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quinta-feira, 16 de maio de 2013

BARBOSINHA





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Grande amigo dos idos tempos da beleza do Recife, das décadas dos anos 60 e 70, quando curtíamos as tardes ensolaradas tomando umas geladinhas nas mesas posta na calçada do Bar Savoy, vendo o passeio das moças e rapazes enamorados. A elegância dos homens e mulheres muitas das vezes atravessando a ponte Duarte Coelho, vindo do Cinema São Luis passando pela Avenida Guararapes retornando pela Rua Nova olhando as vitrines da Casa Sloper, as joalharias e sapatarias com o último modelo da moda.  Tardes bonitas que não voltam mais, por mais que queiramos este tempo acabou. A baderna, a sujeira, o barulhos ensurdecedor é que encontramos hoje nestas vias públicas. Mas o que fazer? 

Encontramos-nos na frente do cinema São Luis, acabado, sem aquela beleza de outrora. Como vais Taveirinha? O tempo não muda o teu perfil, sempre elegante, apenas a idade vai tomando conta da nossa vida.

E você sempre do mesmo jeito. A idade não chega perto de você parece que te abandonou. Quantos anos?

Algumas décadas, respondeu Babosinha sorrindo. Olhando para mim, disse:

A vida para mim não esta tão boa, como desejava. Mudei-me da casa em Água Fria, tu sabe onde é, pois estivesse a muitos anos nos visitando naquela tarde de sábado saboreando um churrasco.

Pois é!

Estive doente nestes últimos anos, agora já estou bem. Mas aconteceu um caso comigo que não devia acontecer, a minha amada, que eu jurava por tudo neste mundo, me deixou por um canalha da vizinhança e hoje vive mendigando apoio, sem um lugar para descansar. Os peguei numa tarde que resolvi vir ao Recife. Nunca desconfiei, juro por Deus, que o malandro que se passava por amigo, e sempre estava lá em casa limpando o terreiro fosse o amante. Não tinha emprego, vivia de biscate. A simpatia dele caiu na graça da minha mulher pelo seu trabalho.

Sai por volta da três horas da tarde. Peguei o ônibus e quando cheguei ao bairro da Encruzilhada, que coloquei a mão no bolso senti a falta da minha carteira de cédulas com os documentos. Desci ali mesmo no largo da Encruzilhada e apanhei outro ônibus para ir a casa.   Chegando vi as portas fechadas. Entrei no terraço e abri a porta da sala e deparei-me com uma cena que nunca saiu do meu pensamento. O canalha e a quenga agora podem chamar, estavam abraçados em trajes menores, na poltrona assistindo o programa da televisão. O choque foi tão grande que eu recuei. A vista escureceu. Senti naquele instante um ódio danado. Fiquei atônito com o que estava vendo. Deu-me vontade de agredir todos os dois, mas pensei naquele momento a consequência que advinha com um ato impensado. Eles por sua vez ficaram estupefatos com a surpresa. Olha, não sei o que aconteceu. Vi-me perdido. O que fazer naquela hora crucial? As pernas tremiam. Eles correram para a cozinha, ele fugia pelo quintal, pulando o muro. Ela começou a chorar. Não quis fazer nenhum comentário, pois, nada resolvia. Sai de casa para um lugar sossegado e calmo, num bar do vizinho, dizendo que quando voltasse não gostaria de encontrá-la que ela fosse embora com o seu amante canalha. Os meus filhos ficaram chocados com atitude de sua mãe, quando a noticia começou a se espalhar. O tempo passou e os amigos brincavam comigo chamando de “corno manso”. Todos diziam se acontecesse com eles este fato, o bicho pegava. Diziam – eu matava os dois; outro falava que dava uma surra na mulher e mandava para a “zona”; outros juravam que capava o “cara” e assim cada um tinha uma vingança. O tempo passou.  Procuravam a cada dia uma maneira de entender, mas não conseguia. O cara a largou na rua da amargura, como se diz os poetas. Isto faz dez anos. Ùltimamente, ela tem vivido na casa de uma prima que mora lá por lado de Afogados e tem sempre pedido para voltar, arrependida do passo errado que deu, e eu aconselhado pelos meus filhos e netos aceitei a sua volta, como uma condição, de termos quartos separados e que não acontecesse ou que aconteceu, outrora.  Hoje moro lá pra bandas da UR 7, no bairro do Ibura. A noite chegou com o céu estrelado e a lua lá no alto iluminando este pedaço de torrão. Conversamos sobre outros assuntos e prometendo encontrarmos em outra ocasião no mesmo lugar o Bar do Azulão.


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