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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

SOLDADO MILITAR




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Remexendo no baú antigo, encontrei um envelope com vários retratos dos idos tempos de 60. Deparei-me com o meu retrato jovem envergando a farda militar do exercito. Lá estava eu segurando um fuzil em frente do alojamento. Lembrei-me que não queria servir o Tiro de Guerra da cidade de Garanhuns, desejava ir mesmo para caserna na Capital. Viajei com este intento e alistei-me no forte de Cinco Pontas e fui selecionado para a 2ª Cia de Guardas na Rua Visconde de Suassuna. Apresentei-me e em forma no pátio do Quartel, ali fiquei ansiosamente esperando se o meu nome seria selecionado para servir o exercito. E fui. O anuncio feito pelo radio, confirmou à tarde. Recebi no dia seguinte o fardamento e as exigências que seria submetido durante o tempo que ali estivesse – cumprimento do horário, respeito pelos superiores, comportamento fora e dentro do quartel e muitas outras obrigações que seria atribuído durante o tempo do serviço militar, em caso contrario receberia punições. Recebi o nome de guerra – José Antônio – Soldado 431. Este era o nome e o numero oficial de caserna. Fui escalado logo para o rancho. Lavava centenas de bandejas e limpava todo recinto onde os soldados faziam as refeições. Não gostei da ideia. Queria mesmo era servir na tropa de frente e consegui junto ao Tenente a minha transferência e fui transferido para o PPL, onde se cuidava do armamento. Ali naquele ambiente, limpava e lubrificava as armas. Muitas vezes fui acionado para tarefa de rua. Gostava da aula de educação física, marchas, corridas, acampamento, sentinela. Fomos fazer um treinamento em Aldeia, reconhecendo o terreno durante a noite sob uma forte chuva que fazia neste tempo, final do mês de abril.  Tive que me acostumar com a rigorosidade do quartel. Obediência, sobretudo. O ambiente era ótimo, desde que seguisse a normas. A saída à tarde, depois do expediente e ouvir a escala de serviço para o dia seguinte, fazia-se fila na sala da guarda, onde o sargento responsável verificava tudo, a farda bem limpa e calça com vinco, coturno engraxado e brilhando, bibico bem conservado, barba feita e cabelo cortado, caso não estivesse de acordo voltaria para o alojamento. O mais severo dos sargentos era Agamenon, o homem era exigente, por qualquer coisa o soldado voltava para refazer o solicitado. Ao sair muitos iam para suas casas e outros iam para o Parque Treze de Maio, paquerar principalmente as empregadas domesticas, pois, outras moças não olham com bons olhos os soldados do exercito. Às cinco horas da tarde alguns voltavam para o “rancho”. A noite era para conversar, aqueles que não estavam de “serviço”, da guarda, da faxina. O terceiro pelotão era formado por soldados altos e fortes para o serviço de rua, quando necessário em bares, prostibulo, por soldados de outros batalhões, que criava confusão. Muitos deles tinham apelidos, como Papafigo, Da Mula, Frankenstein, Caveira, Mula sem Cabeça, Moco Rango, Vira Copo e por ai vai.  Em um dia fomos acionados para treinamento de “prontidão” significava que todos os militares estavam atentos, do Comandante da Cia ao soldado, ao ser chamado pela sirene. Trabalhamos muitos neste treinamento, todos compenetrados nas instruções dadas pelos sargentos. Tínhamos que ficar fardados durante todo treinamento que durou dois dias, roupa de campanha, coturno, capacete, armas na cintura e fuzis preparados para qualquer coisa que houvesse. Cinco minutos era o tempo para tomar banho e fazer suas necessidades fisiológicas.  Ninguém sabia o que iria acontecer. Tínhamos que ficar atentos e a qualquer momento sermos acionados pelo toque da sirene.  Tudo era treinamento. Na primeira noite, fomos liberados depois do “rancho” ficaríamos a vontade, mas fardado, apenas os botões do colete podiam ser aberto e os coturnos com o cadarço afrouxado. Quando a sirene tocasse todos teriam que estar em forma no pátio, imediatamente. Ficamos reunidos no salão do “rancho” entre cadeiras e mesas já limpas. Existia um cabo que gostava de imitar as musicas de Ângela Maria, Núbia Lafaiete. Interpretava muito bem estas cantoras populares. Incentivamos a apresentação, para quebrar a monotonia do treinamento, puxado foi um sucesso para todos que estavam tensos. Subiu em um elevado e com a voz fina começou a cantar. As palmas ecoaram e assovios à noite. Começou – Esta noite / eu chorei tanto / sozinha e sem ninguém / por amor todo mundo chora / um amor todo mundo tem / eu porem vivo sozinha / muito triste e sem ninguém. A voz fina ecoava no recinto e todos os soldados assoviavam e disseram – será que eu sou feia? – todos respondiam – não é não senhor! Então eu sou linda / Todos respondia – Você é um amorEntão me respondam / por que razão / eu vivo só sem ter alguém – Todos em alta voz cantavam – Você tem o destino da lua a todos encantam e não é de ninguém. Ai algazarra tomava conta de todos gritando bis! Bis! Bis! Anunciou depois de se curvar para plateia barulhenta e disse - Agora a segunda musica é uma bem conhecida – e começou a cantar lentamente – Coitado de você meu ex-amor / de triste portador / quem foi que lhe magoou / Quem foi que lhe deu tantos desgosto / Quem pôs rugas no seu rosto / E tanto lhe maltratou / Parece que no seu itinerário / dos amores do seu rosário / só o meu amor restou. Malvadas, mulheres sem coração / fizeram o meu ex-amor / aprender nova lição / Mas eu farei das suas chagas cicatrizes / E ainda seremos felizes / pra viver nova ilusão. Foi muita zuadas, palmas e assobios e em coro todos gritavam – mais uma, mais uma, mais uma e fomos atendidos – Devolvi o cordão e medalha de ouro / E tudo que ele me presenteou / Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com ele me enganou / Devolvi a aliança e também o seu retrato / para não ver o seu sorriso / no silencio / do meu quarto – Nada quis guardar como lembrança / pra não aumentar meu padecer / devolvi tudo / só não pude devolver / a saudade cruciante / que amargura o meu viver. As palmas ecoaram e sirene tocou às 22 horas todos correram para pátio... 


Em nossa 2ª Companhia de Guardas estavam presente três conhecidos meus – o conterrâneo João Antonio do Amaral, bom-conselhense da gema, e meus amigos José Alfredo e Zaqueu da cidade de Garanhuns.

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