Em manutenção!!!

quarta-feira, 20 de julho de 2016

O equilíbrio de Temer e a Papuda S.A.




Por Zezinho de Caetés

Já entramos num clima olímpico. Pelo menos nos meios sociais e de comunicação. Basta chegar perto para sentirmos o cheiro dos pódios com as reluzentes medalhas. Mas, a política não para. E antes que os jogos no Rio terminem esperamos ver terminados os mandados de Eduardo Cunha e da ex-presidenta renitenta.

É nesse clima de “Esperando Godot” no teatro do absurdo do nosso cenário político que tudo se passa. Como alguém hoje ainda pode pensar na volta de Dilma ao Planalto, a não ser para ir ao dentista? Quem ainda poderia esperar a não cassação do mandato de Eduardo Cunha? Pois tem gente que espera e até agradeceria a Deus por isso.

E observando a maciez do Temer, alguns chegam a pensar que ele acredita nisto. Ledo engano, como escreve hoje no O Globo o Elio Gaspari num texto que ele chama de “Michel Temer equilibrou-se”,  abaixo reproduzido, onde chama a atenção de quão importante é a experiência para não “meter os pés pelas mãos” na Política.

O que penso é que o Temer está equilibrado demais. Mesmo que suas experiências com a sua turma no Congresso exija calma e serenidade, em alguns casos ele precisa bater na mesa com mais força. Por exemplo, este negócio de está dizendo que não se importa se a Dilma quiser lhe fazer sombra nas Olimpíadas não tem nada a ver. Tem que se apresentar como o nosso único presidente, de fato e de direito. Deixa a Dilma falar às suas plateias amestradas e toca o barco.

Tem que levar a bela e recatada Marcela para o Maracanã e verificar se é verdade que o carioca, como dizia o Nelson Rodrigues, vaia até minuto de silêncio. É preciso provar que carioca também não vaia mulher bonita. E deixar a Dilma, se quiser ir, se misturar com o pessoal da “geral” (quando fui ao Maracanã pela última vez ainda tinha isto), camuflada para evitar as vaiais.

Não concordo com tudo que o Gaspari escreve abaixo, mas, é um excelente texto de incentivo para o Temer criar coragem e cumprir sua missão. Por exemplo, não concordo quando fala da “privataria”, se ele quer dizer privatização com este termo. Talvez o que ele quis dizer é para evitar a safadeza, como já houve, com as privatizações do passado, e aí eu concordaria.

No demais, tem mesmo é que privatizar o que deve ser privatizado como louvar o que deve ser louvado. Tem que privatizar até as cadeias, porque, se a Lava Jato continuar no ritmo o setor público não dará conta de construir tantos presídios. E se for preciso a entrada de capital estrangeiro e experiência no setor, que venham os americanos que lucram os tubos e com eficiência na produção e administração de presídios.

Quem sabe, o Brasil futuro não seja melhor, se tivermos muitos dos políticos e demais colarinhos brancos atuais na Papuda S. A.? Por enquanto, apesar de mil outros exemplos de privatizações me virem à cabeça, deixo-os com o Gaspari, enquanto eu vou cuidar de outras coisas, até chegar o dia do impeachment.

“Antes mesmo de completar cem dias, Michel Temer conseguiu dar estabilidade ao seu governo. Começou da pior maneira possível, com um ministério pífio e contaminado, cercado de suspeitas e de ligações inconvenientes. A mágica tem um nome: calma, sangue-frio ou mesmo serenidade.

Temer chegou ao Planalto com duas décadas de vida parlamentar, uma experiência que faltou a Dilma Rousseff. Essa parece ser uma característica trivial, mas o bom parlamentar ouve, contém as emoções e, sobretudo, respeita o contraditório, mesmo quando ele carrega tolices a serviço da desonestidade. Temer não move os músculos do rosto, parece falar por meio de um sintetizador calibrado para um só tom e, apesar de gesticular com alguma teatralidade, é suave até quando bate com a mão na mesa. Convivendo com a rotina do Congresso e longos discursos inúteis, o bom parlamentar não tem pressa.

Por não ter pressa, Temer deixou que Eduardo Cunha fosse frito na própria gordura. Talvez não devesse tê-lo recebido no Jaburu, mas daqui a mais um mês ninguém se lembrará disso. A estabilidade trazida pela mágica da calma foi ajudada pela esperança que a blindagem de Henrique Meirelles levou para o Ministério da Fazenda. Por enquanto, na panela da ekipekonômica há muito pirão e pouca carne. Felizmente, o mercado compra esperança, e o novo governo mostrou que, com o afastamento dos pedalantes, pior a coisa não fica (isso admitindo-se que será interrompida a ocupação de alguns corredores do governo pela mais vulgar das privatarias).

Como calma, serenidade e experiência parlamentar não bastam, José Sarney fez um governo ruinoso. Abençoado pelas mesma virtudes, Itamar Franco queimou três ministros da Fazenda em seis meses e ia pelo mesmo caminho até que foi salvo pelo gongo ao terceirizar a gestão, entregando-a a Fernando Henrique Cardoso. Em 1993, FHC entrou numa sala onde havia um tigre, a inflação. Matando-o, conseguiu enfrentar as jaguatiricas, os lobos-guarás e as cascavéis da desordem econômica. Meirelles entrou numa sala onde não há o tigre, mas os bichos menores mandam no pedaço. Na ponta do lápis, calculando-se gastos e economias, é um ministro gastador que promete os rios de mel da austeridade.

Com calma e experiência parlamentar, Temer equilibrou o barco, mas é improvável que venha a aprovar as reformas que vagamente promete. A da Previdência, nem FHC conseguiu da maneira como queria. Vale lembrar que ele se elegeu em 1994 prometendo essa reforma e, portanto, tinha mandato popular para fazê-la. Na narrativa entristecida de FHC, Temer ajudou a aprovar o que era possível.

Temer também teve sorte. O PT ainda não acordou da pancada do início do processo de impedimento, e Dilma Rousseff percorre plateias amigas cada vez menores, com falas cada vez mais desconexas. Na última, comparou o seu infortúnio aos acontecimentos da Turquia. A voz das ruas pedindo seu retorno mostrou-se um sonho. Num toque inesquecível, artistas e intelectuais prometem dois grandes espetáculos, um no Rio. O outro, se possível, em Nova York.


Em clima de Jogos Olímpicos, o melhor que se pode fazer é torcer. Com uma vantagem: o Brasil não tem (ainda) um Donald Trump.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário