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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Brasília virou um "lixão"?




Por Zezinho de Caetés

Ontem, o Lula estava em Brasília, dizem, para se acertar com o Eduardo Cunha tentando que a presidenta se livre do fantasma do impeachment. Se me dissessem que ele foi com a atenção de “rachar” o dinheiro das contas que o presidente da Câmara tem na Suíça, eu também acreditaria. Não há mais compostura na política, lá em Brasília, se é que um dia houve. Maquiavel estava mais do que certo.

No entanto, por que não deixar de lado a política e partir para um governo de sábios? Simplesmente, porque não saberíamos escolher os sábios e temos que continuar, no dia a dia, em nossas trincheiras para tirar este grupo que está no poder, que envolve hoje o PT e uma grande parte do PMDB.

Digo uma grande parte, porque eu tiraria o Pedro Simon, se não tivesse deixado a política e o Jarbas Vasconcelos que ainda atua, e dizia dias atrás:

“Cunha é doente, psicopata, um cínico. Como confiar numa pessoa que mente sobre contas bancárias na Suíça, já confirmadas pela Procuradoria? A oposição acaba de fazer mais uma reunião com esse personagem para discutir o impeachment. As pessoas continuam acreditando nele. Se for bom para ele, Cunha atropela Dilma. Se não for conveniente, ele posterga. E a oposição está nesse jogo, que tira a legitimidade do impeachment”.

Diante do comportamento deste Senhor dos Anéis de barro, o Cunha, o pernambucano está certo. Negociar com ele é voltar tanto ao passado político brasileiro, que talvez cheguemos às negociações pelas Capitanias Hereditárias. Dilma e Cunha merecem um ao outro, abraçados por Lula. Que caiam os três.

E, sobre o arcaísmo da política brasileira, li um texto do Hubert Alquéres (“A peleja entre o moderno e o arcaico” – Blog do Noblat – 14/10/2015) que abaixo transcrevo para meditação dos meus leitores, nesta quinta-feira, Dia do Professor, desta grande “Pátria Pedaladora”, como diz o Zé Carlos, a quem estendo os parabéns, além de mim mesmo. Agora fiquem com o Hubert, que eu vou meditar sobre o que mais pode acontecer a este país.

“Não é de hoje o conflito entre o arcaico e o moderno, no Brasil. Essa peleja vem de longe, atravessou séculos, marcou todos os campos da sociedade brasileira.  O país só avançou quando o novo conseguiu vencer o antigo, deslocando seus interesses incrustrados nos aparelhos do Estado. Por aí a oligarquia cafeeira foi deslocada e a República Velha soterrada.  Por esse caminho o Brasil deu passos largos na direção de um país industrial e moderno, nos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek.

A história tem suas ironias. O golpe de 1964, um movimento de reação às reformas de base com o qual também se identificaram forças retrógadas do ponto de vista econômico e social, findou por promover uma “modernização conservadora”, dotando o Estado de um mínimo de racionalidade e capacidade de planejamento. Mas sem mudar a sua essência, de ser, ao mesmo tempo, o depositário de interesses patrimonialistas e corporativistas.

A Constituição Cidadã, foi, sem dúvidas, outro grande marco no rumo da contemporaneidade. Consagrou direitos sociais, fixou um ordenamento democrático e criou as condições para o pleno exercício de instituições permanentes republicanas como o Ministério Público, a Polícia Federal, entre outras. Aquilo que foi plantado lá atrás, em 1988, hoje dá provas de sua eficácia e é embrião de um Estado Moderno que tende a se afirmar, em contraposição ao Estado patrimonialista.

A peleja entre o arcaico e o moderno não parou por aí.

Nos meados dos anos 90 deslocou-se para a economia. Naquele momento, era preciso deixar para trás o vetusto da espiral inflacionária, modernizar e sanear o sistema financeiro, controlar o gasto público, implodir os cartórios, criar regras estáveis com vistas ao fortalecimento de uma economia aberta e de mercado.

Esse foi um dos grandes méritos do governo Fernando Henrique Cardoso, muito embora, para promover o aggiornamento da economia, tenha sido obrigado a fazer aliança com o atraso, como ele mesmo afirmou sucessivas vezes. Mas o fez blindando determinadas áreas estratégicas, protegendo-as da prática predatórias, da voracidade dos aliados. Fez mais: deu enorme passo no rumo da modernidade, com a criação das agências reguladoras.

A grande tarefa de seus sucessores seria dar prosseguimento a essa modernização. Isso não aconteceu.

Nos governos Lula-Dilma houve o revigoramento do arcaísmo.

Mecanismos permanentes de Estado, como as agências, perderam relevância, enquanto o governo de plantão se hipertrofiou. Centros de excelências como o Itamaraty viraram peças ornamentais, para não falar da instrumentalização de outros, como o que aconteceu no BNDES ou em empresas públicas como a Petrobrás.  E a responsabilidade fiscal foi mandada às favas.

A crise que vivemos é a crise de um acasalamento entre um projeto de poder com o velho patrimonialismo político e com o capitalismo parasitário acostumado a mamar nas tetas do Estado, altamente refratário ao risco e à livre concorrência.

Registre-se: tão acostumados com a impunidade, os predadores do erário público agiram como se tivessem na era analógica, deixando impressões digitais por todos os lados. E as instituições de investigação estavam numa etapa bem superior, no topo da era digital, capacitada e qualificada para cumprirem, com galhardia, seu papel em um Estado de Direito. Vive-se, portanto, mais uma quadra importante no embate entre o arcaico e o moderno.

O primeiro, ainda hegemônico, tem hoje dois grandes bunkers: o Executivo e o Legislativo. Esses não se renovaram, estão na contramão dos sentimentos da sociedade, que não aceita mais o modelo do toma-lá-dá-cá e a institucionalização do balcão de negócios.

A rejeição é muito mais profunda. Há uma crise de representatividade cuja intensidade os partidos políticos ainda não dimensionaram.

Pensar que o governo representa o arcaico e a oposição o moderno, é doce ilusão. Ou então puro maniqueísmo.  Afinal, nada mais arcaico do que o discurso da incoerência, do que alianças casuísticas contraditórias aos valores éticos.


O velho ainda não morreu e o novo ainda não surgiu. Mas, felizmente, a forma ossificada de se fazer política, ou de se fazer negócios por parte de segmentos empresariais, esbarra na ação de instituições republicanas que apontam para um horizonte mais alentador.”

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