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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Jessica - Um Prodígio




Por Carlos Sena (*)

Jonas era funcionário de um grande banco federal, no Recife. Jovem, bonito e elegante, sempre despertava atenção dos colegas pela beleza, mas também pela  sua timidez. Todo dia, no banco, ficava no seu canto quieto. Nessa época havia os tradicionais funcionários de carteira - ele era um desses que cuidava do cadastro de pessoal. Seus colegas iniciavam o dia falando de filhos, de novelas, de decepções amorosas e ele se limitava apenas a escutar. Seus colegas, contudo, não sabiam se Jonas era casado, solteiro ou viúvo. Certo dia uma das suas colegas começou a se interessar por ele. Ele, esperto, logo percebera o interesse dela e cuidou de dispersa-la. Mas ela insistia e o convidava para festas, para o cinema. Em vão. Jonas decidiu usar sua aliança de casado! Surpresa total, pois além de não falar muito da sua vida pessoal, de repente, começa a falar de sua filha chamada de Jessica. Sempre que os colegas falavam dos filhos, Jonas falava de Jessica. Dizia que era estudiosa, que isso é que aquilo, do mesmo jeito que os outros colegas também diziam. A partir daquele dia, Jonas passou a ir se integrando com seu grupo de trabalho. No cafezinho, sempre tinha histórias de Jessica pra contar. Também falava da esposa, mas pouco. Sempre que havia aniversário de uma criança filha dos seus colegas, logo um convite era feito a Jessica. Mas Jessica nunca ia. E ele, o pai, sempre arrumava uma desculpa. Depois de cinco anos de Caixa Jonas foi promovido. Foi trabalhar noutra agência, mas os colegas não esqueceriam dele, muito menos as histórias hilárias que ele, toda manhã, contava aos colegas. Certo dia, no aniversário de Jessica, os colegas ligaram pra ele cobrando uma festa. Afinal, nunca foram a um aniversário da garota que, por tantas peripécias contadas pelo pai, os colegas queriam ver a garota prodígio. Jonas, esperto, logo despistou os colegas: este ano Jessica vai comemorar o aniversário com os avós em Portugal, teria dito aos colegas por telefone.

O tempo passa, Jonas segue sua carreira exitosa de bancário até que resolve se aposentar, embora sem tempo pra isso. Aposentado, sempre se encontrava na rua com os colegas que, inevitavelmente, perguntavam por Jessica. Na ultima vez que isso aconteceu ele disse que ela estava noiva de um medico e prestes a se casar.

Contando-nos esta história numa mesa de bar, ninguém se conteve de tanto rir, inclusive este pobre escriba. Moral dessa história? Jonas era gay assumido, nunca houvera se casado, muito menos tido filhos. Morou com um rapaz com quem viveu longo tempo.

Jessica? Foi uma invenção de Jonas para ter histórias de filhos pra contar toda manhã no seu ambiente de trabalho. Disse que se não fosse assim talvez não tivesse agüentado os colegas, principalmente as mulheres falarem tanto dos filhos e ele nada. Inventou Jessica para se enturmar e ainda hoje alguns dos seus colegas, quando lhe encontram na rua, perguntam por ela. Resultado: a mentira muitas vezes repetida se torna verdade.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/06/2014

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