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terça-feira, 9 de junho de 2015

DEFUNTO PERFUMADO




Por Jose Antonio Taveira Belo / Zetinho


 O telefone toca. Verinha atende. Alo! Alo! Quem é? É da casa de Fabinho? Sim. Ele esta? Esta dormindo, chegou tarde e esta com uma ressaca danada. Chame-o com urgência, Eustáquio morreu, Acordou aborrecido. Quem manou me chamar? Sei lá disse Verinha indo para cozinha.  Fala bicho, o que tu queres esta hora? Estou descansando da farra de ontem. Diz o que queres estou com uma dor de cabeça horrível. O defunto perfumado morreu. O que! Pois foi meu parceiro. Foi dormir e acordou morto. Ou melhor, não acordou, foi tomar uma no céu. Deixa de brincadeira. A mulher desconfiou balançou e ele ali estava duro, de olhos virados e boca aberta. Foi um susto. O velório vai ser no cemitério de Santo Amaro e o enterro às 16 horas. Mas é verdade mesmo ou tu estas de brincadeira. Eu ia brincar com uma coisa desta? Ontem ele estava no Savoy todo cheio de vida, rindo das brincadeiras e até tirando “onda” com Careca, o garçom.  Eustáquio era um homem elegante. Vivia nos finais de semana rodando os bares do centro do Recife, principalmente, o Savoy. Era esquelético, rosto chupado, olhos fundos e grandes orelhas e cabelos ralos. Um bigode fininho era o seu orgulho. Gostava de se vestir sempre de calça branca e camisas de seda de cor ou florida. Sapatos sempre pretos e brilhando. O sorriso largo mostrando os dentes amarela devido o uso do cigarro. Unhas feitas no Salão de Beleza de Dona Edileusa na Praça de Convenção, em Beberibe. O perfume exalava aonde ele chegava. Perfume barato comprado lá pelas bandas do Mercado de São José, mas era perfume. Gostava e, dizia quem se incomodar que se mude, passando os dedos na careca e rindo. Às vezes o cheiro era tão forte que incomodava. As dez ou onze da manhã lá vinha ele andando pelo calçadão da Guararapes.  Sentava-se e pedia logo uma cerveja. Garçom, trás uma lourinha bem geladinha para o defunto perfumado. Vocês já viram um defunto beber? Todos riam e ele também piscando o olho. Gostava de dançar no Clube das Pás, as sexta feiras. Chegava elegante e sentava-se em uma mesa e logo era assediado por algumas mulheres, pois sabia que bebia e provava de tira gosto de graça. Nos dias de carnaval, chegava ao Bar Savoy, no sábado vestindo camisa de seda azul, no domingo a camisa amarela, segunda feira a camisa vermelha e na terça camisa verde. Calça sempre branca. Sentava-se e ali via os blocos passar. Não gostava que alguém o melasse de talco ou batom, Ficava uma arara, mandando todos para aquele lugar. Mas defunto tu não sabes que é carnaval, por que vens para aqui? Jogava-lhe talco e passava batom vermelho no bigodinho, ficava um palhaço. Ria vocês não tem jeito não. Na quarta feira ia tomar cinza da Matriz de Santo Antonio, às quatro horas da tarde, na Praça do Diário, todo de preto, camisa e calça. Dizia que era o momento para apagar os pecados cometidos no Carnaval e durante todo o ano. O apelido dado pelo Melo foi devido ao cheiro horrível que ele tinha com perfume de segunda classe.  E pegou o apelido. Logo no início Eustáquio estilou e como ninguém se incomodou continuou chamando-o pelo seu apelido. Era divertido. Vão se lascar todos um bocado de cabra safado, saia da mesa e ia para outro bar na Rua Diário de Pernambuco, A Portuguesa. Cheio de graça gostava de contar piadas e suas estripulias e gabolice pelas suas aventuras, todas elas inventadas, principalmente o seu encanto para atrair as mulheres.  Ninguém acreditava no que ele dizia e ai ele se encabulava com o descaso pelo sua conversa. Fabinho e outros amigos seguiram para o velório. Antes se encontraram em boteco para tomar uma cerveja pelo defunto perfumado. Era falta de ética ir ver o cadáver sem tomar uma cerveja. Chegando encontraram Eustáquio dentro de um caixão rodeado de flores vermelhas e amarelas. A camisa de seda branca lhe cobria o peito. Nas mãos cruzadas um terço, preto. Zequinha, dizia no ouvido de Lacerda, este cara nunca rezou e agora quer dar uma de santo, riu baixinho, enquanto o outro colocava o dedo na boca, pedindo silencio. O perfume caprichado exalava o velório. No canto da sala estava a sua mulher chorosa amparada por algumas amigas. Dois filhos, tal e qual a beleza do pai, olhava para dentro do caixão, passando a mão pela testa para enxugar o suor. E as mulheres entoava o canto – Segura na mão de Deus e vai-. Zequinha voltou a falar baixinho ao ouvido de Cleber – Será que Deus vai segurar na mão do defunto perfumado? Eu duvido! Cala a boca bicho, respeita o morto. Aa quatro em ponto colocaram a tampa no caixão e coveiro com uma pá não mão guiava o rebanho que acompanhava o defunto perfumado para sua última mora. Cântico era entoado pelas mulheres que acompanhava desentoando a reza que muitas rezavam as Aves Marias. As mais piedosas choravam junto com a viúva. .No cemitério deram-lhe uma cova rasa no chão desceram o caixão a e todos jogaram um punhado de terra. Lacerda falou,  quem será o próximo? Olhando para os parceiros. Enquanto não chega a nossa vez vamos tomar uma e entraram num botequim a vitrola cantava – Naquela mesa / esta faltando ele /a saudade dele / esta doendo em mim. Levantaram o copo em homenagem a defunto perfumado e beberam.

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