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quinta-feira, 19 de junho de 2014

MAMÃE, DO QUE MAIS ME LEMBRO?




Por Carlos Sena (*)

Do que mais me lembro de mamãe? Digo isso porque mãe a gente nunca esquece, mesmo marmanjões, donos das nossas verdades, mãe a gente não esquece. Porque nossas verdades nos foram intrometidas, sob muitos ângulos de visão por ela, a mãe. Poderemos, pois, dizer que mãe é tudo? Tudo e muito mais, eu asseguro e garanto que não se trata de Édipo mal resolvido. Porque mãe é mãe e pronto. Pena que muitos só sentem isso depois que ela vira estrela. Sim, vira estrela, ou purpurina, se quiserem um pouco de descontração. Por isso, tenho dificuldade de dizer domares mais me lembro quando falo de mamãe, da minha mãe, lá na terrinha costurando pra fora para nos manter na escola. Éramos, eu é meus irmãos, limpinhos, como se diz na gíria. Pobres mas limpinhos. Mas (olha o mas aí) do que mais me lembro, ou "do que nunca me esqueço de mamãe" eram as austeras formas de nos ensinar o beabá da vida sem muito "psicológismo" nem "pedagogismo". Ela era assim mesma, como a maioria das mães daquela época: escreveu tinha que ler. Ajoelhou tinha que rezar. Nada de chegar em casa com objetos dos outros que logo ela ia tomar satisfação com as pessoas que eu dissesse ter me dado aquilo. Puxões de orelhas? Nem conto. Surras e chineladas, sem desconto nem pirangagem! Nesse quesito mamãe não economizava. Só não gostava quando eu chegava em casa chorando que ela, em vez de ir saber quem me bateu, batia muito mais, só pela dúvida de que eu estivesse mentindo. Quando ela nos olhava de viés, a gente de fininho ia saindo. Hoje as mães gritam, os filhos gritam também e se a mãe der bobeira apanha.

Hoje, crescidos e criados, temos a vida limpa; não temos recalques nem vivemos tomando antidepressivos por conta das surras e das chineladas e dos puxões de orelhas que mamãe nos dava. Hoje, certamente, o conselho tutelar queria se meter. Porque criação de mãe moderna é outro papo. Mas mamãe bateu e eu nem sinto dor. Nem meus irmãos. Até agradecemos. Nem dor física nem moral, porque a nossa geração não era de açúcar nem de papel crepom. Por isso, lembro de tudo como um detalhe. Porque a minha geração não tem história de drogas, nem de violência, nem de falta de respeito aos mais velhos. Porque nossos pais não eram permissivos e nossas mães, embora mordendo e assoprando, nos criaram para o mundo... Assim, mamãe jamais irá dizer pra si mesma "onde foi que eu errei"?

Talvez se a maioria das mães de hoje tivessem coragem para criar seios filhos com austeridade e com limites, a geração Neném não estivesse aí aos alvoroços jogando vasos sanitários na cabeça do zoto e matando gente a esmo. Ah, geração neném é aquela dos que nem trabalham nem estudam, nem respeitam professores, nem faixa de pedestre, nem fila, nem...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/05/2014

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