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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

MAROCA XEREM!





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

A chuva fina cobria a cidade de Santo Inácio. Dona Maroca, morava numa casinha no final da Rua Leão Coroado. Acordava com o galo a cantar na madrugada indo diretamente para o fogão pregado na parede a lenha. Duas bocas já fumegavam quando ela colocava duas panelas grandes para cozinhar o xerem feito em casa pisado no pilão no terraço. Ela aprontava seu café por volta das quatro horas da manhã, pão dormido e bolacha seca. Ia se arrumar no pequeno quarto onde somente cabia a cama de solteira. Ela nunca teve homem, alguns se aventuraram a namora-la mais ela era desconfiada, pois tinha desde criança tinha fobia a agressão, pois seu pai gritava e dava bofetões em sua mãe que corria para o quarto a lamentar-se do ocorrido. Ela pequena via tudo calada encostada na parede, somente ouvindo o choro e soluços de sua mãe. Isto veio trazer durante toda a sua vida cisma dos homens. Quando se tornou moça saiu de casa e foi morar num cidade maior, longe da família, pois não aguentava mais aquele sofrimento. O tempo passa e ela começou vender xerem na Praça Galdino Filho, de madrugada aos fregueses que iam trabalhar e aos motoristas de ônibus. A mesa improvisada forrada com uma tolha vermelha para chamar a atenção das pessoas, junto com duas panelas em cima de um fogareiro que esquentava o xerem mexido com uma pá de madeira comprada no armazém de seu Caetano. Não estudou, mas aprendeu com sua mãe a cozinhar. Gostava da cozinha e com isso era solicitada por várias pessoas principalmente para as festas. Voltou depois de algum tempo para a sua cidade, pois cidade grande não lhe dava conforto era uma luta de sacrifício e o dinheiro não lhe dava lucro. Voltou foi bem recebida, apertos de mão, tapinhas nas costas e abraços Foi morar sozinha, seus pais ainda viviam juntos apesar das agressões que ela, sua mãe, sofria. Começou a fazer doces em calda, de goiaba, banana, caju, e o xerem que era vendido na Pracinha do Coreto, ali ela se instalou e começou a colocar o xerem em pequenos cubos que eram comprados pelo povo. E assim foi se tornando dona de si, começou a ajudar seus pais na feira da semana. Moça bonita, todo mundo dizia, olhos claros, cabelos encaracolados, morena sapoti, sorriso largo e vestimenta de uma saia azul e uma blusa branca, começou a ter pretendentes. Ela que odiava homens, sem engraçou por Alcebíades, um belo rapaz da redondeza, trabalhando no Correios. O namoro começou bem, sempre toda tarde estava ele esperando que Maroca dessa a hora para recolher os materiais para sua casa. O namoro foi adiante. Iam todos os domingos para a Santa Missa, o Padre Afrânio, admirava aquele casal e o trabalho dela na luta pela sobrevivência. Noivaram e com três meses depois, estavam em frente ao altar da Matriz de São Sebastião, se casando. Os pais compareceram juntos com alguns amigos e logo depois foram morar numa casa confortável, era visível alegria no casal, era bem visto pela sociedade e sempre estavam sendo convidados para aniversários. Maroca, mesmo casada e bem de vida, não deixou de colocar a sua mesa na Pracinha do Correto. Atendia os fregueses sempre com a melhor atenção e muitos diziam – Marroquinha deixa este serviço, já não precisas – ela, sorria e agradecia o conselho. Passaram-se dois anos na maior felicidade, nasceu Margarida uma bonita menina gordinha. Alcibíades continua a entregar cartas e telegramas, mas de repente apareceu doente. Foi o médico Dr. Olavo fez exames e foi declarado com problema pulmonar. Tomou remedido caseiro, mas não adiantava cada dia à tosse aumentava, a palidez e o emagrecimento estampavam no seu corpo, não tinha mais força para caminhar, e assim foi à morte. Maroca ficou enlouquecida, chorava e era consolada pelas senhoras, mas ela não cedia. O tempo passa e ela continuou a vender o seu xerem todos os dias e o apurado junto com a pensão do falecido deu para custear os estudos da filha, que se tornou medica. Maroca continuou com a sua venda de xerem que era procurado por todos.  

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