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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Não me chame de brega que não sou de briga




Por Carlos Sena (*)

"Carne e unha, alma gêmea, bate coração"... Essa música tocava no meu caro e, para minha surpresa, uma amiga que tava de carona se insurge e diz fazendo beicinho: você gosta de brega? Aff!  E tu, MULÉ, com tua cara brega não gosta? (respondi). Pois eu gosto, retruquei aumentando o volume e acrescentei que Fábio Jr, na minha opinião nem é tão brega assim. Porque eu gosto mesmo é do Reginaldo - daquele que dizem ser família do Padre Marcelo. Misturei tudo de propósito, porque brega é a pior tradução para quem gosta de dividir gosto musical nessa forma tão perversa. Música é gosto que pode ser bom ou mau. Mesmo um mal gosto musical não credencia outrem a se colocar em posição de superioridade nesse quesito. Porque música, diferente de perfume  "TOCA". E ela, a música pode nos tocar, inclusive quando a gente se encontra à flor da pele com as nossas emoções. Música, mal ou bem comparada, é feito fome. Há dias que eu tenho fome de, por exemplo, hot-dog. Há outros dias que tenho fome de feijão com arroz e bife, ou mesmo fome de um casulè ou de uma torta alemã. De uma tripa assada, por que não dizer?

Certo dia me acordei com "Ne me qui te pás" na cabeça e fiquei o dia todo com essa canção francesa no quengo. Mas, noutros dias (e foram tantos) eu só cantava boleros de Valdick Soriano alternando com o Reiginaldo Rossi. Lino Julião! Adoro. Como, vez por outra os Cantos Gregorianos me encantam no contracanto da sala embalando minhalma católica.

Minha amiga desceu do carro e eu fiquei pensando: ela se surpreendeu comigo e eu com ela. Ela porque pelo visto ela achava que não tinha cara de quem gostasse de "brega" e eu porque pelo não visto tinha certeza que ela não só tinha cara, mas alma de brega. Como se vê "macaco não olha pro rabo", a despeito de ter certeza de que brega em seu sentido pejorativo é um tremendo provincianismo cultural. Porque nada do que se pode sentir com legitimidade pode ser locado como BREGA. Brega é briga. É lombriga. É certo tipo de embriagues que leva a se confundir gosto com agonia. O melhor dessa minha história é que a caroneira que me chamou de brega nesse quesito dá de dez em mim... Mas ela não assume. Porque pensem num caba que levou a vida toda se assumindo com suas verdades! Pensaram? Esse caba sou eu! Ainda hoje pago o preço mas seguirei assim: sendo brega, se esse for o entendimento. Sendo CHIC se esse for o sentimento. Imaginem se  minha amiga me visse cantando um pupurri de Adilson Ramos, emendando com outros de Noite Ilustrada, Ataulfo Alves, Roberto e tantos outros. Ela ia estourar pelas costas feito cigarra. Cigarra? Essa, então, não seria brega? "Porque a formiga é a melhor amiga da cigarra"... Então me lembro da eterna Simone e seus lindos hits de SUELI Costa. Fazer o quê? Deus me deu a fonte pra beber: foi no rio Papacacinha. Poderia ter sido no Piracicaba. Nunca seria num Avião, ou numa Asa sua, nem num Calypso. Que sorte minha!

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/10/2013

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