para pagar o barraco em uma favela em Maranguape. Resolveu vender o que vendia já há tempo em sua cidade. Não queria voltar, mesmo contra a vontade de sua mulher Dona Florinda, pois lá seria a mesma coisa, e aqui já vendia dois tabuleiros com cem pirulitos, um pela manhã e outro à tarde. Tinha grande freguesia na praia aos domingos com as crianças e também com a beleza do mar coisa que somente veio ter contato quando aqui chegou. Vendia também no calçadão, da praia. Muitos compravam e saiam a chupar este delicioso passa tempo caminhando devagar e bebericando agua gelada para aplacar a sede do sol e do doce.  Não pagava mais transporte, pois tinha acima de sessenta e cinco anos de idade, já era uma economia. Não gostava de ficar em casa, pois desde criança já trabalhava na roça com o Pai Zezinho de sol a sol. Tempo para estudar quase não tinha, pois seu pai era mais pobre do que eu, disse. Já tinha um filho formado em economia, mas não fazia nenhuma economia gastava muito nas farras de final de semana. A outra casada com comerciário de uma das lojas do Recife, vinha todo final de semana para sua casa. E assim a vida ia levando até que Deus os levasse para morada eterna, acreditava. Não resisti comprei dez pirulitos a cinquenta centavos cada um e coloquei na geladeira para distribuir com os meus netos. Agradeceu deu um apito estridente e saiu em direção a outras ruas do bairro. Fiquei pensando, mesmo com tecnologia existente nos dias de hoje, ainda existe pessoas simples que nos levam ao passado de criança.

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