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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Crônica para uma cidade Maurícia.





Por Carlos Sena. (*)


Estou no Recife. Mesmo em Brasília, passando uma chuva, nunca sai do Recife. O Recife é um sentimento que mesmo que se queira sair dele ele não sai de nós. Recife é um poema que seus habitantes escreveram pelas pontes, pelos rios, pelas ruas. Rua da Saudade, da União. Rua do Sol, Rua da Hora, Rua Nova, Rua do Bom Jesus e tantas outras. Não lhe bastassem as ruas, os arruados se contornam em prosas e em versos diversificados entre Carlos Pena e Manuel Bandeira. Nos versos líricos e debochados ao mesmo tempo de Ascenso Ferreira. Recife texto. Recife pretexto de amores vindos, de ardores findos. Recife Prosa que se refaz em tudo que mesmo sendo pequeno grande lhe parece. E quando grande maior parece e enaltece os Recifenses onde quer que eles estejam. Recife lendário. Calendário de festas de carnaval. Aval de sestas e varais e quermesses mil. Recife varonil. Recife cruel, por que não dizer? Porque de uma cidade que só se reconhece na poesia e no lirismo dos seus becos, morros, arruados e asfaltos, o lado cruel também se estabelece e se transforma: recife dos mártires, da ressureição, de Frei Caneca, de Padre Henrique e de Dom Helder. Recife de Chico Ciência, dos mangues sem clemencia. De Alceu e de Valença. Recife de Maraca: maraca eu e maraca tu – Maracatu do baque solto ou virado, do povo que é cordeiro, mas vira cobra se preciso for. Recife luz, mesmo que as chagas dos maus governos fiquem expostas. Recife laje, lajota, recife muro, mureta e arrimo. Muro do arrimo dos desvalidos. Muro do desatino desassistido. Recife de uma nota SOL nas suas praias, mas de nota Dó das suas mazelas. Recife de Dom e de Donzelas, palmas pra elas que ainda são. Recife do Ar e do Mar e da terra – encerra em ti a quimera do amor em tantos tons. Recife novena: “amar mulheres, várias. Amar cidades, só uma RECIFE” – foi o que nos disse Ledo Ivo. Recife épico, Armorial. Recife noite e noturnal serenata infinda que de Olinda se conspira em favor do lírico, do profético, do pictórico. Recife dos sem nome, dos com fome, dos com forme e dos desconformes. Recife dela somente. Assim: dela. Ou dele. Porque recife é multi como arco-íris da sua bandeira que sob ela abrigam brancos, negros, ricos, pobres, homo e heterossexuais, e outras minorias. Recife dos mosteiros, dos mosqueiros do bairro de São José e do mercado do mesmo nome. Recife de si mesma por nós feita e refeita em cada grito de República com Olinda combinada, em cada revolução libertária que ajudou a vencer... Recife de mim, de você. Recife de quem chegar. Chegar pode. Mas, Ficar? Só se for como eu: amando esta cidade como se ama uma relíquia, como se ama um grande amor, como se ama...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 14/04/2013

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