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terça-feira, 6 de agosto de 2019

O novo normal da Selic





“O novo normal da Selic
      
Por Zeina Latif

Inflação acima da meta e taxa de juros básica de dois dígitos ficaram para trás. O Brasil, aos poucos, supera esse obstáculo ao crescimento. Pena que tardiamente – os países vizinhos da costa do Pacífico há muito operam com juros baixos – e já no fim do bônus demográfico. Este exigirá maior esforço para o País crescer, pois o crescimento da população idosa, fora do mercado de trabalho, já supera o populacional.

O valor que a sociedade atribui à inflação baixa é exemplo de avanço institucional no País, no sentido mais amplo utilizado por Douglass North. A aprovação da reforma da Previdência pode ser vista como reflexo desse amadurecimento. A classe política – destacadamente o “Centrão” – compreendeu a ligação entre desequilíbrios fiscais e inflação. Não convém colocar toda a culpa do atraso nos políticos. Muitos centros acadêmicos pregam que a inflação mais elevada não é um problema e que os juros altos decorrem de incompetência e interesses escusos do Banco Central, enquanto desconsideram a importância da disciplina fiscal.

A inflação está praticamente estável, oscilando conforme a ocorrência de choques, benignos ou adversos; neste último caso, com efeito menos persistente em comparação ao passado. Exemplos disso foram a rápida superação da alta da inflação causada pela greve dos caminhoneiros e os choques de energia e alimentos no início deste ano. Trata-se de um sinal muito favorável.

Não foi sempre assim. No governo Dilma, pressões transitórias, como na inflação de alimentos, acabavam contaminando outros itens da cesta de consumo, como serviços. Os choques adversos tinham impacto expressivo e duradouro. O que mudou desde então foi o avanço da agenda fiscal aliada aos ganhos de credibilidade do BC.

Isso não significa que a inflação nunca mais subirá ou gerará necessidade de juros mais elevados adiante. Afinal, o desafio fiscal dos próximos anos é grande e a tendência é de redução da ociosidade de fatores (máquinas, infraestrutura e mão de obra) na economia. Mas vale celebrar a retomada da agenda de ajuste fiscal e as consequências benignas sobre a inflação.

Esse quadro vem permitindo a inflação doméstica se beneficiar da inflação mundial mais baixa. Com a política econômica equivocada do passado, isso não era possível.

As taxas de inflação ao redor do mundo seguem ciclos parecidos, ainda que com diferentes patamares, refletindo a própria sincronia dos ciclos econômicos. O Brasil passou anos descolado desses ciclos e com a pior combinação possível: economia fraca e inflação elevada. Surfar a onda mundial não é para todos. Precisa haver acertos internos.

A inflação mundial caiu, inclusive nos países emergentes. Nota-se empiricamente, nesta década, uma menor sensibilidade ao desemprego em queda, que poderia ser fonte de inflação. Além do papel da tecnologia e da globalização, que elevam a competição na economia, é importante considerar a desaceleração do comércio mundial, que reduz a pressão sobre preços de commodities e insumos.

Nesse contexto, abriu-se espaço para nova queda de juros pelo BC, especialmente com o menor risco de uma reforma da Previdência muito tímida, ainda que a exclusão de Estados e municípios preocupe bastante e outras medidas de ajuste fiscal sejam necessárias nos próximos anos para permitir o cumprimento da regra do teto (os gastos públicos não podem aumentar além da inflação).

A dosagem de corte de 0,5 ponto porcentual, levando a taxa Selic para 6% ao ano, e não um 0,25 ponto porcentual, mais cauteloso, sugere um BC confiante em sua estratégia ou talvez enxergando uma janela de oportunidade para reduzir os juros em meio a incertezas futuras.

Pode haver divergências quanto ao espaço para cortes da Selic. De qualquer forma, juros mais baixos de forma consistente podem ajudar no avanço de reformas que estimulem o investimento e ganhos de produtividade.

Precisamos pavimentar o caminho do crescimento, pois este não virá apenas pelos juros baixos.”

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