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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Domingo em Bom Conselho




Por Carlos Sena (*)

Perguntei a uma prima acerca do que fazer em Bom Conselho hoje, domingo. Ela me disse “nada”. Pois é, mas tudo é meio relativo. Mais ativo do que real. Mais real do que superlativo se a gente considera o cotidiano, o dia-a-dia de uma cidade do interior que se banha a si mesma, que se bebe a si mesma. As cidades do interior – e isso é ótimo – ainda guardam nos seus baús muita tranqüilidade, principalmente aos domingos que nem sempre tem “pé de cachimbo, nem touro valente”. E é assim que construo meu domingo. Sabendo das coisas de sempre e optando, se assim desejar, pela missa na igreja Matriz, ou no Colégio das Freiras. Ou subir e descer ladeiras a esmo. Assim mesmo a esmo. Porque quem não tem mar constrói sua maré. Lá em Recife a gente vai caminhar no calçadão, aqui não. Aqui a gente sobe e desce ladeiras, como que embalando uma criança numa rede e ela insiste em ficar acordada. No balanço da rede a criança uma hora dorme, na subida das ladeiras da minha terra não! A gente para em cada porta e conversa. Para em cada esquina e conversa. Para em cada ontem e desconversa... Porque de ontem, nem me contem. De amanhã muito menos, pois aqui a gente tem que alinhavar o presente do nosso indicativo, nunca o futuro do pretérito nem do passado mais que perfeito.

Diante de um dia assim dorminhoco, decidi ouvir uma coisa que lá no Recife pouco se pode fazer: escutar o silêncio! Isso a gente ainda pode fazer por aqui, mas só aos domingos. Porque de segunda a sábado isso aqui mais parece uma terra sem lei no quesito transito desorganizado e som de carro toda hora e todo instante tirando o sossego do povo, sem falar na praga das motos. Pior: ninguém faz nada. Mas, pelo menos hoje eu estou ouvindo e escutando o silencio. Ouvindo musica no rádio e escutando o tempo. Como que numa feliz coincidência, o radio toca “nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você”... Mas, sozinho (não tenho com quem deitar e rolar) no fundo do quintal da minha casinha, teço. Alinhavo o pensamento para que amanhã eu seja de mim mesmo o meu silencio e o meu barulho – pela mania de ser assim um cronista meio irreverente e cheio de art-manha.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 21/09/2014

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