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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ASSOMBRAÇÃO NO CEMITÉRIO




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Zé Caninha era uma personagem em Garanhuns na metade do século passado, idos tempos. O seu apelido apareceu, principalmente, no bairro da Boa Vista, onde residia em uma meia água no alto da Bandeira, onde dizia sempre – aqui de casa comtemplo a passagem bela, florida de minha terra natal – em sua pequena janela enxugava os olhos marejados com um pano da cozinha. A sua vida era bebericar pelas vendas da cidade. Era um andarilho.  Era conhecido quando chegava a qualquer bar, mercearia e já dizia – lá vem Zé Caninha e ele chegava sorridente, tomando a primeira do dia e não sabia qual era dose da noite. Sempre acompanhava algum seresteiro no frio da madrugada, se esquentando com o vinho Jurubeba ou Conhaque Alcatrão São João da Barra. Era notívago. Gostava de perambular pelas ruas escuras, enlameadas sob o frio da boquinha da noite entrando pela madrugada, muitas das vezes bêbado. Dormia muitas das vezes ao relento. Amanhecia dormente, pelo frio recebido a noite. A cachaça o protegia do frio, dizia. Não incomodava ninguém. Era de paz. Nunca ninguém soube de um atrito com qualquer pessoa, sempre na dele. De dia ia ali e acola, sempre parando para tomar uma e muitas vezes pagos pelos amigos. Dona Carminha, sua mulher já tinha esgotada toda sua fala, repreendendo, aconselhando para deixar aquela vida de andarilho pelos bares da vida. Muitas vezes foi encontrado no baixo meretrício, sentado na mesa de algum cabaré na Rua São Francisco. Certa noite não sabia onde estava. Descia a Rua São Miguel, escura e poeirenta bêbado. Escorava-se ali e acolá. Olhava de um lado para outro, a via o mundo rodar. Escorado em um muro branco descia sem sentir o frio que fazia na noite clara e enluarada que caia sobre a cidade. Encontrou um portão largo aberto. Olhou arregalando os olhos, onde via muitas casinhas, de vários tamanhos branquinhas, cruz no alto e alguns anjos pendurados chamando por ele. Esfregava os olhos e enxugava com a costa da mão, mas lá estavam eles, os anjos, chamando-o sorridentes. Mais de uma vez já não sentia as pernas, entrou no local e adormeceu em cima de tumulo pegado ao muro. Aqui estou seguro, disse. Ninguém vai me incomodar. O frio é intenso. A garoa da manhã cobre as pessoas na rua com uma chuva fininha. Pouco molha os casacos vestidos de varias cores. Todos agasalhados e de braços cruzados cruzando a rua enlameada para compra do pão para o café da manhã.  As sobrinhas abertas a meio pau. Alguns postes de luz ainda acesas. Seu Domingos dono de uma padaria na ponta da Rua do Corrente fornece os seus pães nas redondezas. Todos os dias por volta das três e meia da manhã, o padeiro já se encontra amassando a massa e dando formato ao pão que começa a ser vendido às seis horas da manhã. Tem que entregar o pão nas mercearias da redondeza, no Alto da Bandeira e Convento das Freiras, com pés de eucaliptos, exalando um perfume na redondeza,  logo cedinho aos fregueses para o café das primeiras horas da manhã. É um homem cumpridor dos deveres e nunca recebeu reclamações, algumas já surgiram de pouca monta, pois o Saci o seu entregador adoeceu, não chegando o pão no horário acertado nas mercarias e vendas. Diariamente entregava o pão na mesma hora, quatro e meia da manhã.  Saci, um negrinho magro e de sorriso aberto mostrando a sua dentadura perfeita, descia e passava em frente ao Cemitério São Miguel. Tinha um defeito na perna, uma mais curta do que a outra, a esquerda. Um arrepio surgia em seu corpo todos os dias. Mas não ligava. Ali não tinha ninguém vivo, até a minha mãe se encontra enterrada lá no fundo em cova rasa. Benzia-se. Olhava e muita vez fechava os olhos quando passava em frente do portão aberto, onde via vários túmulos. Arre Deus! Deus me livre! Neste dia chuvoso, descia ele com um balaio de pão na cabeça, como sempre. Saia da padaria cantarolando – Acorda Maria Bonita / acorda vem fazer café / o dia já vem raiando / e policia já esta de pé. Outra musica do seu repertoria madrugador – Ole mulher rendeira / ole muié rendar / tu me sina fazer renda / que ti ensino namorar muitas das vezes ensaiando um passo ali e outro acola. Gostava desta musicas, pois era fã de Lampião. Homem valente e não se assombrava com cobras, raposas e ninguém lhe enfrentava. Era macho para ninguém botar defeito, dizia sentado junto ao forno dos pães que assava. Descia já com medo de passar no cemitério. Zé Caninha se acordara de ressaca, olhava de um lado para outro, Virgem Maria morri e estou vivo disse esfregando os olhos e se encolhendo pelo frio que assolava a cidade. . Ouviu o Saci cantando e quando ele passava Zé Caninha, se levantou do tumulo onde dormia e estendeu a mão por cima do muro - Me dê dois pão! Saci arregalou os olhos, era negro ficou branco jogou o balaio no chão e saiu em uma disparada e os pães ficaram espalhados no chão. Zé disse a gente não pode mais pedir nada que a pessoa se assusta.

Um comentário:

  1. TIVEMOS AQUI UM OUTRO ZÉ CANINHA QUE ERA CASADO COM UMA MULHER DAS BANDAS DE BREJÃO... APESAR DE MORAR NA COHAB II(BOA VISTA), E MORREU DE CANA A POUCO MAIS DE 15 NOS. SÓ QUE, O ZÉ CANINHA AO QUAL ME REFIRO, INCLUSIVE O CONHECI, ERA UM BEBINHO CHATO, RONHENTO, ENCRENQUEIRO E MUGANGUENTO...

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