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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

LÊNDEAS




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Quando criança em Bom Conselho, dois dias da semana éramos submetidos a catar as lêndeas nos cabelos. À tarde às três horas éramos chamados pela minha mãe e tia Carlinda e deitar na poltrona marrom na sala de visita com a cabeça no seu colo sobre uma pequena toalha branca e passar o pente fino nos cabelos. Doía, pois penteado era com força para cair às lêndeas ou piolhos que porventura existe na cabeça. Era um tormento. Choramingava, mas nada amolecia o coração delas. Cala a boca, menino já está terminando, dizia minha mãe. Olha uma lêndea aqui quando caia na toalha, espremia na unha e começava tudo de novo, Quieto já estou terminando e nunca terminava. Meia hora parecia um século. Tomávamos banho. Lava a cabeça com juá, mas esta penitencia acontecia independente deste asseio. Nunca se esqueciam, toda semana duas vezes acontecia esta penitencia.  Às vezes por não querer este sacrifício escondíamos embaixo da cama, no quarto escuro e ali ficávamos um tempo até que esquecesse. Quieta dizia para Dodora. Nem um pio, sussurrava. Um grito ecoava no corredor da casa, era Tia Carlinda que chegava. Nedi cadê Zetinho? E Auxiliadora? Eles estavam neste instante ai na sala, respondia.  Cadê eles? Não sei! Estes meninos é um perigo, dizia a minha mãe. Vá lá ao terreiro talvez ele esteja lá brincando com pião e ela com suas bonecas embaixo do pé de eucalipto. Tia Carlinda ia, mas não encontrava. Nedi tu tem que botar estes meninos em castigo, senão daqui uns dias eles vai fazer o que quiser. É bom cortar o mal pela raiz, pois depois nem um machado corta, e sentava-se na cadeira emburrada. Levantava-se ia ate a cozinha e ali ficava a reclamar da travessura que fazíamos. Quando eles aparecerem vão ver uma coisa! Tu vai ver! Vou dar uns puxão de orelhas e dois bolos em cada mão para eles obedecerem, verá! Escutávamos este aperreio embaixo da cama caladinho. Nem um suspiro alto podia fazer e tossir nem pensar. Quando acalmava saímos devagarinho ia até o terreiro de Dona Luiza brincar de chimbre. Ou pião. Ela ia para a casa de Margarida brincar de casinha com as bonecas e calungas uns brancos e outros pretinhos, comprados na loja de Gabriel, no quadro.  A algazarra era grande. Ouvíamos a queixa da rendeira por causa do barulho que lhe atrapalhava fazer “bicos”, “bordados” na sua almofada bem grande, branca cercada por bilros com o seu tilintar nas mãos ágeis de rendeira. De vez em quando havia briga entre os meninos por causa de uma jogada. Alguns palavrões aprendidos no meio dos mais sabidos eram gritados. Lá pelas cinco horas da tarde aparecia em casa, desconfiado. Menino onde tu se meteu? A tarde toda te procurando para olhar os teus cabelos, se tem lêndeas ou piolhos e tu desaparece? E sua irmã onde está? Entrava desconfiado esperando pelo castigo. Venha cá!  Abra a mão! Vai levar dois bolos com a palmatoria pretinha, para obedecer a sua mãe e a sua tia. Ai! Ai1 Ai! Gritava. Agora vá para o quarto somente saia quando eu mandar. Saia chorando para o quarto. Este passado era feito por várias famílias que moravam na belíssima Rua do Caborje, rua da minha infância querida, lá pelas quatro horas da tarde as senhoras colocavam cadeiras ou espreguiçadeira na calçada e as meninas e meninos também e eram obrigados a colocar a cabeça no colo para catar piolho ou lendas. As meninas com os seus cabelos longos eram amaciado com pentes finos e aberto com as mãos à procura de bichinhos indesejados que envergonhava as crianças e principalmente as mães responsáveis. O maior cuidado era para escola para que a professora não visse alguns destes bichinhos. Assim foi a nossa educação de criança eram obedecer aos mais velhos, principalmente os tios que tinha que dar a benção. Ai daqueles que não procedesse desta forma, seriam castigados, e o pior castigo era você não ir à matinê no Cinema Rex ver o seriado que deixava todas as crianças na expectativa se ver se o “mocinho” se salvou dos “bandidos” ou não.

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