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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Trump impõe regras do jogo e reação do Irã é cautelosa




“Trump impõe regras do jogo e reação do Irã é cautelosa

Por Guga Chacra

Donald Trump sai fortalecido da crise com Irã ao menos no curto e médio prazo. Talvez o suficiente para chegar com tranquilidade às eleições presidenciais em novembro sem um conflito armado no Oriente Médio. O presidente conseguiu impor as regras do jogo, deixando o regime iraniano mais cauteloso em relação aos interesses americanos na região. A reação ao ataque que matou Qassem Soleimani, maior comandante militar do Irã, buscou ao máximo evitar baixas americanas, deixando claro o temor iraniano de provocar o líder dos Estados Unidos.

Quando tomou a ousada decisão de assassinar Soleimani, a avaliação era de que a resposta iraniana definiria se Trump sairia como vencedor ou perdedor do episódio. Não em relação ao Irã, mas para a sua imagem dentro dos EUA. Eleito com um discurso isolacionista e crítico de aventuras militares fracassadas de seus antecessores no Afeganistão, Iraque e Líbia, o presidente corria o risco de envolver os americanos em uma nova guerra, contra o regime de Teerã. Neste caso, seria perdedor. Se a retaliação iraniana fosse amena e convencional, sairia como vitorioso. Foi o que ocorreu.

Os iranianos agiram de maneira racional e dentro da expectativa. Levaram em conta a imprevisibilidade de Trump. Realizaram um ataque convencional, de escala pequena, contra um alvo óbvio, dentro do teatro de operações onde ocorria a recente escalada de tensão, no Iraque. Sabiam, ou ao menos temiam, que o presidente americano poderia ordenar fortes bombardeios contra a infraestrutura de petróleo do país.

No curto e médio prazo, o Irã deve evitar provocações diretas aos EUA. Entendeu que, pelas novas regras do jogo, pode combater aliados americanos na região, como é acusado de ter feito no ataque contra refinarias da Arábia Saudita – os houthis, aliados iranianos, reivindicam a ação, mas serviços de inteligência da região atribuem ao regime de Teerã. O limite, porém, são os americanos. A morte de um cidadão americano foi respondida com uma série de bombardeios a uma milícia xiita. A invasão do complexo onde está a embaixada americana, com a eliminação da segunda figura mais poderosa do Irã.

Sem dúvida, em termos geopolíticos estratégicos, no longo prazo, pode haver alguns efeitos negativos para os interesses americanos. A permanência das tropas dos EUA no Iraque está em xeque após voto simbólico no Parlamento em Bagdá pedindo a remoção delas. Sem estas forças, a tendência será um aumento ainda maior da influência iraniana em Bagdá. Há ainda o risco de um renascimento do grupo Estado Islâmico.

Para um presidente isolacionista, estes efeitos colaterais não serão um problema grave. Poderá falar para a sua base eleitoral que a "América está em primeiro lugar" e defenderá os interesses americanos quando for necessário, como ficou claro na ação contra Soleimani e, antes dele, de Al Baghdadi, líder do grupo Estado Islâmico. Sem a necessidade de enviar centenas de jovens americanos para uma ocupação, como fazia George W. Bush. Um isolacionismo com firmeza.

O resultado final desta crise, caso não haja mais volatilidade, também abre espaço para o regime iraniano vender como vitória internamente, embora este não tenha sido caso. Pode dizer que bombardeou as forças dos EUA, o que é fato, e assim teria se vingado da morte de Suleimani. Também está próximo de atingir o objetivo do comandante militar, mesmo depois de sua morte, de conseguir forçar a retirada americana do Iraque. Por outro lado, a economia do país segue em ruínas e não há a menor possibilidade de eliminação das sanções ao menos ao longo deste ano.

O mundo agora também entende as regras do jogo entre os EUA e o Irã, que devem seguir mais ou menos os termos das do Hezbollah e Israel. O grupo xiita libanês realiza suas atividades e busca exercer a sua influência, mas sempre tomando o cuidado de não bater de frente com os israelenses porque sabe que sofrerá uma dura pancada. Israel não se importa se o Hezbollah luta contra o Grupo Estado Estado Islâmico ou jihadistas da oposição síria para defender o regime de Bashar al-Assad, além de integrar uma coalizão política com cristãos no Líbano. Mas a organização, considerada terrorista por muitos países do mundo, sabe que não pode sonhar em atingir Haifa ou Tel Aviv.

Com Teerã e Washington, será igual. Graças a Trump, goste dele ou não. Tenho enormes críticas ao presidente. Neste caso, ele acertou.”

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