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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O SAPATEIRO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Chico Venâncio era um sapateiro afamado na comunidade de Alto de José Bonifácio. Pelo seu trabalho caprichado o seu nome atravessou fronteiras do seu bairro. Muitos eram seus fregueses. A sua tenda/oficina era em pequeno quarto na sua casa. Diariamente recebia para conserto sapatos para troca de solado, sandálias para colar, e o que chegava avariado saia novinha em folha. De manhã colocava o seu avental de couro e em suas pernas colocava o ferro de formas onde martelava a sola e pregava com taxas pequenas nos solados. Muitos eram colados com a cola de sapateiro.  Às oito horas estava ele já fazendo zoada. O pequeno radio na prateleira ligado na Radio Jornal ouvindo o programa Bandeira 2 com informe sobre os crimes e roubos ocorridos na cidade e depois na Rádio Tamandaré, com  as suas musicas prediletas de antigamente. De vez em quando chegava um vizinho para trocar ideias. Não gostava, pois lugar de trabalho é de trabalho muitas das vezes incomodava, pois tirava ele da atenção do serviço. Conhecemo-nos na mesa do Bar Savoy, em plena Avenida Guararapes, em uma manhã de sábado. Achegou-se a nós quando começamos falar de futebol, ele apaixonado pelo Santa Cruz. Pouco a pouco todo sábado lá estava ele sentado já com uma dose de Rum e uma garrafa de Coca Cola.  A convite em um sábado pela manhã fomos ao Mercado de Casa Amarela no boxe de Seu Xavier tomar uns aperitivos e como tira gosto um sarapatel que era afamado no bairro de Casa Amarela. As mesas estavam lotadas. Conseguimos através da amizade do dono do bar duas mesas que nos acomodamos e saímos por volta das 18 horas. As musicas de Nelson Gonçalves, Timóteo, Altemar Dutra, Ângela Maria, Nelson Ned e tantas outras nos levavam ao gole de cerveja e comentários sobre o tempo de namoricos.  Certa vez estávamos no bar da Portuguesa na Rua Diário de Pernambuco, e o Chico se engraçou com uma garçonete novata. As brincadeiras e os olhares e as cantadas sempre em tom de brincadeira tornou-se realidade. Todos nós fomos contra quando ele disse que ia alugar uma casinha em Casa Amarela para vivenciar algum tempo com ela. E assim o fez. O tempo passou sem que o Chico aparecesse no Savoy. O nosso comentário é que poderia estar doente, ou mesmo mudar de local para tomar os seus aperitivos. Ledo engano. Um companheiro nosso, o Nilo, soube que a mulher descobrira este caso e o colocou de casa pra fora, em um domingo a tarde quando ele chegou da casa da sua “filial”. Foi aquele desespero. Mas dona Rita não afastou a sua decisão. A lojinha onde consertava os sapatos de sua clientela estava fechada. Foi aquele Deus nos acuda. Dona Gertrudes, vizinha há bastante tempo, interviu, mostrando que o Chico merecia o castigo, mas ele tinha que entregar as encomendadas aos seus fregueses, que nada tinha a ver com aquele episódio triste que ela mesma repudiava, dizia – todo homem é safado, não merece o nosso perdão. Se fosse uma de nós, queria colocar agente pra fora de casa e quem sabe até matar. Mas deixa pra lá. Dona Rita acatou a ideia, com uma condição que ele não ocupasse a casa, apenas o quartinho de trabalho. E assim foi aceito pelo Chico mesmo a contra gosto. O tempo passa é o Chico aparece, no Savoy como de costume no sábado. Foi aquela alegria na mesa, onde jogávamos “porrinha”. Dezenas de perguntas foram feitas sobre o que aconteceu. Contou que estava voltando para casa. Dona Rita se apiedou depois que ele foi acometido de uma doença grave no intestino. A “cabrita” do Bar A Portuguesa deixou na rua da amargura – dizendo – tu achas que eu vou cuidar de tu? Claro que não, tenho que trabalhar, não nasci para ser enfermeira. Saiu e somente voltou para pegar as suas tralhas e deixando um bilhete – Até logo amor.  E assim aqui estou sem fazer nenhuma extravagancia. Voltei ao meu trabalho. A clientela aumentou. E assim todos os dias a tardezinha quando fecho o meu “escritório” e guardo “a minhas canetas” tomo banho e vou até bodega de Seu Felinto, perto de casa tomo duas cervejas, o Rum foi proibido de tomar, volto para casa com o pãozinho quentinho para o café. A vida voltou ao normal e nunca mais vou me meter com estas “putinhas” que aparecem e, dou um conselho a vocês não se metam, pois a coisa é feia. Até breve!

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