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sábado, 18 de maio de 2013

EU, A ESCOLA E OS SOFRESSORES.





Por Carlos Sena (*)


Se alguém se interessasse em saber da minha idade e eu fosse daqueles para quem dizer a idade é um sacrilégio, poderia dar algumas dicas:

 1 – Sou do tempo em que a gente estudava começando pelo curso Primário;

2 – Depois do Primário, a gente passava (se a nota das provas permitisse) para o Ginasial;

3 – Depois do Ginasial, então a gente escolhia no “cardápio escolar” qual curso a gente seguiria: Magistério, Científico, Clássico, etc.

Só que havia entre o Primário e Ginasial, o EXAME DE ADMISSÃO, ou seja, a gente só cursava o Ginasial se passasse numa prova tipo “vestibular”. Havia cursinhos fora da escola com esse fim, mas a gente estudava em casa e ficávamos tensos, pois ai de quem não passasse no “ADMISSÃO”...

No bojo do processo educacional daquela época, havia outras ações interessantes que marcavam a nossa vida. Caderno de caligrafia! Eu adorava. Leituras em voz alta, eu também amava. Levar pra casa o dever de casa que hoje se chama tarefa era  coisa muito a séria e a gente o fazia com cara bonita ou feia, senão... Ora senão, senão o safanão nas orelhas a gente levava, graças a Deus! Ah, mas eu adorava mesmo era levar pra casa, como dever de casa, uma COMPOSIÇÃO, ou DISSERTAÇÃO. A geste escrevia e no dia seguinte a entregava ao professor que levava pra sua casa e, no outro dia, ele nos devolvia com uma nota. Os erros ele grifava em vermelho e nos mandava repetir trocentas vezes... E a gente fazia. Lembro que um dia em sala de aula eu escrevi a palavra “NECESSÁRIO” assim: neScessário. A professora passou com olhar de soslaio e viu. Chamou-me e disse como era que se escrevia e me mandou escrever 500 vezes a palavra N E C E S S Á R I O. Eu não só nunca mais errei como me lembro da "fessora" e do seu nome e sobrenome, estado civil até hoje.  Naquela época professora tinha nome e sobrenome, hoje virou "tia".

Nesse bojo de coisas simples e efetivas de uma educação que muitos hoje a chamam de "ultrapassada", lembrei que a gente lia muitos textos. Como o livro didático era difícil e muito mais raros eram os de leitura propriamente dita, havia uma coletânea chamada de NOVA SELETA. Nela estavam os textos dos melhores autores brasileiros. A gente deitava e rolava e interpretava e reescrevia sobre aqueles textos clássicos e belos. Posso dizer que essa “Nova Seleta” foi quem me salvou e a ela devo um pouco do que sei ler, escrevere e pensar hoje. Outra parte eu credito a revista O CRUZEIRO que meu pai era assinante. Eu ficava orgulhoso, pois meu pai era dos poucos que tinhas assinatura dessa que era a VEJA de antigamente, mal comparando, claro. Conheci Raquel de Queiroz nessa revista - ela escrevia numa coluna voltada para as mulheres, mas os homens sempre liam.

No quesito disciplina, as escolas eram tampa. Se a gente fosse suspenso de aula, o mundo se acabava dentrode nós. Os pais iam logo ao colégio saber o porquê daquela suspensão. Se a professora mandasse um bilhete para os nossos pais e a gente não o entregasse, o pau cantava. No mínimo as nossas orelhas eram responsabilizadas. Outra coisa: se a gente não passasse numa única matéria, perdia o ano todo. Com isso, passar de ano dava até um certo glamour! Não havia essa esculhambação de hoje que os alunos não assistem às aulas, somem e, no final do ano aparecem e a legislação da pedagogia moderna o manda fazer um trabalho e ele passa... Não só passam de ano, mas passam com louvor para o mundo das drogas, passam para a falta de respeito. Passam a surrar os professores, passam a currar as alunas no banheiro, passam a praticar o buling, e, não raro, passam os pais pra trás. Os pais, por sua vez, só se sentem passados pra trás  quando a polícia bate na porta e eles (os pais) ficam se perguntando “onde foi que eu errei”? Pois é. Falar em educação é difícil, mas a educação é processo e, como processo requer regras, rigores, limites. Isso, a escola moderna esqueceu faz tempo, bem como também muitos pais. Disso tudo, uma certeza, ou muitas: se essa escola fajuta que está ai montada no ufanismo de uma pedagogia dita moderna (usam e abusam de Paulo Freire) não tem dado conta do seu recado, precisamos rever tudo isso. Devemos acabar com essa irresponsabilidade de ver o aluno como os olhos do pedagogismo e do psicologismo. Aluno precisa ser reprovado quando essa for a sua resposta ao processo educacional. Aluno precisa respeitar professores, pais, colegas. Aluno precisa do limite que os pais nunca deram em casa. Precisa, acima de tudo, estudar e professor ensinar. Ora, se a nossa educação está uma bosta, certamente é porque os bons professores que são em quantidade reduzidas estão sendo vencidos por aqueles que fazem da educação um bico; e por alguns pais que entregam suas responsabilidades à escola porque não sabem ser pais e, talvez, botaram filhos no mundo por ignorância ou porque não sabiam usar camisinha. Porque certas qualidade de crianças que vemos hoje por aí não merecem ser dignas de terem nascido do ventre de mulher, mas de onça, com todo respeito às onças. Por isso as chamo de crionças e quem quiser que se prove em contrário, pois que nós outros já temos essa prova em nosso redor.

Assim, se você quiser saber a minha idade, pode. Mas não se assuste que eu sou da geração dos que já chegaram aos sessenta anos. Detalhe: sabendo ler e escrever e contar. Sabendo respeitar os mais velhos e tendo ética na vida e tendo respeito aos diferentes. Melhor: sabendo elaborar, falar em público e respeitar o próximo. Se a minha escola é considerada ultrapassada, graças a Deus que ela assim foi! De uma coisa eu tenho certeza: se eu tivesse filho não saberia o que fazer com ele diante dessa educação frouxa, que, grosso modo, leva nada a lugar nenhum. Pior: tem valido menos do que sulfato de pó de peido.

Ainda bem que existem alguns pais responsáveis que salvam a pele dos seus filhos com educação doméstica dura, mas sem falatar com o amor que eles precisam como gente.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 08/04/2013

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