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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Suicídios em Bom Conselho - 2




Por Carlos Sena (*)

Para se compreender a questão do suicídio, imprescindível se faz conhecer os estudos universalmente aceitos de Emile Durkheim. Esse eminente sociólogo francês chegou como poucos às questões gerais e específicas do suicídio. Por isso, considerando os diversos casos de suicídio ocorridos ultimamente em na cidade de Bom Conselho, em Pernambuco - minha terra, alinhavo alguns trechos dessa teoria que poderão nortear outras compreensões.

Durkheim define o suicídio como "todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”. Como se vê, esse resultado previsto pela vítima é uma ruptura dos símbolos socialmente compartilhados, conforme já me referi em outro artigo.

Para Durkheim há três tipos de suicídio:

Suicídio Egoísta:

é aquele em que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver;

Suicídio Altruísta:

é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.

Suicídio Anômico:

é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica, por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio altruísta são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor com as situações.

E complementa o sociólogo "e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade".

Assim, diante dessa teoria, resta aos interessados da minha terra fazer estudos - muito mais do que buscar alternativas particulares. O suicídio é social e sociológico. Talvez medidas de impacto não sirvam, porque muita coisa neste sentido está na falta dos valores sólidos da nossa sociedade. Pois só valores sólidos dão consistência interior que poderão levar os indivíduos a serem felizes. Ou, em não sendo, buscar alternativas de sê-lo, como por exemplo quebrando paradigmas e irrompendo com expectativas  sociais de alto valor coercitivo, mas de pouco valor reativo para os indivíduos.

Essa breve contribuição requer que os interessados leiam e reflitam sobre a teoria do suicídio de Durkheim.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 29/09/2014

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