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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PAPAI NOEL.




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Tocou a campainha. Fui atender e deparei-me com um papai Noel que não trazia presentes e sim a simplicidade de um cidadão carente de tudo. Maltrapilho, esfomeado e com um olhar triste que dava dó. O cabelo branco despenteado, barba pra fazer e uma dentadura faltando-lhe alguns dentes. Compadeci-me daquele personagem parado ao meio dia, em sol escaldante. Tristemente conversou sentado em um banco contatando-me a sua dolorida estória. Enquanto isso lhe dei agua que bebeu sofregamente. Ofereci-lhe um prato recheado para matar a sua fome naquele momento. É claro que é um paliativo para a necessidade que ele necessita como tantos outros que peleja neste torrão brasileiro, sem auxilio.  Pois é meu amigo, você foi a primeira pessoa que me atendeu nesta manhã. Já bati em algumas casas mais o povo me repele como se eu fosse ladrão ou um doente contagioso que transmitisse doenças. Nada disso sou uma pessoa pobre, mas honesta. Nunca roubei apenas peço a caridade das pessoas, se doar alguma coisa agradeço, caso contrario agradeço da mesma forma, pois deu atenção a mim. A necessidade é que faz que eu procure as pessoas para sobreviver. Não tenho mais condições de trabalhar, pois estou com 77 anos. Adoentado. As pernas já não aguenta a jornada do dia a dia. A vista curta, embraçada. Tenho uma diabete que o “doutor” disse a mim em uma consulta feita no Pátio da Basílica do Carmo. Passou alguns remédios, mas como comprar? Sem dinheiro. Fui a um posto fui recebido com estranheza e desdém pelo empregado do posto. Não tem! Simplesmente devolvendo a receita que rasguei na sua frente. Arrependi-me, mais já era tarde. Sentei-me no meio fio da rua olhando para o tempo, já esfomeado. A família não quer mais saber de mim, não sei por que! Se fui errado no passado o arrependimento mata este passado pelo tempo, mas o que fazer? Durmo num abrigo onde dezenas de colegas partilha o espaço não muito confortável, pois falta tudo para um cidadão de bem. Mas mesmo assim vivo contente. Não tenho raiva da família, dos filhos, tenho três bem de vida, mas não liga para mim, quando os fui procurar deu-me as costas. Sai envergonhado, não os procuro mais de jeito nenhum, vou me virando como posso. Agora digo, ao Senhor, não aceito arrependimento depois de ninguém. Não venha a chorar quando eu morrer. Deixe que a casa de caridade enterre os seus indigentes. Não quero que se lembre de mim, o tempo apaga a lembranças. Se tiver algum retrato na casa que fui dono um dia, quebre o vidro e rasgue o retrato para não incomodar. Este é um desabafo natural de quem precisa e não tem algum familiar. Vou seguindo o meu destino. Se adoecer tem os hospitais públicos, mesmo ruins é pra lá que vou e não quero que avise a ninguém onde estou. Quero morrer sossegado. Tem uma musica de Nelson Gonçalves, grande cantor e o meu preferido, ainda hoje, mesmo nesta vida, que diz – Quem quiser fazer alguma coisa comigo que faça agora. Desculpe este desabafo de um homem solitário Vou seguindo, caminhando em busca de mais alguma coisa, para o nosso Natal no abrigo. Vai ser um Natal alegre, pois todos estão empenhados em realizar, pelo menos num dia a Alegria que já fora há muito tempo. Feliz Natal paras toda família. Saiu como um homem sertanejo carregando no ombro uma trouxa pendurada em uma pequena vara. Este é o papai Noel que devemos receber. Um Papai Noel que necessita de amor, carinho, solidariedade, pois os ajuda melhorar o seu bem estar. Mas a sociedade fecha os olhos para estas pessoas. Não considera um ser humano. É uma pessoa descartável que vive a margem da estrada, nas marquises, nos bancos das praças, nas palafitas que arrodeia os grandes conglomerados de edifícios de luxo. A rua é o seu lar. É o abrigo que tem para intempéries da vida é o seu refugio. Nada mais, nada menos do que isto é apresentada a sociedade.

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